TV Colosso estreava há 30 anos e até hoje desperta saudades nos adultos

Fios dos pelos da cachorra Priscila foram encomendados nos EUA; diretor Ferré e roteirista Laerte lembram curiosidades do programa

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São Paulo

Quem vê o vira-latas caramelo hoje em dia desfrutando da fama e do amor de toda a nação talvez não saiba que, há tempos, ele foi um grande astro da televisão —há exatos 30 anos, aparecia todas as manhãs na programação infantil da Rede Globo, como um dos personagens da extinta TV Colosso.

O programa, que estreou em 19 de abril de 1993, era estrelado por cachorros de variados tamanhos, incluindo o Gilmar, um caramelo genuíno que usava boné, camiseta e coletinho. É que Gilmar era contra-regras, funcionário fundamental para o funcionamento das emissoras de televisão, universo que a TV Colosso reproduzia.

Os cachorros Priscila (esq.) e Castilho (dir.), personagens da TV Colosso, da Rede Globo - Divulgação

Uma das personagens mais famosas era Priscila, a produtora, que ainda hoje participa de programas que relembram a TV Colosso (ela já até visitou Ana Maria Braga no Mais Você) e estrela campanhas publicitárias.

"A Priscila se atualizou, tem conta no Tik Tok, gravou um disco, pratica ioga, pilates, é antenada nas coisas", brinca Luiz Ferré, artista gráfico que junto de Roberto Dornelles criou e depois dirigiu a TV Colosso durante os quatro anos em que ela ficou no ar.

Ferré conta que, no início dos anos 1990, recebeu um telefonema de José Bonifácio Brasil de Oliveira, o Boninho, diretor na Globo, que pedia uma ideia de programa para ir ao ar depois que Xuxa deixasse a programação, e antes que Angélica assumisse aquele horário da grade.

"Ele me deixou inventar o que eu quisesse. Então, pensei em cachorros, animais que todo mundo adora e tem simpatia'’, lembra Ferré. Ele, que já tinha experiência com bonecos em seu grupo Cem Modos, criou dezenas de bonecos de cachorros para serem as grandes estrelas da atração.

"O Ferré já sabia que os cachorros iam ter diferentes tamanhos, seriam tanto fantoches quanto bonecos maiores com pessoas dentro. Era uma experiência baseada no trabalho do Jim Henson, [criador dos bonecos do programa] da Vila Sésamo. Mas ainda não tínhamos o contexto", lembra a cartunista Laerte, que integrava a equipe de 12 roteiristas da TV Colosso.

"As ideias variavam entre uma estação planetária espacial com cachorros e um submarino. Eram várias. Acabamos escolhendo a emissora de TV com cachorros e fomos trabalhando os personagens."

Capachão, por exemplo, era o funcionário puxa-saco, lembra Laerte, daquele tipo que vive fazendo de tudo para agradar aos chefes. Roberval era um ladrão de chocolates. Priscila tinha um namorado, que todo mundo achava muito chato, chamado Castilho.

Malabin era um cachorro verde-limão que interpretava um mágico e usava um turbante, enquanto Jaca Paladium era, segundo Ferré, "um mentiroso, contador de histórias e lorotas".

"Eu adoro os Gilmares. Eram vários iguais, inspirados naqueles caras que não trabalham muito, mas estão sempre por ali, à vista. Eram todos vira-latas caramelo, já antecipando essa tendência", ri Ferré.

Gilmar, o vira-latas caramelo da TV Colosso - Divulgação

Para criar Priscila, o diretor se inspirou em três amigas de trabalho. "Homenageei minha maquiadora, uma produtora de casting, que caminhava igualzinho à personagem, e uma produtora de platô", revela Ferré, se referindo a várias profissões típicas do mundo da TV.

Ele escolheu a raça sheep dog para dar forma à personagem, principalmente porque queria um cachorro bem grande para representá-la, em contraponto a vários outros bonecos pequenos ("de luva") que acabavam presos a cenas atrás das mesas.

"Ela até dançava!", relembra Ferré. "Encomendamos os fios dos pelos dela em uma fábrica de Boston, nos Estados Unidos, ela ficou bonitona pra caramba. Era tudo muito especial."

Ao todo, a TV Colosso tinha 28 bonecos, sendo 25 cachorros e três pulgas. Os cachorros se desdobravam entre vários papéis, e acabavam interpretando 50 personagens. A cada dois meses, os bonecos eram colocados em uma banheira e lavados com água e sabão.

Embora tenha ficado só quatro anos no ar, indo ao ar diariamente às 8h, a TV Colosso foi um sucesso de audiência e rendeu vários produtos: dois discos, uma peça de teatro, shows de música e 120 produtos licenciados, como brinquedos e álbum de figurinhas.

Ferré também dirigiu um filme longa-metragem chamado "Super Colosso"em 1996, com os personagens do programa.

"A abertura da TV Colosso ficou muito famosa, era do Hans Donner, com uma música tema cantada pelas Paquitas e escrita pelo Michael Sullivan e Paulo Massadas", conta Ferré.

Laerte também se lembra com carinho dos tempos de TV Colosso. "Aqueles cachorros eram bem legais. Não existia isso na nossa televisão, só os similares americanos. O fato de ser um programa brasileiro foi muito divertido", diz.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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