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Domingo, 27 de agosto de 2000

Racismo

Rodrigo Bueno
     


Diego Medina

A temporada está só no começo na Europa, e a questão do racismo está longe de um fim.

Depois de suportarem quase calados várias humilhações, os jogadores negros que atuam no continente parecem agora, ao menos, ganhar um respaldo.

Alguns dos clubes mais poderosos, como o Bayern de Munique, e outros mais modestos, como o Strasbourg, armaram planos para combater ou reduzir comportamentos racistas, cada vez mais frequentes nos estádios europeus, por parte de seus torcedores.

Khan, Jeremies, Effenberg e Scholl, atletas e ídolos alemães do Bayern, participaram de campanha publicitária em que pediam mais respeito aos profissionais ‘‘estrangeiros’’, cada vez mais presentes no futebol do país.

A iniciativa, que partiu do clube de Beckenbauer e da Opel, patrocinadora do time, decorre da onda neonazista na Europa e dos muitos alvos que trabalham no time, como o brasileiro Élber.

O Bayern tem atletas de 13 países diferentes e teme ações de gangues neonazistas, que têm soltado bombas e atacado estrangeiros.

O Strasbourg foi à Justiça contra os próprios torcedores do time, que insultaram dois atletas africanos, Bagayoko e Beye, e o técnico Claude Le Roy, que é judeu.

Cerca de 50 fãs racistas do time, que picharam até a suástica na sede do clube, estão sendo investigados. E outras equipes estudam seguir o exemplo do Strasbourg.

Talvez o atleta que mais tenha levantado a questão do racismo na Europa neste início de temporada seja um brasileiro, pouco conhecido até em nosso país.

Pelado, como é chamado na Itália, atua no modesto Treviso. Após ver imitações de macacos nas arquibancadas, prometeu não jogar mais no time se as ‘‘manifestações’’ estúpidas continuassem.

A atitude de Pelado foi respaldada por companheiros do time, revoltados com as provocações. O francês Petit, o homem que marcou o último gol na Copa de 98, teria declarado também que está enojado com o comportamento racista de torcedores do Arsenal.

Ainda na fase de classificação da Copa da Uefa, 13 torcedores do Leeds foram presos em Munique fazendo saudações nazistas. Fãs da equipe inglesa já haviam causado tumulto, com mortos, na temporada passada, em uma partida da Copa da Uefa na Turquia.
Os cuidados de alguns clubes e grupos de jogadores com a questão não estão sendo adotados pela Uefa, que colocou nos mesmos grupos da Copa dos Campeões times turcos e britânicos (Galatasaray e Glasgow Rangers, da Escócia, integram o Grupo D; Besiktas e Leeds estão no Grupo H).

Os confrontos, que facilmente poderiam ser evitados pelos dirigentes, já preocupam a polícia e assustam a Europa, que ainda não esqueceu as cenas de selvageria dos hooligans nas ruas de Bélgica e Holanda na Eurocopa.

Os europeus encheram estádios, compraram os craques, montaram impérios com seus clubes, mas não respeitaram o próximo.

O futebol europeu está sim mais miscigenado, repleto de ‘‘forasteiros’’. E o que se ganha com isso? A França, do argelino Zidane, do armênio Djorkaeff, do ganense Desailly, do polinésio Karembeu e do argentino Trezeguet, ganhou a Copa do Mundo e a Euro-2000.


Notas

Brasileiro na Rússia
O atacante brasileiro Robson, com cidadania russa, está prestes a defender seu novo país. Seu companheiro na seleção da Rússia poderá ser o camaronês Tchuise, que está virando russo também.


Branco na África
O zagueiro Fish, o melhor jogador branco da seleção sul-africana, voltará à equipe. Ele havia dado preferência à sua carreira na Inglaterra, mas caminha agora com a África do Sul rumo à Copa-2002.


Negro na Europa
O francês Patrick Vieira, um dos craques da seleção campeã mundial e européia, está deixando o Arsenal. Motivo: os juízes ingleses já lhe deram seis cartões vermelhos.


Árabe na Europa
Al Jaber vai jogar no Wolverhampton. É o primeiro saudita a atuar em uma divisão importante na Europa.




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