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crossi@uol.com.br
 
20 de setembro
  Fujimori faz FHC passar vergonha
 

O presidente peruano Alberto Fujimori está fazendo seu colega
brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, passar por um belo vexame.
Em maio, todo mundo, menos Fujimori, dizia que a eleição presidencial do Peru não respeitava os cânones que dizem quando um pleito pode ser considerado livre e justo.

Só FHC fechava com Fujimori e santificava o questionado processo
eleitoral peruano.

Enquanto isso, os Estados Unidos insistiam em que a Organização dos Estados Americanos deveria punir o Peru de Fujimori exatamente pelo desrespeito a regras básicas em processos eleitorais legítimos. Foi a posição brasileira que impediu que a posição de Washington vingasse.

Lembro-me de que, na época, Fernando Henrique estava em viagem pela Alemanha. A cada entrevista que dava, alguém lhe perguntava sobre o caso peruano. E ele sempre respondia defendendo Fujimori.

Agora, vem o próprio Fujimori e anuncia sua renúncia e diz que não quer ser "obstáculo à democracia", em confissão implícita de que vinha agindo como tal até então.

Pode até ser que se trate de mera jogada, a ser desfeita amanhã ou depois, ao sabor das circunstâncias, como suspeita Eliane Cantanhêde, a notável jornalista da "Folha de S.Paulo".
Não importa, para o julgamento da posição adotada pelo governo
brasileiro.

O argumento principal utilizado para defender Fujimori e seu suspeito processo eleitoral é o de que é sagrado o princípio da não-intervenção em assuntos internos de outro país.

Tem certo peso, mas precisa ser ponderado pelos fatos.
Primeiro: o Brasil ajudou mais de uma vez a evitar um golpe de Estado no Paraguai, interferindo, portanto, em assuntos internos. Por que podia no Paraguai e não pode no Peru?

Segundo: quando o então presidente norte-americano Jimmy Carter fez uma cruzada pelos direitos humanos, no final dos anos 70, conseguiu salvar algumas vidas numa América Latina coalhada de ditaduras. Ninguém com convicções democráticas protestou, exceto os ditadores, invocando justamente o princípio da não-intervenção.

Terceiro: quem intervém regularmente na América Latina são os Estados Unidos, que não precisam de licença para tanto, tal é a sua descomunal superioridade econômica e militar.

Foi assim que ajudaram a instalar as ditaduras que ensanguentaram a região dos anos 60 até o início dos 80.
Se, agora, mudam de direção e passam a reforçar a democracia, tanto melhor.

Há intervenções e intervenções. Desconhecer as diferenças é arriscar-se ao vexame, do que dá prova o caso Fujimori.

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