Leila Pereira atropela velhas lideranças e é eleita presidente do Palmeiras

Patrocinadora não teve concorrentes no pleito deste sábado (20) e será 1ª mulher no cargo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Leila Mejdalani Pereira, 57, avisou pelas redes sociais que neste sábado (20) haveria distribuição de pipoca, picolé e algodão doce, além de sessões de massagem e brinquedos em um espaço infantil na sede do Palmeiras. Tudo gratuito. A presidente da Crefisa, principal patrocinadora do time, almejava o voto dos conselheiros.

Candidata única, a empresária foi eleita no fim da tarde para ser a presidente alviverde pelos próximos três anos. Ela dará início à sua gestão a partir de 15 de dezembro. Como não havia chapa de oposição, precisava apenas obter mais de 50% dos votos da Assembleia-Geral para ser ratificada no cargo. Dos 2.141 votantes, Leila foi escolhida por 1.897 —244 votaram em branco.

A primeira mulher mandatária em 107 anos do clube terá outras duas entre seus vices: Maria Tereza Ambrósio Bellangero e Neive Conceição Bulla de Andrade. Além delas, Paulo Roberto Buosi e Tarso Luiz Furtado Gouveia completam a equipe de auxiliares.

Os cinco lado a lado posam para foto fazendo V com os dedos
Leila Pereira e seus vices: Maria Tereza Ambrósio Bellangero, Neive Conceição Bulla de Andrade, Paulo Roberto Buosi e Tarso Luiz Furtado Gouveia - Fabio Menotti/Divulgação

Entre os rivais paulistas, somente o Corinthians havia tido uma liderança feminina até então, com Marlene Matheus (1991 a 1993). Ela, que morreu em 2019 aos 82 anos, sucedeu o seu marido, Vicente Matheus na presidência da agremiação alvinegra.

Leila ascende ao trono em outro contexto. Natural de Cambuci (RJ), mudou-se com a família para Cabo Frio antes de completar um ano. A empresária já teve de negar ser torcedora do Vasco, time preferido dos seus familiares. Graduada em Jornalismo (passou pela TV Manchete) e Direito, diz ter se apaixonado pelo time alviverde por influência do marido, o paulista José Roberto Lamacchia.

Em 1966, ele fundou a Crefisa, empresa de crédito e financiamento. Em 2014, quando Lamacchia lutava contra um linfoma e quando o Palmeiras lutava para escapar do rebaixamento, Leila sugeriu ao marido patrocinar o time alviverde.

Em janeiro de 2015, o então presidente Paulo Nobre anunciou a chegada da financeira, que aportaria, inicialmente, R$ 23 milhões por temporada. O valor triplicou em pouco tempo.

Com o apoio da nova parceria, uma gestão equilibrada de Nobre (2013 a 2016) —que fez aportes do próprio bolso para o clube equilibrar as finanças— e a diversificação de receitas, o Palmeiras daria início a uma nova era de títulos, como nos tempos da Parmalat, na década de 1990. Contribui também a exploração comercial do Allianz Parque, inaugurado em novembro de 2014.

Em campo, a equipe conquistou os troféus da Copa do Brasil (2015) e do Brasileiro (2016). Na ocasião deste último, porém, Nobre e Leila pararam de se falar. Nem seu sucessor, Maurício Galiotte, tido como diplomata habilidoso, conseguiu evitar a ruptura.

Por mais que Galiotte tenha sido o presidente nos dois últimos mandatos (reeleito em 2018), com as conquistas do Brasileiro (2018), do Paulista, da Copa do Brasil e da Libertadores de 2020, não possui a mesma popularidade de Leila entre os torcedores.

Leila Pereira de agasalho verde do Palmeiras e máscara, fazendo o V com os dedos ao lado de um papel com o nome de sua chapa
Leila Pereira durante a votação que a confirmou na presidência do clube - Fabio Menotti/Divulgação

Ela patrocinou o desfile de Carnaval da Mancha Verde, campeã em 2019, e tem prometido deslocar as organizadas para um setor melhor do Allianz Parque, além de oferecer ingressos a preços menores.

"Nosso grande patrimônio está fora do clube. Eu vou continuar fazendo o trabalho com o associado, mas temos de olhar a multidão fora do muro, dar acesso ao nosso clube, proximidade, com possibilidade de comprar ingressos acessíveis. Eu vou trabalhar muito fortemente nisso", afirmou após a confirmação do resultado.

Em agosto deste ano, o Palmeiras anunciou renovação com as empresas da nova mandatária, Crefisa e FAM (Faculdade das Américas), por R$ 81 milhões anuais, até o final de 2024, com possibilidade de superar R$ 120 milhões com bônus por conquistas em campo. É o maior contrato de patrocínio de um time de futebol do país.

O acordo mantém o Palmeiras à frente, inclusive, do Flamengo, com o qual vive intensa disputa nos campos e fora dele. Em captação de receitas publicitárias, são R$ 127 milhões contra R$ 104 milhões do time carioca. Também é quase o dobro do que o Corinthians, com R$ 71 milhões, arrecada. Esses dados são referentes ao ano de 2020 e compõem a análise financeira do banco Itaú BBA.

Nem tudo são flores na relação Leila/Crefisa/Palmeiras. Há uma dívida dos palmeirenses de R$ 161 milhões, conforme o balanço de 2020, por causa de empréstimos feitos pela patrocinadora. O dinheiro fora usado para contratações, e a princípio a empresa recuperaria o investimento com a exploração da imagem dos reforços e vendas futuras.

No entanto, multada pela Receita Federal, a Crefisa transformou as operações em empréstimos, após uma canetada de Mauricio Galiotte. A manobra chegou a ser contestada pela oposição no Palmeiras, mas esse grupo se enfraqueceu. Uma ala defendia que o clube assumiu um problema que não era dele.

Agora, se desvencilhar dos conflitos de interesse na relação do clube com sua presidente-patrocinadora será um dos maiores desafios da nova gestão.

Além do seu poderio financeiro, Leila vislumbrou caminho livre à presidência graças ao enfraquecimento político de Mustafá Contursi e à queda de braços entre conselheiros.

Mustafá, presidente da agremiação de 1993 a 2004, não conseguiu emplacar o seu candidato, Mario Giannini. O grupo de conselheiros aliado a Nobre negou-lhe apoio.

Giannini, empresário e diretor de futebol na era Mustafá, disse, em comunicado, que desistiu do pleito após todas as tentativas de união de forças da oposição se esgotarem.

O advogado e conselheiro vitalício Savério Orlandi foi outro que ficou pelo caminho. Ele sentiu-se desprestigiado quando os opositores apostaram no nome de Giannini.

"Espero, do fundo do meu coração, que a Leila consiga sucesso. Amo este clube. Deixa [a Leila] levar a pipoca, fazer a festa, mas quero ver daqui alguns meses", diz Orlandi. "É um desafio político muito grande, e logo essa bajulação [de conselheiros e torcedores] acaba."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.