Diego
Medina
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Bom, Gustavo Kuerten foi derrotado por uma forte gripe. Não há nada a ser
dito, a não ser "vitamina C e cama", como dizia aquele antigo comercial de
remédio. Mas quem perde mesmo não é Kuerten, que já tratou de dirigir suas
atenções para o confronto com os australianos na semifinal da Copa Davis.
Os
grandes derrotados são os fãs de tênis espalhados pelo Brasil.
Porque a imprensa local ainda não tomou noção do verdadeiro crescimento do
tênis junto ao público. Na maior parte dos casos, a cobertura jornalística
do esporte é burra.
Jornais, revistas e emissoras de TV continuam na cobertura restrita à
"Gugamania". Ainda é difícil fazer os donos do poder na imprensa esportiva
enxergarem algo óbvio: o sujeito começa a acompanhar tênis por causa do
Kuerten, mas vira um torcedor ligado ao esporte das raquetes. Quanto este
colunista escuta uma discussão de balcão de padaria sobre quem é melhor,
Sampras ou Agassi, sente que o público já está deixando a
imprensa para
trás.
O cara pode ser fã incondicional de Kuerten, mas, pombas, o cara acaba
gostando de tênis. Ele passa a ser um consumidor voraz de notícias do
circuito internacional. Tudo bem, Kuerten ainda é o foco, mas hoje você
encontra gente que tem enorme prazer em sentar diante da TV por horas para
ver grandes jogadas, sejam elas executadas por brasileiros, americanos,
australianos ou incas venusianos.
E o que a gente vê depois da derrota de Kuerten em Londres? O noticiário
de
Wimbledon murcha a cada dia. Tudo fica reduzido às notas óbvias e
obrigatórias, do tipo "Sampras e Agassi avançam", e a um possível
flagrante
das pernas bronzeadas de Anna Kournikova. Cadê os resultados? Cadê os
relatos, as análises?
O torcedor de tênis, quando pode, apela à Internet. E quem não pode? Fica
sem a informação que desejava. Pode ler pela enésima vez sobre a saída de
Felipão do Palmeiras, o que não é nenhuma novidade para quem acompanha o
noticiário de futebol.
A fórmula "Kuerten no torneio, manchete; torneio sem Kuerten, notinha" já
está esgotada. Há uma boa fatia do público que deseja saber a razão de
Byron
Black sempre jogar bem em Wimbledon ou quer ler uma boa entrevista com
Patrick Rafter. É o mesmo público que acompanha com simpatia uma
reportagem
sobre o novo corte de cabelo de Kuerten, mas que precisa de mais
informação
sobre tênis do que isso.
Antes que alguém diga que o colunista defende causa própria, que poderia
estar forçando a barra na exposição desse cenário para pedir mais espaço
ao
esporte que analisa, basta lembrar como o número de praticantes de tênis
cresce sem parar nas principais cidades brasileiras.
O bicampeonato de Kuerten em Roland Garros praticamente entupiu todas as
quadras brasileiras. Amigos professores contam que, por incrível que
pareça,
há alunos pedindo aulas às 5h30, na falta de outros horários mais
civilizados. Ora, se essa multidão está comprando raquete e encarando as
quadras, com dedicação, é óbvio que é também uma massa em busca de
informação sobre o esporte.
É uma turma que quer descobrir como Agassi consegue dar aquela cruzada
espetacular, e não tem tanta necessidade assim de saber quais os CDs que
Gustavo Kuerten comprou em Paris. Agora é hora da informação completa e
qualificada. O público já está mais sofisticado. A imprensa, não.
Wimbledon corre o risco de acabar sem que as pessoas recebam relatos
interessantes de seus jogos decisivos. Mas, tudo bem, não? A "ex" de
Kuerten
está peladinha na "Playboy". Parece que é o máximo que a imprensa quer
revelar do mundo do tênis.
Notas
Bola fora
Mais um peladão em Wimbledon. A moça que entrou nua na Quadra Central
antes
da final de 1996, entre Richard Krajicek e MaliVai Washington, foi
contratada por um tablóide sensacionalista inglês. Parece que o novo
stripper era apenas um fã alucinado de Anna Kournikova. O fato de a
tenista
russa declarar nem ter notado a invasão da quadra decepcionou o sujeito.
Bola nova
Foi mostrada em Wimbledon a nova bola que será usada no US Open deste ano,
nas cores da bandeira americana (azul, vermelho e branco). É o primeiro
caso
de bolinha com mais de uma cor em torneios do Grand Slam. Nos anos 70, o
circuito do WCT usou bolinhas pintadas de amarelo e vermelho, que foram
odiadas por todos os tenistas.
E-mail: thalesmenezes@uol.com.br
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21/06/00 - Um outro esporte
14/06/00 - Não tem pra ninguém
07/06/00 - Simplesmente um show
31/05/00 - Paris é
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