Eleitor não tem QI de ameba, não

Mesmo votando em você sabe quem, e mesmo que ele esteja no segundo turno em São Paulo, não dá para dizer que o eleitor paulistano tenha QI de ameba. Seria uma ofensa às amebas. Elas, pelo menos, já demonstraram alguns sinais de inteligência, conforme pesquisa divulgada na revista "Nature".

OK, também não está certo dizer que a culpa é do eleitor, em geral. Há muitas razões e práticas ancestrais deste país anti-social e antipolítico para explicar esse gênero de voto, e burrice certamente não sobressai entre elas. Caberia mais aplicá-la à classe da qual sai a maioria dos dirigentes políticos, que se faz representar por empulhações desse calibre.

Mas esta é uma coluna sobre ciência; é preciso voltar, portanto e felizmente, às amebas de verdade. Melhor dizendo, fungos amebóides da espécie Physarum polycephalum.

Trata-se de organismo estranho, que tem uma só célula macroscópica e vários núcleos, a meio caminho entre o unicelular e o pluricelular. Ele se arrasta pelo chão, alimentando-se de microorganismos que lhe atravessam o caminho e lançando projeções conhecidas como pseudópodes.

Com todo esse primitivismo, não é que o bicho é capaz de se achar num labirinto?

Melhor dizendo, o que ele fez foi assumir a forma mais curta entre duas fontes de alimento num labirinto de gelatina, mantendo pseudópodes lançados na direção correta e recolhendo os que deram em becos-sem-saída. Levou quatro horas, é verdade, como mostra a pesquisa de cientistas japoneses e húngaros descrita em reportagem de Ricardo Bonalume Neto na Folha de quinta-feira.

Fungo assume a forma mais curta entre duas fontes de alimento



Com a urna eletrônica, tem gente que vota até em quatro segundos - mas com o resultado que todo mundo já conhece. Sou mais a ameba.

Coluna do meio


Se você vir uma coluna em frente da única porta de saída de uma sala de cinema ou do setor do estádio australiano em que o Brasil deixou escapar mais uma medalha, pense duas vezes antes de atribuir ao arquiteto um QI de ostra (epa). Ela pode estar ali por um motivo utilitário e não estético: evitar mortes em caso de pânico.

Esse é um dos resultados curiosos das simulações do comportamento de multidões feitas pelo grupo de Tamás Vicsek. A coluna acaba absorvendo parte dos empurrões que as pessoas em pânico dão umas nas outras e, com isso, o obstáculo organiza um pouco e acelera o fluxo para fora do recinto, como relatado na reportagem de Luciano Grüdtner Buratto na Folha.

Veja também a página do experimento, que tem até animações (vídeos) de várias situações de multidão.


Imagem da semana


ARMADURA "Cabeça" do vírus HK97, que tem
estrutura similar às cotas de malha metálica
medievais, formada por anéis entrelaçados de
moléculas chamadas catenanos (por analogia com
os elos de uma cadeia);
leia reportagem na Folha de terça-feira



Site da semana

Para saber das últimas sobre a maior polêmica darwinista em andamento, a saber, entre os adeptos da psicologia evolucionista e seus adversários, vá até a página da Human Behavior and Evolution Society. É gente que não tem medo de atacar vacas sagradas como Stephen Jay Gould, talvez porque almejem sua condição de best seller científico (caminho no qual segue firme o midiático Steven Pinker, do MIT). O melhor da página é a relação de novidades bibliográficas do setor.

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