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A tradicionalíssima
Modern Library conquistou ninguém menos que Martin Scorsese
para editor de sua nova série de livros, dedicada a volumes
clássicos ou novas obras sobre filmes essenciais (visite
o site). A primeira leva já desembarcou nas livrarias
americanas e pode ser encomendada via Internet (amazon,
por exemplo).
"Os filmes discutidos nestes livros
abrangem dos primeiros filmes mudos a um dos mais modernos e inovativos
filmes já feitos, de obscuros filmes perdidos a extravagâncias
hollywoodianas", explica Scorsese na introdução
às primeiras edições. "Por acaso, essa
primeira lista enfoca filmes americanos; filmes estrangeiros serão
incluídos em séries posteriores", garantiu.
Quatro livros inauguram a coleção. Dois deles reeditam
textos fundadores da crítica nos EUA.
"The Art of the Moving Picture" (A Arte do Cinema; US$
14.95, 201 páginas) reafirma o pioneirismo de Vachel Lindsay
(1879-1931) como exegeta do cinema como arte autônoma. Lindsay
era um poeta modernista ligado a cummings e Stevens. Antecedeu,
no culto à chamada "sétima arte", colegas
franceses contemporâneos como Robert Desnos e Jean Epstein.
Seu livro é de 1915, antes assim da sistematização
da gramática fílmica hollywoodiana por D. W. Griffith
com "Nascimento de uma Nação" (1915) e "Intolerância"
(1916).
"Agee on Film" (US$ 14.95, 416 páginas) é
a antologia de resenhas de um dos três maiores críticos
americanos de cinema (os outros são o karl-marxista Dwight
Macdonald e a groucho-marxista Pauline Kael). James Agee (1909-1955)
celebrizou-se escrevendo para "Time". Foi dos primeiros
a dar o devido valor a Buster Keaton, Jean Vigo e John Huston, com
quem acabou colaborando, ao roteirizar "Uma Aventura na África"
(1951). Não tinha papas na língua, esbanjava estilo,
engajava-se nas melhores causas. É incrível que o
cinema ainda não o tenha descoberto como personagem.
"Memo from David O. Selznick" (Memorando de David O. Selznick.
US$ 15.95, 578 páginas) seleciona mensagens de trabalho ditadas
às secretárias, entre 1916 e 1965, por um dos mais
idiossincráticos e talentosos produtores que fundaram Hollywood.
O crítico Roger Ebert acerta na mosca ao classificá-las
como "as fitas de Nixon dos anos de ouro de Hollywood".
Dos bastidores do primeiro período americano de Hitchcock
ao dia-a-dia das filmagens de "E O Vento Levou", está
tudo aqui.
"The Making of 2001: A Space Odyssey" (A Feitura de 2001:Uma
Odisséia no Espaço; US$ 15.95, 326 páginas)
é o único título absolutamente inédito
do primeiro lote. Editado por Stephanie Schwam, detalha o filme
de Kubrick passo a passo, de suas origens num conto de Arthur C.
Clarke a revisões críticas às vésperas
do ano fatídico. Para variar, dois dos textos mais surpreendentes
foram originalmente publicados na "The New Yorker", pelo
duplo de cientista e jornalista Jeremy Bernstein. São perfis
argutos e deliciosos de Clarke e Kubrick.
Alguma editora brasileira deveria importar a idéia e, muito
além de traduzir textos clássicos como os da Modern
Library, destacar similares nacionais. Estão a clamar reedições
as memórias de Lima Barreto; o certeiro ensaio sobre o documentário
de Alberto Cavalcanti, "Filme e Realidade"; o histórico
volume dedicado pela Civilização Brasileira a "Deus
e o Diabo na Terra do Sol" no calor de seu lançamento
-e fiquemos nestes três títulos. Quem se candidata?
Leia colunas anteriores
13/07/2000 - Desfoco,
o "Dogma" para o documentário
06/07/2000 - Mais dois MSTs
29/07/2000 - Os melhores risos de
nossas vidas
22/06/2000 - Uma visita a Bondland
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- Oscar 2001: "Bossa Nova"
ou "Eu Tu Eles"
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