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Lars von Trier não pára de agitar. Depois do Dogma 95 (www.dogme95.dk), o manifesto em favor de um cinema ficcional mais improvisado, eis o Desfoco, seu chamado às armas para a produção documental (click aqui para lê-lo traduzido na íntegra).
O cálculo publicitário é central mais uma vez,
ainda que o Dogma o tenha superado largamente, firmando-se como
um dos movimentos mais marcantes do final dos anos 90, em reação
aos blockbusters de Hollywood e aos insossos euro-pudins.
Desta vez, o Desfoco nasce do surgimento do braço não-ficcional
da produtora do cineasta, a Zentropa
Real , fundada para fazer documentários e programa não-ficcionais
de TV.
"Desfoco" infelizmente não vêm acompanhado de filmes que ilustrem suas tese. No lançamento do Dogma 95, tivemos "Os Idiotas", do próprio von Trier, e "Festa de Casamento", de Thomas Vinterberg, exercitando na prática as palavras de ordem. Mas é questão de tempo.
"Desfoco" clama por uma produção não-ficcional liberta de certezas e conclusões apriorísticas. Como no Dogma, é uma espécie de chamado a "câmeras livres". Na ficção, o modelo era o "neo-realismo" italiano; nos documentários, o "cinema-verdade" americano dos anos 50-60, de Drew, Leacock, Pennebaker e os irmãos Maysles.
Von Trier combate o documentário organizado sob a forma narrativa clássica ("a história é o vilão"). Em seu lugar, garante que a fórmula seria "procurar sem olhar". "Desfocar" parece ser aqui sinônimo de tatear. Ligar a câmera, registrar a vida em torno, uma vez e outra e outra ainda, e o "assunto" nos será "revelado".
Há muito de romântico na militância de von Trier. Seu gênio publicitário tem ultimamente superado seu talento como realizador. Ao contrário do Dogma 95, que vinculava sua aplicação prática à aprovação por sua liderança fundadora, o novo manifesto surge como uma convocação individual. Diferentemente do Dogma, o impacto de Desfoco será proporcional ao dos filmes por ele catalisados. A hora da verdade não tardará.
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