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Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  2 de maio
  Dos deuses antigos
   
   

Para provar que nada tenho contra os deuses gregos e latinos, aqui vai uma declaração de amor às divindades pagãs, substituídas por um Jeová que nos condenou a ganhar o pão com o suor do rosto.
Nem mesmo a minha veneração salvou-os de uma geral avacalhação. Há o exemplo da dupla Afrodite-Vênus. Cantada em prosa e verso, após ter dado o nome a um planeta e a uma camisa, que hoje é chamada de camisinha, após ser esculpida, pintada e adorada, é agora lembrada em nomenclaturas calhordas.
Até isso parece que vai acabar. Com o advento dos antibióticos em breve não existirão as doenças venéreas que tanto fizeram nossos avós sofrer. Restará apenas a Aids, que é um sigla, como FMI e BNDES. Sua equivalente grega - Afrodite - ainda serve para os afrodisíacos, assim como seu colega Eros serve para a literatura erótica. É pouca sobrevivência para tão longa vivência.
Os deuses gregos e latinos não insistem em ficar pelo baixo ventre. Alguns atingiram o alto ventre, uma vez que a cabeça na maioria das vezes é uma antecipação ou uma consequência do ventre.
Baco e Dionisios geraram vocábulos excitantes, como dionisíaco e, sobretudo, bacanal. E por falar em bacanal, há que se considerar a grossa bandalheira em que viviam os deuses, não enquadrados nas tabelas do INSS. Nada tendo a fazer a não ser consumir o comprido tempo da eternidade.
Não se falava em fomento da agricultura - Ovídio cantaria a idade de ouro que só se tornou possível porque não havia a crise das bolsas asiáticas. Os deuses fomentavam incestos, prevaricações de cama e mesa, raptos, bandalheiras diversificadas. Nem o Código Civil nem o catecismo existiam para impedir a farra olímpica.
Nem havia Freud para banalizar a esbórnia que produziria os mármores de Atenas, o teatro de Sófocles, a poesia de Homero e a filosofia de Platão.



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