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Televisão

Como 'Pantanal' se beneficiou do fim dos contratos fixos na Globo

Globo pôde trazer nomes até então restritos ao teatro, ajudar o mercado de atores e apresentar novas caras aos espectadores

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São Paulo

Dentro de poucos anos, nenhum ator terá vínculo de longo prazo com a Globo. A emissora está deixando vencer os contratos ainda em vigor —e não renovando quase nenhum. Está em vias de adotar o modelo que predomina no resto do mundo —a imensa maioria dos canais de TV não têm elenco fixo, e os talentos são contratados por empreitada.

A Globo vem trabalhando de forma híbrida na escalação de atores para sua dramaturgia, combinando medalhões com décadas de casa com caras desconhecidas do público. O resultado vem se mostrando interessante. As novelas mais recentes têm dado visibilidade a dezenas de ótimos atores, que talvez não tivessem essa oportunidade até pouco tempo atrás.

A atriz Isabel Teixeira em cena de 'Pantanal' - Globo/João Miguel Júnior

É o caso de "Pantanal". O remake da trama de Benedito Ruy Barbosa, que termina nesta sexta-feira, mistura estrelas consagradas, ainda sob contrato, com nomes que foram dispensados e agora chamados de volta temporariamente, além de vários estreantes no vídeo —ou quase.

Nos papéis principais, uma dupla experiente, conhecidíssima pelo espectador. Marcos Palmeira encarnou o patriarca José Leôncio, 32 anos depois de ter interpretado um dos filhos deste, Tadeu, na versão original da TV Manchete —este papel agora coube a José Loreto, que não tem mais contrato de longo prazo com a Globo.

Sua companheira Filó foi vivida por Dira Paes, uma especialista em mulheres do povo —uma escalação meio óbvia, mas que não chega a ser preguiçosa. Muito piores são os casos de Ana Beatriz Nogueira, eternamente convidada para representar peruas antipáticas, ou Gabriel Braga Nunes, que quase sempre é o vilão das obras em que atua.

O casal jovem, obrigatório em qualquer novelão tradicional, coube a Jesuíta Barbosa e Alanis Guillen. Ele, que apesar de jovem já fez inúmeros trabalhos na TV, deu vivacidade a Jove, o filho urbano de José Leôncio.

Ela tinha apenas um título no currículo, a temporada de 2019 da extinta "Malhação", da qual foi protagonista. Em "Pantanal" foi Juma, a mulher-onça, o papel mais emblemático da trama. Ela se saiu bem, mas não atingiu o mesmo impacto que Cristiana Oliveira conseguiu com a personagem em 1990 —talvez até porque, hoje em dia, não existam mais muitas revistas das quais ela poderia ser capa.

Cristiana Oliveira, Juma Marruá, em "Pantanal"
Cristiana Oliveira como Juma Marruá, na versão de 1990 de 'Pantanal' - Divulgação

São pelo menos dois os problemas gerados por um elenco fixo numeroso. Os diretores se veem obrigados a usar os atores que já estão sob contrato, e não necessariamente os mais indicados para cada papel. Além disso, quem se dá bem com um tipo de personagem acaba sendo eternamente convidado para interpretar o mesmo papel, o que acaba se tornando monótono.

A liberdade de trazer nomes do mercado deu uma arejada no vídeo. "Pantanal" se beneficiou disso, e alguns atores de renome apenas no teatro tiveram a chance de brilhar na TV.

Ninguém mais do que Isabel Teixeira, que já tinha uma carreira sólida nos palcos como atriz e diretora. A filha do compositor Renato Teixeira emocionou o país como Maria Bruaca, a mulher humilhada e traída do malvado Tenório, interpretado por Murilo Benício.

Isabel Teixeira deu sorte. A primeira atriz cogitada para o papel de Maria Bruaca foi uma estrela da Globo, Débora Bloch, que acabou sendo deslocada para "Mar do Sertão", atual ocupante da faixa das seis da tarde.

Outra escalação de penúltima hora foi Osmar Prado, que, como o Velho do Rio, teve seu melhor momento na TV em anos. Ele entrou no lugar de Antonio Fagundes, que voltaria à Globo depois de encerrar seu contrato fixo, mas acabou não chegando a um acordo financeiro com a emissora.

Camila Morgado, que viveu Irma, retornou à Globo depois de protagonizar duas séries no streaming"Bom Dia Verônica", na Netflix, e "A Sentença", no Prime Video. Sua carreira alcançou um ritmo intenso nos últimos anos, com trabalhos em diferentes plataformas.

O novo modelo permite que a Globo varie mais seus elencos, o que é bom para o mercado de atores num sentido amplo e ótimo para o espectador. Mas também acaba gerando situações curiosas.

Lucy Alves, a protagonista de "Travessia", próxima novela das nove, também estrela "Só se For por Amor", série que chegou à Netflix há apenas duas semanas. Fossem outros os tempos, isso não aconteceria, mas a realidade agora é outra.

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