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Eleonora de Lucena
eleonora@uol.com.br
  25 de maio
  Subir na vida está mais díficil e brigar por isso, mais perigoso
 
   
 

É só você olhar para o lado, pensar nos amigos ou no pessoal da família. Vem a constatação amarga: está mais difícil subir na vida. O salto que os pais conseguiram dar, com muito suor, em gerações passadas, não se repete hoje. Os jovens estudam até mais, mas adiam seus planos de independência. O trabalho não aparece. O salário é baixo. As esperanças murcham. Quem não tem uma história dessas para contar?
A demógrafa Flávia Cristina Drumond, da Universidade Federal de Minas Gerais, mediu esse problema em cinco regiões metropolitanas. Verificou que diminuiu a possibilidade de uma pessoa melhorar de vida nos anos 90, mesmo se ela possuir maior grau de instrução. Motivo básico: a estagnação da economia, que encolheu o mercado de trabalho e a renda dos assalariados.
Na zona rural o quadro não é diferente. Pesquisa coordenada por Ângela Jorge Corrêa, da Universidade Metodista de Piracicaba, constatou que o trabalhador do campo ficou 5,8% mais pobre entre 95 e 98. "Retornamos a um perfil que caracterizava o início dos anos 80", diz Corrêa.
Essa não deveria ser a tendência. Pelo menos não é o que está acontecendo na maior parte do mundo, com exceção da paupérrima África e da caótica Rússia. O século que está acabando foi, apesar das guerras, de crescimento e de melhoria de vida para a humanidade.
Basta olhar fotos antigas, ver filmes ou ler livros. Em termos gerais, há mais abundância, um número crescente de pessoas passou a consumir, a riqueza _pessimamente distribuída_ foi multiplicada. O Brasil, com todos os obstáculos da desigualdade herdada da escravidão, ia seguindo a trilha. Chegou a contabilizar recordes mundiais de crescimento. Mas, nesses últimos anos, parece que anda para trás, na contramão do mundo.
Isso até na política. Com esse quadro social desolador _funcionalismo sem reajuste há cinco anos, desemprego recorde, concentração de renda alarmante_, há quem condene e reprima os protestos pela melhoria de vida.
Afinal, numa visão bem crua, o que os manifestantes querem é subir na vida. E ficou mais difícil de fazer isso no Brasil dos anos 90. A julgar pelas últimas cenas com gás de pimenta, brigar por isso também está mais difícil e perigoso. É ruim, mas pode funcionar como estímulo.


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