Descrição de chapéu quadrinhos

Popeye completa 95 anos de sucesso incontestável apesar de 'probleminhas' no enredo

Popular em jornais, no cinema e na TV, personagem estimulou consumo de espinafre e espelhou hábitos de uma época

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São Paulo

Se você simplesmente disser "espinafre" para alguém que tenha, digamos, 30 anos ou mais, muito provavelmente virá na cabeça dessa pessoa a imagem de um marinheiro com um olho fechado, queixo evidente e partido ao meio, grandes antebraços e cachimbo no canto da boca —o Popeye. Com sua primeira aparição em janeiro de 1929, inicialmente numa tirinha de jornal (e ele nem era o personagem principal), o marujo faz 95 anos nesta quarta-feira (17).

O marinheiro Popeye com sua latinha de espinafre - Divulgação

Desde cedo, foi arrebatador o sucesso de Popeye, primeiro nas tirinhas (que chegaram a aparecer em mais de 500 jornais ao mesmo tempo), depois no cinema (onde estreou só quatro anos depois, em 1933) e por fim em séries de desenhos animados para a TV (que renderam mais de 600 episódios).

Mas o que pode explicar todo esse êxito? A Folhinha conversou com pessoas entendidas do mundo dos quadrinhos e até com uma nutricionista para entender a questão.

Uma das respostas é que Popeye era uma espécie de pai dos super-heróis modernos. O super-homem, como você pode já ter descoberto lendo outra matéria na Folhinha, foi lançado só em junho de 1938, mais de nove anos depois de Popeye dar as caras pela primeira vez.

A força de Popeye vem justamente do espinafre, uma verdura amarga e bastante saborosa (uma vez que você se acostuma com ela). Em momento de necessidade, é só abrir uma lata e ingerir o conteúdo e botar os vilões para correr. A lata, recurso importante para a conservação de alimentos, não é muito comum no Brasil, já que é muito fácil achar espinafre fresco para comprar por aí.

E, de fato, o espinafre gera um monte de benefícios no nosso corpo, explica a nutricionista Bianca Naves. Por exemplo, ele é rico em nitratos, substâncias que ajudam os vasos a se dilatarem, fazendo o sangue chegar mais facilmente nos músculos, e em nutrientes como ácido fólico, vitamina A, C, ferro e cálcio, além de fibra alimentar, que ajuda nosso intestino a funcionar melhor e reduz o risco de doenças como diabetes e infarto.

Mas, por melhor que o espinafre seja, não dá para viver só dele, avisa a nutricionista. É importante ter uma alimentação completa: "Aquela que tem arroz, feijão, uma carne magra, por exemplo, com verduras e legumes coloridos no prato, como o próprio espinafre, cenoura e tomate", exemplifica.

Além do espinafre, há outros motivos que tornam Popeye especial. Ele foi o primeiro personagem de quadrinhos a ganhar uma estátua pública. Isso foi em 1937, em Crystal City, uma cidade de produtores de espinafre no estado do Texas, lembra Ivan Costa, sócio-fundador e curador de quadrinhos da CCXP.

Para Ivan, fã de Batman, o mais legal do Popeye é que ele foi das tirinhas às animações para o cinema, ganhou revistas em quadrinhos próprias, além de desenhos animados que se tornaram famosos em todo o mundo. "E isso tudo numa época em que não havia internet! É incrível!".

Outro entusiasta dos quadrinhos, Marcelo Naranjo, editor do Universo HQ, diz ser fã do senso de humor mais adulto das primeiras tirinhas do Popeye, que tinham até crítica social. Para alcançar uma maior audiência, inclusive de crianças, as piadas e as sacadas foram mudando, descreve.

Outro ponto marcante é a música. Mesmo quem não conhece Popeye e amigos, facilmente reconhece a música e sai assobiando a melodia.

O criador e primeiro desenhista do Popeye, E.C. Segar (1894-1938), se inspirou numa figura que conheceu em sua cidade, Chester, no estado americano de Illinois. Frank "Rocky" Fiegel (1868-1947), de fato, é a cara do Popeye. Que nos perdoe Robin Williams, que interpretou o marujo no filme Popeye, de 1980.

Apesar do incontestável sucesso de quase um século, existem alguns probleminhas no enredo nas aventuras de Popeye. Um bastante evidente é o o fato de ele estar sempre com um cachimbo à boca. Fumar é um hábito nada saudável e isso não deve servir de inspiração a ninguém.

Outra coisa que não é legal é a briga entre o mocinho Popeye e o vilão Brutus por Olívia Palito. Muitas vezes é como se ela fosse um troféu a ser dado ao vencedor da disputa, em vez de simplesmente ser ouvida e ter suas vontades respeitadas.

"É complicado quando você tem esse elemento [machismo] como a espinha dorsal do personagem, que está ali para defender uma donzela em perigo. Hoje em dia esse conceito não é mais aceito. Imagina se ela sempre dependesse de alguém para defendê-la, ainda mais contra quem quer ficar com ela na marra!", diz Ivan.

Quem teve a oportunidade de adaptar a história de Popeye para um novo contexto foi o ilustrador brasileiro Marcelo Leis, que, junto como roteirista francês Antoine Ozanam lançou em 2021 o livro "Popeye - Um Homem ao Mar" (Skript Editora, R$ 109, 120 págs.).

O livro, ambientado nos anos 1970, é para adultos (e o cachimbo, portanto, continua lá), mas Olívia Palito é mais dona de si, distribui uns sopapos e aparece de cabelo cortado num certo momento da trama.

Na história, Popeye sofre com a chegada de grandes corporações que estão dificultando o trabalho de pequenos pescadores, como ele. "A gente não ficou somente na questão herói. Há questões ali que são muito pertinentes a todos nós até hoje", diz Lelis.

Nem só de HQs e desenhos animados vive Popeye. Até hoje é comercializado espinafre em lata com o nome do marujo —o consumo da verdura nos EUA chegou a subir 33%, de acordo com o site oficial do Popeye.

Outra coisa curiosa se deve ao coadjuvante Dudu (Wimpy, em inglês), um caloteiro glutão apaixonado por hambúrgueres, mas que só quer pagar por eles na próxima terça-feira. Ele dá nome, no mundo real, uma rede de hamburguerias (Wimpy’s).

Popeye e seus amigos podem ser quase centenários, mas energia é o que não falta para essa turma.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é recomendado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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