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Para
provar que nada tenho contra os deuses gregos e latinos, aqui vai
uma declaração de amor às divindades pagãs,
substituídas por um Jeová que nos condenou a ganhar
o pão com o suor do rosto.
Nem mesmo a minha veneração salvou-os de uma geral
avacalhação. Há o exemplo da dupla Afrodite-Vênus.
Cantada em prosa e verso, após ter dado o nome a um planeta
e a uma camisa, que hoje é chamada de camisinha, após
ser esculpida, pintada e adorada, é agora lembrada em nomenclaturas
calhordas.
Até isso parece que vai acabar. Com o advento dos antibióticos
em breve não existirão as doenças venéreas
que tanto fizeram nossos avós sofrer. Restará apenas
a Aids, que é um sigla, como FMI e BNDES. Sua equivalente
grega - Afrodite - ainda serve para os afrodisíacos, assim
como seu colega Eros serve para a literatura erótica. É
pouca sobrevivência para tão longa vivência.
Os deuses gregos e latinos não insistem em ficar pelo baixo
ventre. Alguns atingiram o alto ventre, uma vez que a cabeça
na maioria das vezes é uma antecipação ou uma
consequência do ventre.
Baco e Dionisios geraram vocábulos excitantes, como dionisíaco
e, sobretudo, bacanal. E por falar em bacanal, há que se
considerar a grossa bandalheira em que viviam os deuses, não
enquadrados nas tabelas do INSS. Nada tendo a fazer a não
ser consumir o comprido tempo da eternidade.
Não se falava em fomento da agricultura - Ovídio cantaria
a idade de ouro que só se tornou possível porque não
havia a crise das bolsas asiáticas. Os deuses fomentavam
incestos, prevaricações de cama e mesa, raptos, bandalheiras
diversificadas. Nem o Código Civil nem o catecismo existiam
para impedir a farra olímpica.
Nem havia Freud para banalizar a esbórnia que produziria
os mármores de Atenas, o teatro de Sófocles, a poesia
de Homero e a filosofia de Platão.
Leia colunas anteriores
27/4/2000 -
Do
câncer no piloro
25/4/2000 -
Ponte
aérea
20/4/2000 -
Companheiro de viagem
18/4/2000 -
O homem e
a roda
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