Você já viu um saci? Pois o Ditão Virgílio, um homem de 68 anos que nasceu e cresceu na "roça", já viu vários. A primeira vez foi quando ele tinha só 6 anos e acompanhava o pai, que tinha ido cortar lenha na floresta.
O Ditão (que ainda era Ditinho) ficou esperando sentado em um toco de madeira onde nascem uns cogumelos vermelhos chamados "orelha de saci" —olha a coincidência. Foi quando passou por ele um redemoinho de vento.
"Achei que era um sagui me provocando. Daí saí pela mata correndo atrás do redemoinho. Quando meu pai voltou para pegar o cavalo e não me achou, saiu doido me procurando", lembra Ditão.
"Ele foi contar pra minha mãe do meu sumiço, e ela disse logo a ele que eu devia estar brincando com o saci."
Depois disso, conta Ditão, os sacis começaram a aparecer direto para ele. "O saci virou meu amigo", garante. "Muitas vezes estou aqui em casa, dá um barulho, saio correndo pra ver e não acho nada. Daí sei que é ele."
Essa amizade levou Ditão —que nasceu, cresceu e mora em São Luiz do Paraitinga, município de São Paulo— a virar um observador de sacis. "Não sou caçador deles, deixo os sacis na mata, livres", explica.
Na segunda-feira (31), será comemorado o Dia do Saci. Não é à toa que a data cai no mesmo dia que o Halloween, o famoso Dia das Bruxas americano que faz sucesso no Brasil: ambos são parte do folclore de seus países e representam a cultura popular.
"Gostaríamos que, além de festejar o Halloween, as crianças também conhecessem mais sobre o saci, que é um mito muito rico", fala Mouzar Benedito, membro e fundador da Sociedade dos Observadores de Saci, a Sosaci, que fica também em São Luiz do Paraitinga.
Todos os anos, a Sosaci faz uma festança lá para celebrar o Dia do Saci. Este ano, com as eleições caindo em uma data próxima, as atrações foram divididas no último fim de semana e nesse agora.
Mouzar conhece e admira o observador Ditão. "Ele é o verdadeiro intelectual caipira. Ditão leva muita gente para o bambuzal dele para ver os sacis. E eles aparecem sempre no lusco-fusco, passando rapidamente", diz Mouzar.
Os sacis, conta Ditão, são seres da natureza, que vivem nas matas e protegem os bichos do Brasil. "Muitas vezes os caçadores soltam cachorros bravos, criados para matar, e o saci defende os animais deles."
No livro "Saci Pererê - Resultado de Um Inquérito" (editora Biblioteca Azul), de 1918, Monteiro Lobato reuniu mais de 70 depoimentos a respeito de todos os tipos de saci que existiriam no país.
Ditão fala que são três os mais comuns: o Trique (com 37 centímetros de altura), que quebra gravetos e tem um espinho para arranhar caçadores e deixá-los com dor por sete dias; o Saçurá (77 centímetros), que tem olhos vermelhos; e o famoso Pererê (57 centímetros), que visita as cidades de vez em quando.
Nessas visitas, o saci costuma deixar marcas. Enquanto na "roça" ele se diverte dando nós nas crinas dos cavalos, para que os animais saiam galopando e ele possa pegar carona, nos centros urbanos o saci gosta, por exemplo, de esconder objetos das pessoas.
Sabe quando, em casa, as chaves desaparecem, ou quando some aquele tênis de que a gente gosta? "Foi o Saci Pererê, que escondeu pra brincar com as crianças de 0 a 100 anos. E ele esconde, mas devolve", explica Ditão.
Outras curiosidades que ele conta: os sacis têm uma perna só porque a outra foi arrancada em uma explosão durante a separação dos continentes africano e americano; e sempre haverá um sacizinho dentro dos redemoinhos porque eles usam esse vento circular como locomoção.
Ditão já escreveu 7 livros. O principal deles, "Entre o Real e o Imaginário", está à venda em lojas do comércio de São Luiz do Paraitinga. É lá na cidade que o especialista em saci também faz suas palestras –vários colégios de São Paulo fazem viagens didáticas até lá, justamente para ouvir o que Ditão tem para contar.
TODO MUNDO LÊ JUNTO
Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança
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