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6 em cada 10 startups de impacto na América Latina são brasileiras, diz estudo

Levantamento da Fundação Dom Cabral traçou perfil do empreendedorismo social e mostrou foco no combate às desigualdades

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São Paulo (SP)

A maior parte das startups da América Latina com foco em impacto social são brasileiras. A cada dez, seis estão no Brasil e 100% delas têm foco no ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU) número dez, que prevê a redução das desigualdades socioeconômicas.

O levantamento foi feito pela escola de negócios da Fundação Dom Cabral (FDC) que analisou, nos últimos quatro anos, dados de 2.300 empresas, distribuídas em 25 países.

O mapeamento apontou, ainda, que metade das social techs na América Latina faturam até R$ 500 mil anualmente, enquanto apenas 25% conseguem superar esse valor. A receita anual das demais fica entre R$ 10 mil e R$ 100 mil.

Organizações de impacto social atuam em diversas frentes no Brasil e têm o ODS 10 como meta - Renato Stockler/Folhapress

As organizações geralmente são pequenas: mais de 60% contam com até dez funcionários. Além disso, várias delas têm como principais clientes outras organizações de porte reduzido.

"São empresas com equipes menores, que se concentram muito na tecnologia e na resolução diferenciada e econômica de problemas", explica Fabian Salum, professor de estratégia e inovação da FDC e um dos responsáveis pela pesquisa.

Segundo o especialista, as empresas se sustentam por meio de autofinanciamento ou crowdfunding (financiamento coletivo). Elas recorrem a modelos de monetização diversos, que vão desde a geração de receita por meio de assinaturas até ecommerce.

As áreas de atuação dos negócios incluem desenvolvimento econômico de famílias vulneráveis, acesso à saúde e à alimentação, melhorias habitacionais, acolhimento de imigrantes e igualdade de gênero.

"O mais importante é que todas essas startups são comprometidas com a inovação social, ou seja, buscam melhorar a vida das pessoas e das comunidades. Esse é um ponto pouco explorado do ESG. Fala-se muito de health tech, edtech, mas quase nada sobre social techs", afirma Salum.

Método da pesquisa

A série histórica teve início em 2019, quando pesquisadores analisavam o cenário do empreendedorismo social no Brasil, a fim de identificar tipos de negócios que estavam surgindo.

No início de 2020, Salum e Karina Coleta, também professora da FDC, decidiram, com apoio da plataforma de inovação aberta Innovation Latam, iniciar outra pesquisa, que contemplasse número maior de países.

A metodologia do estudo foi composta por duas etapas. Na primeira delas, empreendedores responderam a questionário com perguntas sobre modelo de negócio, local de atuação, ODS e problemas que buscavam solucionar.

"Alguns estavam em uma fase inicial do negócio, então acabaram sendo desclassificados, porque não tinham evidências ou ainda não mediam seu impacto", afirma Salum. "Porém aqueles que estavam mais maduros e estruturados, com faturamento, funcionários e uma gestão, pontuaram mais alto e seguiram para a segunda etapa".

Nessa fase final, candidatos selecionados passaram por avaliações quantitativas e qualitativas, chanceladas por especialistas de mercado, investidores, CEOs e professores.

Exemplos de organizações finalistas são a Luminus, associação sem fins lucrativos que busca reduzir o desperdício de alimentos e o impacto da fome em Belo Horizonte (MG) e região metropolitana, e a Central da Visão, que oferece cirurgias oftalmológicas a preços acessíveis para quem não tem plano de saúde.

Passado e futuro

O mapeamento da FDC mostra, ainda, que, a partir de 2015 a taxa de criação de empresas com foco em impacto social na América Latina apresentou tendência de crescimento ano após ano. Naquele ano, ela foi de cerca de 4%. No seguinte, subiu para quase 7%.

Uma possível causa apontada para esse aumento foi o estabelecimento dos 17 ODS pela ONU (Organizações das Nações Unidas) em 2015. Em 2019, a taxa em questão já era de 19%.

No entanto, devido aos efeitos sociais e econômicos da pandemia, a porcentagem caiu drasticamente para 3,8% em 2022. Ainda assim, as perspectivas para o futuro são positivas, avaliam os especialistas.

"Com a COP28, a persistência das discussões sobre efeitos climáticos e a maturidade do ESG nas empresas, a expectativa é de que haja aumento no nascimento de startups sociais", avalia Salum.

A exigência de boas práticas de ESG, seja por parte de clientes ou de investidores, é outro fator que pode motivar o crescimento de iniciativas do tipo.

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