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Marcelo Coelho
  11 de agosto
  Suspeitas para todos os gostos
 
   
Quanto mais leio sobre o caso Eduardo Jorge --e leio alguma coisa, não tudo o que aparece, mas também não leio tão pouco assim-- mais confuso eu fico. Este artigo vai ser mais impressionista do que de hábito.
Minha sensação é que o clima geral das opiniões políticas no país se deteriorou bastante de uma semana para cá. Há uma espécie de exaltação sem objeto.
O depoimento de Eduardo Jorge convenceu muitas pessoas; o depoimento de Eduardo Jorge não convenceu outras tantas. Mas os dois campos em luta não parecem ter firmeza no que afirmam. Veja-se a manchete da Folha desta quinta-feira: o homem dobrou seu patrimônio em um ano. O que isso significa exatamente?
Não muita coisa, na minha opinião. Se o patrimônio dele é só isso que consta da declaração do Imposto de Renda, deve-se admitir que EJ deixou o governo sem ter feito falcatruas... e que seu processo de enriquecimento como “consultor” rende frutos ainda modestos. Mas o tom da notícia parece ser o de que continuam se acumulando evidências de negociatas.
No pólo oposto, há agora a demonização do procurador Luís Francisco de Souza. Estaria louco por publicidade e, pior, foi petista de carteirinha. Ainda que ele tenha aparência de radical, ressentido, esquisito, essas coisas enfim que os oposicionistas são acusados de ser, observo também que, dada a existência de tantos radicais da corrupção, de tantos dementes da impunidade, é razoável presumir que apareça um maníaco, um Savonarola, um inquisidor da moralidade pública.
O leitor vai ficando desnorteado num assunto sobre o qual era mais ou menos fácil ter opinião. Sempre se soube --embora sempre tenha sido complicado de provar-- quem estava do lado dos honestos e quem estava do lado dos corruptos. Essa divisão vai ficando nebulosa ultimamente.
Os alinhamentos pró e contra FHC se fazem, neste caso, sem que os fatos, as suspeitas e os desmentidos sejam examinados a fundo --ou pelo menos sem que se chegue a uma conclusão. E como examiná-los?
Sem nenhum partidarismo, começo a achar que só com CPI isso se resolve. Pois o que estamos vendo hoje é uma espécie de CPI informal, sem que procuradores ou imprensa disponham de meios adequados para investigar direito.
O governo diz que uma CPI paralisaria o país. Aí tenho dúvidas. Pois no Congresso ninguém vai votar reformas às vésperas das eleições municipais. Paralisado o país já está. Esperar que o caso EJ morra por si mesmo? Acho difícil. Há muita exaltação no ar.
Claro que existe um problema lógico em toda investigação de corrupção --e esse aspecto desfavorece o governo e Eduardo Jorge. As coisas só se esclarecem quando se consegue provar corrupção. A alternativa --nada foi provado-- não equivale a um atestado de inocência; pode-se continuar acreditando que Fulano roubou, mesmo sem haver provas. É em momentos assim que o peso das preferências políticas se torna maior do que a luta pela moralidade pública.
O pior é que, na atual conjuntura, sequer há clareza quanto ao jogo político que se quer jogar. Na época de Collor, era nítida a estratégia de substituir o presidente; havia forças capazes de ocupar o seu lugar. Agora não; por mais intensas que sejam as suspeitas em torno do caso, mesmo os adversários mais implacáveis de FHC e EJ devem saber que um desfecho de tipo impeachment está fora do horizonte.
Talvez por isso mesmo o clima seja de exasperação visceral. O sentimento de que tudo está errado se alia ao de que não há muito a fazer. Péssimo momento para cumprir, como faço aqui, a tarefa de emitir opiniões.


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