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Marcelo Coelho
  4 de agosto
  Ligações
 
   
Vou assistindo pela TV o depoimento de Eduardo Jorge na subcomissão do Senado. Ele às vezes estica o pescoço, como se sentisse uma corda pronta a sufocá-lo. Mas, fora essa reação muscular, nada parece sugerir que o ex-secretário da Presidência esteja passando por dificuldades durante a cerimônia.
O senador Jefferson Peres, cujo tom é sempre acre, foi o primeiro a fazer perguntas. E logo considerou que o interrogatório era inócuo, por não ter a subcomissão poderes de CPI.
Alguma dúvida? Desconfio que o caso Eduardo Jorge terá o mesmo destino do que aconteceu com a pasta rosa, o caso Sivam, o dossiê Cayman. Parte da imprensa bem que tenta, a oposição se mobiliza, o assunto se prolonga, mas há como que uma barreira institucional e política a impedir o aprofundamento das investigações.
Está faltando uma ex-mulher, um genro, um motorista: há fumaça por todos os lados, mas não surgiu alguém capaz de soprar com força o caso até produzir um verdadeiro incêndio.
Mas quanta fumaça! Hoje mesmo a Folha revela que o próprio relator do caso no Senado, José Jorge, é colega de Eduardo Jorge no conselho consultivo de uma empresa, a Delphos, que “presta serviços a seguradoras”. E que foi ajudada pelo Banco Brasil. E Eduardo Jorge era sócio de um ex-diretor do Banco do Brasil. E o Banco do Brasil ajudou a Encol, construtora que faliu. E Eduardo Jorge presta serviços de consultoria, presta serviços de assessoria... sabe-se lá junto a quantas empresas.
A fumaça está no seguinte: não me parece imaculado o fato de que alguém saia da sala contígua da Presidência da República para dedicar-se a serviços de assessoria junto a empresas de qualquer tipo. Só isso, sem entrarmos em detalhes, justifica uma investigação completa.
A impressão que tenho, contudo, é que o problema é bem mais amplo do que um caso individual ou um escândalo específico. Onde quer que se procure, sempre surgem novas “ligações”: o ex-ministro X está ligado com o empresário Y, que por sua vez é primo do foragido Z, que não passa uma semana sem se encontrar com o deputado A --e aos poucos o que se vê, no governo federal, estadual ou municipal, é que todas as pessoas estão “ligadas” demais entre si.
Se este fosse um país de quinhentos mil habitantes, dedicado à exportação de bananas, seria natural que todos os ocupantes do poder fossem primos, amigos e cupinchas. Que o dono da emissora de TV fosse ao mesmo tempo ministro do Supremo Tribunal, e que sua mulher fosse ministra das Comunicações. Não chegamos a tanto. Mas as “ligações” familiares, empresariais e governamentais de que se tem conhecimento por aqui andam estreitas demais para um país com as dimensões do Brasil.
O que isto significa, senão que, com uma economia complexa, uma população enorme e uma burocracia fortíssima, o Brasil está na verdade nas mãos de uma elite excessivamente restrita? É um país pouco republicano e pouco democrático. Todos se conhecem. Todos estão “ligados”.
A impessoalidade da vida pública não pode depender necessariamente da conduta correta daqueles que... se dispõem a ter uma conduta correta. Amizades, acertos, tapinhas nas costas, telefonemas, bons restaurantes, mordomias e galhos a quebrar fazem parte da rotina do poder. Isso em todo lugar. Aqui, mais do que em qualquer outro, o poder parece ser apenas isso.


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