Descrição de chapéu Censo 2022 indígenas

Indígenas negavam identidade para não morrer, diz ministra

Sonia Guajajara vê avanço da autodeclaração como possível motivo por trás do aumento dessa população no Censo

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Rio de Janeiro

A ministra Sonia Guajajara (Povos Indígenas) afirmou nesta segunda-feira (7) que indígenas negavam sua identidade no passado por medo de serem mortos no Brasil.

A declaração ocorreu quando a ministra falava sobre o aumento dessa população no Censo Demográfico 2022. Segundo Guajajara, o princípio da autodeclaração teria avançado entre os indígenas nos últimos anos, explicando parte do crescimento apontado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

"Não se assumia o que era porque tinha medo de morrer. Tinha ordem para matar indígena. Por um período muito difícil, povos indígenas, muitos no Nordeste brasileiro, negavam sua identidade para não morrer", afirmou a ministra.

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Ministra Sonia Guajajara aguarda sessão do STF sobre marco temporal em junho - Pedro Ladeira - 7.jun.2023/Folhapress

O novo recorte do Censo 2022, divulgado nesta segunda pelo IBGE, contabilizou quase 1,7 milhão de indígenas no país. O número é 88,8% maior do que o verificado no recenseamento anterior, em 2010.

"Foi muito surpreendente [o resultado]. Pode ser porque antes não se contava diretamente ou pode ser que, assim como foi durante toda a nossa história, povos indígenas negavam sua própria identidade com medo da violência", disse Guajajara.

As declarações ocorreram durante a cerimônia de lançamento dos dados. O evento ocorreu em Belém.

As ministras Simone Tebet (Planejamento) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) também participaram do encontro, assim como o prefeito da capital paraense, Edmilson Rodrigues (PSOL), o presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, e representantes indígenas.

O cacique Raoni Metuktire, presente no palco da cerimônia, cobrou das autoridades união em defesa da floresta e dos recursos ambientais.

Para Guajajara, as informações do Censo 2022 podem servir como base para políticas públicas. De acordo com a ministra, o levantamento mostra o recorte real do Brasil indígena, já que o IBGE conseguiu acessar áreas mais remotas desta vez.

"São dados que vão propiciar formas de combater a violência que continua assolando os povos indígenas dentro dos territórios e no entorno dos seus territórios", disse.

Ao tocar nesse ponto, Guajajara afirmou que mais duas pessoas indígenas foram baleadas na manhã desta segunda na região do município paraense de Tomé-Açu (a cerca de 200 km de Belém). Outro indígena havia sido baleado na região na sexta (4).

Ao divulgar os dados do Censo 2022, o IBGE ponderou que os números não são totalmente comparáveis com a versão de 2010, já que houve mudança na aplicação dos questionários com o objetivo de ampliar a coleta.

Especialistas também enxergam reflexos de ações afirmativas que teriam estimulado a autodeclaração dos indígenas.

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