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Quarta-feira, 5 de julho de 2000

Desprezo geral

Thales de Menezes
     
Diego Medina


Bom, Gustavo Kuerten foi derrotado por uma forte gripe. Não há nada a ser
dito, a não ser "vitamina C e cama", como dizia aquele antigo comercial de
remédio. Mas quem perde mesmo não é Kuerten, que já tratou de dirigir suas atenções para o confronto com os australianos na semifinal da Copa Davis.
Os grandes derrotados são os fãs de tênis espalhados pelo Brasil.
Porque a imprensa local ainda não tomou noção do verdadeiro crescimento do tênis junto ao público. Na maior parte dos casos, a cobertura jornalística do esporte é burra.
Jornais, revistas e emissoras de TV continuam na cobertura restrita à "Gugamania". Ainda é difícil fazer os donos do poder na imprensa esportiva enxergarem algo óbvio: o sujeito começa a acompanhar tênis por causa do Kuerten, mas vira um torcedor ligado ao esporte das raquetes. Quanto este colunista escuta uma discussão de balcão de padaria sobre quem é melhor, Sampras ou Agassi, sente que o público já está deixando a
imprensa para trás.
O cara pode ser fã incondicional de Kuerten, mas, pombas, o cara acaba gostando de tênis. Ele passa a ser um consumidor voraz de notícias do circuito internacional. Tudo bem, Kuerten ainda é o foco, mas hoje você encontra gente que tem enorme prazer em sentar diante da TV por horas para ver grandes jogadas, sejam elas executadas por brasileiros, americanos, australianos ou incas venusianos.
E o que a gente vê depois da derrota de Kuerten em Londres? O noticiário de Wimbledon murcha a cada dia. Tudo fica reduzido às notas óbvias e obrigatórias, do tipo "Sampras e Agassi avançam", e a um possível flagrante das pernas bronzeadas de Anna Kournikova. Cadê os resultados? Cadê os relatos, as análises? O torcedor de tênis, quando pode, apela à Internet. E quem não pode? Fica sem a informação que desejava. Pode ler pela enésima vez sobre a saída de Felipão do Palmeiras, o que não é nenhuma novidade para quem acompanha o noticiário de futebol.
A fórmula "Kuerten no torneio, manchete; torneio sem Kuerten, notinha" já está esgotada. Há uma boa fatia do público que deseja saber a razão de Byron Black sempre jogar bem em Wimbledon ou quer ler uma boa entrevista com Patrick Rafter. É o mesmo público que acompanha com simpatia uma reportagem sobre o novo corte de cabelo de Kuerten, mas que precisa de mais informação sobre tênis do que isso.
Antes que alguém diga que o colunista defende causa própria, que poderia estar forçando a barra na exposição desse cenário para pedir mais espaço ao esporte que analisa, basta lembrar como o número de praticantes de tênis cresce sem parar nas principais cidades brasileiras.
O bicampeonato de Kuerten em Roland Garros praticamente entupiu todas as quadras brasileiras. Amigos professores contam que, por incrível que pareça, há alunos pedindo aulas às 5h30, na falta de outros horários mais civilizados. Ora, se essa multidão está comprando raquete e encarando as quadras, com dedicação, é óbvio que é também uma massa em busca de informação sobre o esporte.
É uma turma que quer descobrir como Agassi consegue dar aquela cruzada espetacular, e não tem tanta necessidade assim de saber quais os CDs que Gustavo Kuerten comprou em Paris. Agora é hora da informação completa e qualificada. O público já está mais sofisticado. A imprensa, não.
Wimbledon corre o risco de acabar sem que as pessoas recebam relatos interessantes de seus jogos decisivos. Mas, tudo bem, não? A "ex" de Kuerten está peladinha na "Playboy". Parece que é o máximo que a imprensa quer revelar do mundo do tênis.

Notas

Bola fora
Mais um peladão em Wimbledon. A moça que entrou nua na Quadra Central antes da final de 1996, entre Richard Krajicek e MaliVai Washington, foi contratada por um tablóide sensacionalista inglês. Parece que o novo stripper era apenas um fã alucinado de Anna Kournikova. O fato de a tenista russa declarar nem ter notado a invasão da quadra decepcionou o sujeito.

Bola nova
Foi mostrada em Wimbledon a nova bola que será usada no US Open deste ano, nas cores da bandeira americana (azul, vermelho e branco). É o primeiro caso de bolinha com mais de uma cor em torneios do Grand Slam. Nos anos 70, o circuito do WCT usou bolinhas pintadas de amarelo e vermelho, que foram odiadas por todos os tenistas.



E-mail: thalesmenezes@uol.com.br



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