David Coulthard proporcionou ao público francês
uma grande corrida no último final de semana. Com vigor
e segurança, ultrapassou duas Ferraris e ignorou o
companheiro de equipe para alcançar sua nona vitória
na categoria, talvez a mais sólida, mais importante
de sua carreira.
Coulthard nunca esteve entre os preferidos da coluna, a meia
dúzia que a acompanha sabe muito bem disso. Mas quando
um piloto realiza performance como a do escocês, no
domingo, é necessário prestar atenção
ao fato.
Se
não tivesse trocado o pano de fundo de seu filme, Stallone
hoje teria uma excelente história para o enredo de
sua produção, em curso na América: piloto
considerado mediano, mas que confia em seu potencial e se
sente injustiçado, cai de avião (com a namorada),
quebra algumas costelas e decide correr mesmo assim alguns
dias depois; saudado como herói pelo público,
ganha a atenção da mídia, cava espaço
no time, supera o dick vigarista do filme (claro, um alemão
de frieza nazista) e ganha o campeonato aplaudido pelos adversários
ou qualquer coisa assim, um final idiota, como são
os finais da maioria dos filmes norte-americanos e como vem
sendo os de alguns dos últimos campeonatos.
Assim
como a chuva, enredos hollywoodianos ainda não fazem
parte do regulamento técnico _apesar de crer que não
estamos longe disso depois que a F-1 virou produto de consumo,
fadada a ocupar prateleiras de lojas ao lado de Garibaldos
e Pokemóns.
E
por isso ainda restam dúvidas sobre a capacidade de
Coulthard neste campeonato. Primeiro, óbvio, porque
seu adversário é o tal alemão, o sujeito
que daqui a pouco vai ter mais vitórias que todo o
resto do grid somado.
Segundo,
porque Coulthard terá que manter o ritmo demonstrado
na França pelo resto do ano, algo que ainda não
fez em sua carreira, marcada por altos e baixos _aliás,
a tônica de todos os rivais do alemão desde 1994.
E,
por último, preponderante, porque a McLaren prefere
e continua preferindo apostar em Mika Hakkinen, por mais que
isso pareça uma sandice neste momento.
Ao
contrário dos últimos anos, quando o finlandês
deixava claro na pista os motivos pelos quais a equipe inglesa
o favorecia, Hakkinen, neste campeonato, vem tendo um desempenho
quase medíocre para quem ostenta o título de
bicampeão a bordo de um dos melhores carros da categoria.
Sempre
reservado, Hakkinen merece uma enorme condescendência
da mídia, que o enxerga como um sujeito dividido entre
dúvidas existencialistas, a perspectiva de uma precoce
e milionária aposentadoria e o impacto da primeira
paternidade.
Pior,
a McLaren não parece disposta a desistir do finlandês.
Além
de confirmar o piloto para o ano que vem (talvez apenas uma
estratégia para animá-lo), vem lhe concedendo
folgas sistemáticas entre as corridas, como aconteceu
nesta semana, quando Coulthard e Panis ficaram encarregados
dos testes em Mugello.
Enfim,
o escocês, naquele que parece ser seu melhor momento,
vai ter que se desdobrar. Com o agravante de seu principal
rival, com plena noção dessa situação,
saber muito bem como usar isso.
NOTAS
F-1
A "Motoring News" escancarou os planos de Bernie
Ecclestone para os testes no ano que vem. Basicamente, banir
os ensaios entre as corridas e engordar a sexta-feira, com
seis horas de atividade. Em um primeiro momento, os times
se entusiasmaram com a potencial economia. Logo, porém,
as primeiras críticas começaram a aparecer.
Para Frank Williams, por exemplo, mais profícuo seria
agregar os tempos de sexta e sábado, idéia que
não é nova, mas que parece sensata. Qualquer
mudança precisa da anuência de todos os times.
Indy
Além de manter a liderança do campeonato, Roberto
Pupo Moreno confirmou o excelente momento ao vencer, no último
domingo, a corrida em Cleveland, a da pista no aeroporto.
Melhor para ele. Pior para os picaretas.
E-mail: mariante@uol.com.br
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