Como posso ajudar um amigo com deficiência na escola?

Conviver e ter amigos diversos faz bem para todos as crianças e aumentam a nossa capacidade de se colocar no lugar do outro

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Raphael Preto Pereira
São Paulo

Helena tem 9 anos, é uma criança com surdez e usa um aparelho para ouvir melhor. Júlia, de 10 anos, tem um transtorno que faz com que se expresse de uma forma diferente, trocando algumas palavras e letras. Ela também tem dificuldade para entender alguns sons, e às vezes precisa que as pessoas repitam o que dizem, para que tenha certeza do que ouviu.

Júlia diz que Helena é a sua melhor amiga, e Helena lembra que os primeiros contatos delas foram em conversas e brincadeiras no pátio da escola. Ela também se recorda que quando começou a estudar no colégio Equipe, em São Paulo, achou o local um pouco barulhento. Júlia conta que ficou um pouco com vergonha de se aproximar de Helena, porque todo mundo queria ser amigo dela.

Os amigos Lucas e Fernando em São Paulo
Os amigos Lucas e Fernando em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Deficiência é uma dificuldade em executar alguma coisa como uma brincadeira, uma atividade escolar ou mesmo uma ação rotineira, como falar, comer e escrever.

As pessoas com deficiência —essa é a forma correta de chamá-las— realizam as mesmas coisas que as pessoas sem deficiência. Elas apenas o fazem de outro jeito ou usando mais tempo nisso.

Para se referir a elas, também para usar a sigla PCD. Em certos casos elas precisam de auxílio para fazer algumas atividades. Você verá nas Paralmpíadas, que começam na semana que vem, um acompanhante que não é cego auxiliando um corredor que não enxerga, por exemplo.

Por muito tempo acreditavam que as pessoas com deficiência eram culpadas de suas dificuldades. Uma visão mais moderna, porém, crê que a deficiência só aparece quando uma PCD topa com uma barreira. Que pode ser a falta de uma rampa para entrar em uma loja ou na escola, ou mesmo o preconceito das pessoas que convivem com ela.

Hoje, na maior parte dos casos, as pessoas com e sem deficiência estudam juntas. Em 91,3% dos casos, para ser mais exato --os números são do governo federal. Já faz um tempo que existe esse movimento chamado de inclusão. Ele, no entanto, nem sempre foi bem aceito.

"Me lembro da época em que estudava em uma escola pública de São Paulo, e as crianças com deficiência ficavam em classes separadas. Aquilo para a gente era um outro mundo", afirma o professor de artes Bruno, de 35 anos, que é pai de Otávio, 10.

Cordão de girassol dobrado formando o símbolo da prevenção
Cordão de girassol é o símbolo de identificação das pessoas com deficiências ocultas - Roberto Suguino/Agência Senado

Otávio é autista não verbal. Ou seja, ele não fala. O pai dele diz que a condição do filho o fez questionar se valeria a pena mesmo colocá-lo em uma escola com pessoas de todo o tipo. "Chegamos a procurar algumas escolas especiais. A gente se preocupava muito com o fato de ele precisar de um acompanhamento, de uma atenção específica", lembra.

Bruno, o pai, diz que não se arrepende da opção por uma escola inclusiva. "É importante que meu filho conviva com a diversidade, perceba a existência do diferente." E, além disso, a escolha trouxe benefícios para a socialização do menino.

"Alguns autistas têm uma dificuldade de lidar com espaços barulhentos, com brincadeiras ou música, mas o Otávio não. Ele gosta disso e eu acho que isso acontece porque ele está em uma escola pública e diversa", afirma.

O vínculo de Otávio com os colegas é intenso. Ele estuda com a mesma turma desde o primeiro ano e já foi até convidado para festas fora da escola. "Nessas ocasiões ele brinca muito e se diverte", conta o pai. Ele gosta de jogos e de correr.

"As crianças aceitam mais os colegas com deficiência do que os próprios adultos", afirma Fabiana Ferreira, professora na escola municipal Bartolomeu Campos de Queirós, que fica em Sapopemba, na zona leste de São Paulo. Seu trabalho é auxiliar as crianças com deficiência a realizar atividades.

Uma escola inclusiva é boa para todas as crianças, segundo alguns estudos que já foram feitos a respeito do tema. Isso ajuda a desenvolver algumas habilidades, como a empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Um gesto simples e singelo demonstra como essas coisas acontecem na prática.

Lucas e Fernando têm 9 anos. Eles estudam juntos em uma escola particular na zona norte de São Paulo. Lucas não gosta que ninguém passe a mão na sua orelha, mesmo que carinhosamente. O único amigo que ele permite que faça isso é Fernando. Eles estão juntos desde a educação infantil.

Lucas tem paralisia cerebral, uma deficiência que compromete a sua fala e o seu movimento. Por causa disso, a mãe dele, Claudemir, de 50 anos, achava que ele poderia não estar preparado para ser matriculado no ano escolar que correspondia à idade dele.

Os amigos Lucas e Fernando em São Paulo
Os amigos Lucas e Fernando em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

"A gente chegou a pensar em pedir que ele ficasse mais um período na série anterior, mas a socialização dele com os outros meninos foi tão boa que a gente desistiu", lembra a mãe.

Ela diz, no entanto, que isso só foi possível com a ajuda de Fernando. "Ele é a ponte do Lucas com os outros meninos, não gosta que ele fique isolado e o chama para brincar", conta.

A mãe de Fernando, Regiane, de 46 anos, diz que que a presença de Lucas é muito importante "para que os demais estudantes aprendam a olhar o mundo sob a perspectiva do outro". Um álbum de fotos organizado pelas duas famílias mostra os amigos se divertindo em situações rotineiras como as festas da escola ou na hora do lanche, quando Fernando ajuda Lucas a se alimentar.

A professora Fabiana dá dicas para o estudante sem deficiência que quiser auxiliar o colega com alguma deficiência ou transtorno.

"É fundamental nunca fazer nada como empurrar a cadeira, por exemplo, sem perguntar antes para a criança com deficiência se ela quer ou não", afirma. Além disso, é importante pensar em brincadeiras nas quais todos, independentemente da deficiência possam brincar, e respeitar a opinião e a individualidade dos colegas.

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