SP anuncia reabertura de parques e especialistas apontam para riscos

Setenta espaços, inclusive Ibirapuera, voltam a funcionar na segunda, diz gestão Covas

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São Paulo

São Paulo vai reabrir 70 de seus 108 parques a partir da próxima segunda-feira (13), inclusive seus dois maiores, o Parque do Carmo e o Ibirapuera, recentemente privatizado.

"Apenas 40% da capacidade, teremos controle na entrada, é obrigatória a utilização de máscaras, os bebedouros estarão fechados por orientação da vigilância sanitária", afirmou nesta quinta-feira (9) o prefeito Bruno Covas (PSDB).

Mesmo com recomendação de quarentena e isolamento, praça ms em São Paulo continuam sendo frequentadas. Na foto uma área gramada aberta do parque do Ibirapuera, entre a Avenida Pedro Alvares Cabral e o lago do parque.
Em abril, a Folha registrou pessoas frequentando o parque do Ibirapuera, em meio a quarentena e mesmo com recomendação contrária - Bruno Santos - 10.ar,2020/Folhapress

Carmo e Ibirapuera abrirão das 6h às 16h de segunda a sexta, enquanto os demais parques poderão funcionar entre 10h e 16h.

Não serão permitidas atividades em grupos —parquinhos infantis e espaços de prática de esporte coletivo continuarão fechados.

De acordo com o prefeito, o decreto com todas as regras para funcionamento dos espaços será publicado nesta sexta-feira (10).

"Também amanhã [sexta] deveremos assinar o protocolo com o setor de academia e do audiovisual. Estamos ainda fechando esses dois protocolos. Até amanhã teremos a minuta final com todas as regras que deverão observar para que os dois setores possam voltar a funcionar a partir de segunda-feira, 13 de julho, na cidade de São Paulo", completou Covas.

O prefeito ainda explicou que a decisão de reabrir os parques não engloba avenidas como a Paulista ou o Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, vias automotivas que aos domingos ficam abertas para pedestres.

“Quando os parques forem reabertos aos finais de semana, vamos retomar as atividades da Paulista e do Parque Minhocão [para pedestres]”, disse.

Os parques estão fechados desde 21 de março por determinação da prefeitura para tentar frear a disseminação do novo coronavírus. Antes, a cidade já reabriu, seu comércio de rua, seus shoppings, seus salões de beleza, seus restaurantes e bares, seus clubes sociais e se prepara para reabrir academias e cinemas.

Para o arquiteto e sócio da Natureza Urbana (escritório de arquitetura e urbanismo), Pedro Lira, "a gente pode abordar essa questão em dois momentos. Olhando de forma ampla, é menos arriscado abrir um parque que um shopping. Depois, poderia colocar em discussão se de fato teria que reabrir algo agora”.

Francisco Eduardo Bodião, membro do Forum Verde (associação que reúne ativistas e pessoas ligadas à questão ambiental em São Paulo), defende que é muito cedo para se reabrir os parques, embora a situação nesses espaços seja menos complicada que a dos shoppings.

"A gente é muito firme na posição que temos adotado: nem shopping, nem parque [deveriam funcionar]. Parece uma contradição você abrir um shopping, um espaço de consumo, mas em São Paulo, os parques nos últimos anos já não tinham condição de receber pessoas. Às vezes o shoping tem melhor estrutura de controle [das pessoas] que os parques", explica.

O Forum Verde criou um abaixo assinado alertando para a “responsabilidade civil e humanitária de todos” e defendendo que a reabertura é precipitada.

Bodião afirma que, para definir os protocolos para funcionamento dos parques, a prefeitura não chamou para debater entidades da sociedade civil, que tanto usam os espaços, mas também fazem parte, muitas vezes, de sua administração, por meio de conselhos, por exemplo.

Lira chama a atenção para o fato de que cada parque tem suas peculiaridades e especificidades na dificuldade de se manter o controle das pessoas. O Ibirapuera, por exemplo, é grande, mas muito frequentado, enquanto existem parques pequenos, mas pouco visitados. O próprio terreno pode criar espaços de maior concentração de pessoas se tiver poucas áreas planas.

Outra dificuldade será manter o distanciamento mínimo entre as pessoas.

“Tiveram parques em outros lugares que marcaram a grama com spray, você ocupa o seu quadrado no gramado. Se estiver lotado, você não pode [ficar no gramado]. É quase trabalhar um parque na visão de restaurante”, explica.

Bodião acrescenta ainda que o problema pode se agravar uma vez que os parques sofrem com falta de funcionários para manutenção e controle.

"Os parques tem um déficit muito grande de funcionários. Na medida que o fluxo de usuários começa a crescer, o controle desse acesso, do uso do espaço fisico dos parques, vai ficar difícil", diz. Ele acrescenta que os trabalhadores precisam ser treinados para atuar nessa situação específica.

Lira chama ainda a atenção para os lugares de circulação, como pistas, por exemplo, uma vez que pessoas caminham e andam em diferentes velocidades. É como se todos os carros de uma estrada tivessem que andar na mesma velocidade sempre, diz.

“Eu diria primeiro os espaços fechados, banheiros e outros similares [são pontos de maior risco]. Os caminhos são mais difíceis de delimitar, porque as pessoas têm velocidades diferentes, correndo e andando, é onde se cruzam mais, nas circulações. Quando você para e senta, você consegue [respeitar o protocolo]”, afirma.

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