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É só
você olhar para o lado, pensar nos amigos ou no pessoal da família.
Vem a constatação amarga: está mais difícil subir na vida. O salto
que os pais conseguiram dar, com muito suor, em gerações passadas,
não se repete hoje. Os jovens estudam até mais, mas adiam seus planos
de independência. O trabalho não aparece. O salário é baixo. As
esperanças murcham. Quem não tem uma história dessas para contar?
A demógrafa Flávia Cristina Drumond, da Universidade Federal de
Minas Gerais, mediu esse problema em cinco regiões metropolitanas.
Verificou que diminuiu a possibilidade de uma pessoa melhorar de
vida nos anos 90, mesmo se ela possuir maior grau de instrução.
Motivo básico: a estagnação da economia, que encolheu o mercado
de trabalho e a renda dos assalariados.
Na zona rural o quadro não é diferente. Pesquisa coordenada por
Ângela Jorge Corrêa, da Universidade Metodista de Piracicaba, constatou
que o trabalhador do campo ficou 5,8% mais pobre entre 95 e 98.
"Retornamos a um perfil que caracterizava o início dos anos 80",
diz Corrêa.
Essa não deveria ser a tendência. Pelo menos não é o que está acontecendo
na maior parte do mundo, com exceção da paupérrima África e da caótica
Rússia. O século que está acabando foi, apesar das guerras, de crescimento
e de melhoria de vida para a humanidade.
Basta olhar fotos antigas, ver filmes ou ler livros. Em termos gerais,
há mais abundância, um número crescente de pessoas passou a consumir,
a riqueza _pessimamente distribuída_ foi multiplicada. O Brasil,
com todos os obstáculos da desigualdade herdada da escravidão, ia
seguindo a trilha. Chegou a contabilizar recordes mundiais de crescimento.
Mas, nesses últimos anos, parece que anda para trás, na contramão
do mundo.
Isso até na política. Com esse quadro social desolador _funcionalismo
sem reajuste há cinco anos, desemprego recorde, concentração de
renda alarmante_, há quem condene e reprima os protestos pela melhoria
de vida.
Afinal, numa visão bem crua, o que os manifestantes querem é subir
na vida. E ficou mais difícil de fazer isso no Brasil dos anos 90.
A julgar pelas últimas cenas com gás de pimenta, brigar por isso
também está mais difícil e perigoso. É ruim, mas pode funcionar
como estímulo.
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