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São
Paulo e Buenos Aires foram agitadas nesta semana por grandes manifestações
públicas. Na av. Paulista, pelo menos 15 mil. Na Praça de Mayo,
40 mil. Os protestos, desta vez pacíficos, tiveram um alvo em comum:
a política de arrocho nos gastos públicos abraçada pelos governos
dos dois países para cumprir as metas do FMI.
Na Argentina, o corte anunciado foi abrupto: aposentadorias perderam
até 50% do valor; salários encolheram até 15%. No Brasil, o aperto
já teve vários capítulos. A decisão de não reajustar salários de
funcionários públicos por vários anos é uma forma, mais discreta,
de fazer aqui o que a Argentina escancara.
Lá, a situação é mais aguda. O governo Menem praticamente abriu
mão da moeda nacional e atrelou a economia do país ao dólar. Enquanto
o Brasil estava com o real sobrevalorizado e os investidores do
Norte eram atraídos pelos juros altos na América Latina, o problema
foi contornado. Apesar do aumento do desemprego e da concentração
de renda, a perspectiva de colapso foi adiada.
Agora, com a mudança no Brasil e o temor de um desaquecimento mais
forte nos Estados Unidos, as expectativas sobre a Argentina degringolaram.
Como todo o patrimônio público já foi vendido, o novo governo, sem
dólares para manter a cotação do peso, tentou uma manobra desesperada
e impopular. O mercado financeiro e o presidente Fernando Henrique
Cardoso aplaudiram. A população não gostou e protestou nesta quarta-feira.
No Brasil, as últimas manifestações pleiteiam mais salários para
os funcionários da saúde e da educação. Querem também mais verbas
para escolas, universidades, hospitais. Querem, em última análise,
que o governo gaste. Uma "heresia’’ para os defensores do modelo
que tomou conta do continente.
Uma "heresia’’ que foi muito bem utilizada nos momentos de crise
na história dos Estados Unidos e na Europa. Neste século, os países
do Norte superaram recessões e retomaram crescimento sempre ampliando
os gastos públicos.
Há 10 anos a América Latina vive submersa na ideologia neoliberal
ditada por Washington. Os governos locais foram convencidos de que
poderiam entrar no fabuloso mundo da globalização se abrissem seus
mercados, vendessem patrimônio público, afrouxassem as redes de
saúde, educação e previdência, abrindo caminho para a privatização
dos serviços.
Para as populações, o marketing oficial alardeou as proezas infindáveis
da estabilização de preços, colocando-a na antesala do crescimento,
do aumento de vagas. O Estado, mais enxuto, poderia, então, cuidar
melhor de saúde, educação, segurança.
Balela.
Basta andar pelas ruas de São Paulo ou de Buenos Aires.
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