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Chuvas fortes espantam clientes e fazem restaurantes jogarem comida fora em SP

Temporais dos últimos dias provocaram falta de energia e queda de árvores, que causam prejuízos aos estabelecimentos

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São Paulo

A chuva veio no jantar. Em poucos minutos, o grande volume de água alagou a calçada do Badauê, restaurante de frutos do mar numa esquina dos Jardins. Os clientes que estavam lá dentro ficaram ilhados, e os que queriam visitar o local desistiram.

Funcionários com rodos nas mãos tentavam impedir que a água entrasse no salão, quando carros que passavam na rua formavam ondas. A cena ocorreu na quarta-feira, 10, durante mais um temporal que tem assolado São Paulo nas últimas semanas, causando alagamentos, quedas de árvore e de energia.

Alagamento na entrada do restaurante Badauê, nos Jardins
Alagamento na entrada do restaurante Badauê, nos Jardins - Nathalia Durval/Folhapress

A previsão é de mais chuva nos próximos dias e casos do tipo devem se repetir. Na mesma noite, no baixo Pinheiros, a chuva fez com que o restaurante Filó ficasse sem luz. Clientes desavisados que foram ao endereço davam de cara com as portas fechadas. As reservas foram canceladas e a cozinha não abriu para o jantar.

A energia acabou por volta das 18h e não voltou antes das 23h. "Isso está acontecendo bastante em Pinheiros. Qualquer tempestade que dá, transformadores explodem no bairro inteiro. Todo dia que chove, uma rua diferente fica sem energia", diz Tomer Gelberg, sócio do Filó.

Fachada do restaurante Filó, em Pinheiros
Fachada do restaurante Filó, em Pinheiros - Divulgação

Para os restaurantes, o principal impacto causado pelas chuvas é a perda de clientes, sobretudo nos dias de semana, quando o movimento costuma ser menor. "Qualquer noite que a gente deixa de vender já traz um impacto. Ao mesmo tempo, perdemos as pessoas dispostas a sair de casa, porque está uma chuva forte", afirma Gelberg.

A chef Olívia Maita teve de encerrar mais cedo o atendimento de sua padaria e pizzaria Oli, no Itaim Bibi, quando a energia caiu na última terça-feira, por volta das 17h. A luz só voltou na manhã seguinte.

A casa é especializada em pães de longa fermentação natural, processo que foi afetado pelo período sem energia. A geladeira parou de funcionar e a temperatura dentro do equipamento subiu, o que fez com que a fermentação dos pães se desregulasse. Os produtos precisaram ser assados antes do previsto, para não estragar.

"Dessa vez não perdi nada, mas se tivesse passado mais tempo, talvez tivesse que jogar fora. Acaba sendo um prejuízo gigante se ficamos 24 horas sem energia", diz Maita. Em dezembro, a padaria ficou uma semana sem luz. Maita teve que cancelar reservas de 60 pessoas e, para manter as portas abertas, alugou um gerador.

Salão da padaria e pizzaria Oli, no Itaim Bibi
Salão da padaria e pizzaria Oli, no Itaim Bibi - Divulgação

O equipamento tem sido a solução para muitos donos de estabelecimentos. A locação de um aparelho pode custar em média R$ 1.200 a R$ 1.800 por dia, mesmo que ele não seja utilizado. Comprar um novo pode chegar a R$ 80.000.

Geradores não são tão comuns em restaurantes de rua, sendo mais utilizado por estabelecimentos dentro de shoppings, até pelos custos altos.

"Muitas vezes não compensa alugar, ainda mais no início de ano, quando o faturamento é mais baixo", diz Maita. Ela tentou locar um aparelho na terça, mas não conseguiu devido à alta demanda. Na quarta, alugou um até domingo, para se prevenir contra outras quedas de energia. "Estou tendo um custo totalmente inesperado. O meu lucro é para pagar o gerador. Porque se chove, cai a energia."

Proprietária do Nica Café, Carla Lima decidiu investir em um gerador após ter prejuízos frequentes causados pela queda de energia em dias de chuva no bairro de Cerqueira César.

Em setembro, o restaurante, que funciona com menu all-day, passou por maus bocados. A energia caiu numa tarde de sábado e só voltou de madrugada. Lima não conseguia nem mesmo fechar o estabelecimento, que tem porta eletrônica.

Ambiente do Nica Café, nos Jardins
Salão do Nica Café, no bairro Cerqueira César - Mario Rodrigues Júnior/Divulgação

Dez dias depois, outra queda de energia queimou quase todos os equipamentos eletrônicos, como geladeiras, ar-condicionado e câmeras. Além disso, alimentos como frios, salmão, atum, filé, requeijão, iogurte e sorvetes estragaram e foram jogados fora.

"Esse é um problema muito grave que tem atingido a todos, e quem trabalha com alimentação perde muito estoque", afirma Lima.

Ela diz que entrou em contato com a Enel para pedir ressarcimento dos danos. "Eles requerem tantos documentos e laudos que fica impossível obter o ressarcimento." Outros empresários relatam problemas semelhantes com a concessionária responsável pelo abastecimento de energia elétrica em São Paulo. "Você liga e eles não dão um suporte, não dão previsão de volta", diz Olivia Maita, da Oli.

A companhia afirmou que reforçou nesta semana as equipes que atuam para reestabelecer o fornecimento de luz. "Fortes chuvas acompanhadas de ventos atingiram parte da área de concessão em dias consecutivos. Em diversos pontos, as quedas de árvores danificaram trechos inteiros de rede elétrica e o trabalho de reconstrução, em cada uma dessas ocorrências, é complexo, pois envolve a substituição de cabos e postes", diz em nota.

Aberto há cinco meses na Vila Mariana, o restaurante taiwanês Aiô também tem sofrido com os temporais. Por causa deles, passou a operar com espaço reduzido nesta semana e, para evitar filas, tem priorizado os clientes que fazem reservas.

Há muitos outros casos de estabelecimentos gastronômicos, e não só eles, que acumulam prejuízos com as chuvas em São Paulo. "Essa é uma preocupação que a gente não deveria ter", diz Gelberg Tomer, do Filó.

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