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Conheça
o RNA, a máquina da vida
Jornalismo científico é uma coisa complicada. Para
cumprir a máxima profissional de tornar interessante o que
é importante (e não tornar importante o que só
é interessante), o divulgador tem por vezes de dar nó
em pingo d'água. Por exemplo, para explicar -ou pelo menos
dar uma idéia não muito simplificadora- da notícia
mais importante da semana, a decifração da estrutura
molecular tridimensional do ribossomo.
Ribossomo?
Epa. Ninguém mais vai ler. Na própria redação
de um jornal ou revista, os colegas do jornalista de ciência
mal conseguem a reprimir sinais de impaciência (revirar de
olhos, tamborilar de dedos). O mundo caindo lá em Brasília,
e esse cara vem de ribossomo? É demais.
É,
mesmo, mas no bom sentido. Ribossomos são estruturas celulares
(organelas, no jargão dos biólogos) fundamentais para
a vida. Num esforço de analogia para aproximar sua compreensão
do mundo das pessoas normais, costuma ser comparado com uma fábrica
-no caso, uma fábrica de proteínas.
Pense
bem: toda e qualquer proteína produzida por seres vivos é
sintetizada num ribossomo. Aí alguém consegue redesenhar,
molécula por molécula, a estrutura fina dessa estrutura
celular prodigiosa e universal. Se ainda não parece importante
para você, seria o caso de dizer que o problema é seu,
não do ribossomo.
O
jornalista de ciência nunca vai dizer isso, dar o braço
para torcer. Vai insistir e contar que, no miolo do ribossomo desvendado,
os cientistas cujos trabalhos saíram na última edição
da revista "Science"
encontraram apenas RNA. E que esse achado reforça uma das
idéias mais debatidas hoje em biologia, a hipótese
do "mundo de RNA".
RNA?
Mundo de RNA? Epa. Quem não desistiu ainda de ler vai fazê-lo
agora.
RNA
é a abreviação em inglês de ácido
ribonucléico, uma substância fundamental para o funcionamento
do código genético, para que a informação
nele contida venha a se constituir num organismo. Por se tratar
de uma molécula capaz de, ao mesmo tempo, armazenar informação
(como seu "primo" DNA, a matéria-prima dos genes)
e desencadear sínteses químicas, o RNA tornou-se sério
candidato ao posto de molécula precursora da vida.
Dito
de outro modo, o RNA teria sido o elo entre a sopa primordial de
compostos orgânicos e as primeiras células, na Terra
de quase 4 bilhões de anos atrás. É a chamada
hipótese do "mundo de RNA". Pois agora se sabe
que há só RNA no centro da fábrica usada por
todas as células, da mais primitiva bactéria ao mais
complexo neurônio humano. E o que é mais importante,
com 95% da estrutura preservada em todos os domínios da vida.
Plantas, animais, tudo. Mais uma razão, enfim, para acreditar
que tenha de fato existido um mundo de RNA.
Leia
também a reportagem
de Isabel Gerhardt na Folha de sexta-feira. E se nada
disso for ainda suficiente para você começar a gostar
de ribossomos, RNA e companhia, sua última chance é
olhar bem para a imagem abaixo. O que você está vendo
é a estrutura de nada menos do que a máquina da vida.
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