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"O nitrogênio é um nutriente fundamental para as plantas. Sua
absorção do solo é feita com a ajuda de bactérias, numa parceria
de organismos (simbiose) que o grupo de Döbereiner elucidou com
detalhes bioquímicos no caso da soja
Todas as células do corpo, com exceção dos gametas (óvulos e espermatozóides);
a modificação do DNA de células somáticas não é transmitida para
os filhos, mesmo que estes nasçam depois da terapia genética
Quem disse
que o trabalho de dois neurônios não pode resultar num
Prêmio Nobel? Pois é precisamente o funcionamento da
sinapse, ponto de comunicação entre duas células
nervosas, que deu o Nobel de Medicina ou Fisiologia anunciado hoje
ao sueco Arvid Carlsson e aos norte-americanos Paul Greengard e Eric
Kandel (este, nascido na Áustria).
Os cerca de 100 bilhões de neurônios do cérebro
humano funcionam em grandes redes, ditas redes neurais, que têm
arquitetura complexa. Para poder entendê-las, os neurocientistas
partem do bom e velho método reducionista: estudar a transdução
de sinal (comunicação) entre dois neurônios, a
base de tudo.
Essa conversa entre neurônios usa uma língua química.
Em lugar de ondas sonoras, eles dirigem moléculas (neurotransmissores)
uns aos outros. Conforme o tipo de palavra neuroquímica pronunciada
por um neurônio, ocorrerá uma coisa diferente com o próximo
(bloquear ou transmitir um sinal, por exemplo). Desse bate-papo nascem
as redes neurais, cujo relacionamento, por sua vez, dá origem
às representações e memórias.
Carlsson -primeiro sueco a levar o prêmio idem desde 1982- se
destacou por ter provado que a dopamina é um dos neutotransmissores
mais importantes. Sua ausência pode provocar efeitos devastadores,
como o mal de Parkinson, em que o doente perde controle sobre movimentos.
Greengard deu um passo além, mostrando como a dopamina e outros
neurotransmissores agem para compor um tipo de conversa neuronal batizada
de transmissão sináptica lenta. Ela está na base
de coisas como prontidão e humor (sua contraparte, a transmissão
sináptica rápida, responde pela fala e pela locomoção).
Kandel, por seu turno, investigou o papel desses mecanismos químicos
na formação de memórias.
O trabalho desse trio de peso está na base de muitos avanços
a neurociência nos últimos anos. Por exemplo, o desenvolvimento
de uma droga como a L-dopa, que trouxe algum alívio para milhões
de portadores de Parkinson -alguns dos quais estavam condenados a
uma morte em agonia, por sufocação. Ou uma melhor compreensão
dos mecanismos de dependência a drogas. Ou ainda, da esquizofrenia.
O trabalho de dois neurônios, se mal feito, pode provocar grandes
estragos.
Para saber mais: http://www.nobel.se/announcement/2000/medicine.html
Morre a cientista que mais fez pela soja
Se você nunca ouviu falar de Johanna Döbereiner, deveria. Essa alemã que emigrou para o Brasil aos 25 anos fez mais pelo país do que muitos doutores e bacharéis. Morreu quinta-feira (5/10), aos 75 anos, numa localidade fluminense de nome esquisito (Seropédica), e merece ser lembrada como cientista de primeira grandeza.
Magnificar sua contribuição para a agricultura brasileira não é retórica, mas coisa que pode ser medida em cifras. Calcula-se que os estudos sobre fixação de nitrogênio
por plantas realizados pelo grupo de Döbereiner na Embrapa rendam ao país de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões por ano, em fertilizantes nitrogenados que deixam de ser usados no cultivo de soja, como informou reportagem de Ricardo Bonalume Neto na Folha.
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Johanna Döbereiner
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Nunca encontrei Johanna Döbereiner pessoalmente, mas sou tomado de admiração diante desse dado, que traduz na língua do tempo atual toda uma vida de trabalho incrivelmente fecundo. Quantas pessoas haverá no Brasil que lhe tenham prestado tamanho serviço? O que mal se entende é que uma personalidade dessas -a mulher mais citada do Brasil em publicações científicas auditadas- seja quase que desconhecida do público.
Na música, seria uma Clementina de Jesus. Na literatura, uma Clarice Lispector. Nas artes plásticas, uma Lygia Clark. Em pesquisa, foi Johanna Döbereiner.
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Alguns leitores escreveram para repudiar a coluna da semana passada, que comparava o QI de amebas e o de eleitores. Antes de reproduzir trechos de uma mensagem representativa, reconheço aqui que eles têm razão. Avancei o sinal.
Um dos leitores a se queixar foi Luiz Gonzaga, médico que votou em Paulo Maluf. Leia trechos do que ele escreveu:
"Nós, as amebas, achamos muito interessante. Toda a imprensa tem como estandarte que 'a função da mídia é apresentar os fatos', ficando o julgamento e a opinião por conta das amebas.
"Não é estranho o fato de toda a imprensa só se manifestar se for contra o Maluf?
Será que essa nata privilegiada da sociedade, com QI absurdamente alto, os que fazem a imprensa, não consegue perceber que se o candidato está lá é porque recebeu votos de muitos milhões de amebas?
"Ou será que eles não estão agindo como amebas que se movem por esforço e motivação próprios, mas sim como algo até mais inferior na escala, e se deixando levar por razões que, apesar do alto QI, desconhecem?"
Imagem da semana
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ISTO NÃO É UMA COELHA - É arte. Tem cara de coelha, nome de coelha (Alba), pêlos brancos de coelha e olhos vermelhos de coelha -até que seja posta sob luz ultravioleta, quando passa a emitir uma cor esverdeada. Ela foi geneticamente alterada para isso, por encomenda de Eduardo Kac, artista plástico brasileiro que dá aulas no Instituto de Arte de Chicago e que traz para o campo da estética a discussão sobre os limites ora confusos entre natureza e tecnologia.
Site da semana
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Saíram esta semana os agraciados com o prêmio IgNobel, conferido pela publicação "Anais da Pesquisa Improvável". Entre os ganhadores, investigações sobre o sabor de girinos secos da Costa Rica (obra de um canadense) e o sobre o uso de ímãs para fazer sapos levitarem (Holanda), por exemplo. Isso para não falar da lubricidade circunscrita de "Imagens de Ressonância Magnética dos Órgãos Genitais durante o Ato Sexual", levada a cabo (perdão) por outra impagável equipe holandesa.
Documento
Uma comissão da AAAS (pronuncia-se tripôl-êi-éss), a SBPC norte-americana, discutiu por mais de dois anos as implicações, riscos e possibilidades da engenharia genética de células germinativas humanas, ou seja, de modificações no genoma humano que possam ser transmitidas para a descendência, incorporando-se ao patrimônio genético da espécie. Embora as conclusões sejam sóbrias (conclui-se que a tecnologia atual é totalmente insegura, por exemplo), não deixa de ser espantoso que tal discussão já esteja em curso.
Antes cedo do que nunca, talvez seja o caso de dizer. Leia o documento final e confira se ele não se parece muito com uma preparação de terreno, por parte dos cientistas, para uma revolução que consideram inevitável -algo que vai pôr no chinelo tudo que você já achava desconcertante, da clonagem de animais à terapia genética de células somáticas.
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Algumas das páginas de Internet indicadas exigem registro, assinatura ou pagamento para acesso a seu conteúdo. No caso dos artigos científicos, a maioria é escrita em inglês. E note que certos recursos desta coluna, como o botão de interrogação, não funcionam com o navegador Netscape.
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colunas anteriores
02/10/2000 - Eleitor não tem QI de ameba, não
25/09/2000 - Quem é mais feroz, ianomâmis ou antropólogos?
18/09/2000 - Governo FHC embaça rotulagem de transgênicos
11/09/2000
- Malária
na Sibéria também já é demais
04/09/2000 - Bem-vindo ao mundo dos
autorrobôs e dos Golems
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