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Quem é Troye Sivan, ícone gay que lança 'Something to Give Each Other' e exala sexo

Cantor australiano, que esteve recentemente na série 'The Idol', tem extrapolado os ouvintes LGBTQIA+ e virou figura fashion

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O cantor e ator Troye Sivan

O cantor e ator Troye Sivan Magdanela Wosinska/The New York Times

Cannes (França)

"A verdade escorre ferozmente/ como uma lágrima pela bochecha." Foi com esses versos que Troye Sivan abriu uma de suas canções de maior sucesso, "Heaven", há oito anos. Uma referência ao ato de se assumir gay, a frase poderia também ser a descrição da discografia do músico.

O cantor e ator Troye Sivan
O cantor e ator Troye Sivan - Magdanela Wosinska/The New York Times

Experiências pessoais e uma espécie de memória coletiva compartilhada entre homossexuais, afinal, guiam a carreira do australiano nascido na África do Sul, que alcançou status de ícone queer com um pop intimista, mas também dançante.

Um tanto de nicho, a alcunha não impediu que sua bolha se tornasse porosa com o passar do tempo –prova disso é a legião de fãs brasileiros que o viu hipnotizada no Lollapalooza de 2019. Agora, ao se preparar para o lançamento de seu terceiro álbum, ainda sem data, Sivan deve chegar a mais ouvidos, graças ao papel que conseguiu na série do momento, "The Idol".

"Mas eu não me preocupo em ser de nicho, porque meu objetivo é me expressar. Eu não fico pensando em quem vai ouvir minha música, eu só escrevo o que me faz bem e torço pelo melhor", disse o cantor, de 28 anos, no último Festival de Cannes, onde a série foi exibida.

"Eu já saí do estúdio sentindo que um peso deixou as minhas costas. A música para mim é definitivamente como uma terapia. Os sentimentos têm muitas nuances, então poder capturar isso numa canção é muito gratificante."

Ele recebeu jornalistas durante o evento vestindo uma regata tricô de tons azuis, que deixava os braços finos despidos e fazia par com seus olhos. Troye Sivan também é um ícone fashion, e dali embarcaria numa turnê de desfiles de grifes como a Dior, que com frequência o põe na plateia vestindo modelitos andróginos.

Nesses eventos, ele costuma ser visto ao lado de outros ícones queer de sua geração, como o saltador Tom Daley e os astros de séries gays da Netflix, como Manu Ríos, Omar Rudberg e Kit Connor. Na festa do Oscar promovida pela revista Variety neste ano, apareceu com o corpo magérrimo embrulhado por um macacão de couro lustroso, quase fetichista.

O ator e músico Troye Sivan em festa da revista Variety, após o Oscar deste ano - Danny Moloshok/Reuters

É com ousadia que o astro vem se apresentando recentemente. Não bastasse o papel em "The Idol", que o pôs em festas alucinógenas, o transformou em testemunha de cenas de tortura e o vestiu com uma coleira de choque, Sivan fez do sexo um grande amigo.

Nas últimas semanas, ele tem usado o Instagram para anunciar seu próximo single, "Rush", com lançamento em 13 de julho, e o novo álbum. As fotos de divulgação, provocantes, foram escolhidas para despertar a tal "agitação" que batiza a música. Há seu rosto orgasticamente contorcido sobre um lençol, um pacote de camisinhas aberto e seu corpo nu encaixado na cama, como se penetrasse o colchão.

Sivan está sempre reforçando a estética e os temas queer de seu trabalho. Se em "Heaven" cantou sobre não querer perder uma parte de quem é para poder entrar no paraíso, enquanto filmagens de arquivo mostravam beijos, carícias e marchas do orgulho LGBTQIA+, na trilogia formada por "Wild", "Fools" e "Talk Me Down" narrou a história de amor e preconceito de dois amigos de infância que se descobrem juntos.

Em "Bloom", já sugeriu que frases como "eu desabrocho só para você", "espere um segundo, baby, e desacelere" e "ponha gasolina no motor" são referências ao sexo anal. Mais recentemente, em "Angel Baby", deixou a cueca "thong" –a famosa fio-dental– vazar da calça enquanto entoava uma balada inegavelmente fofa.

No vídeo, o branco pastoso de um bolo feito de chantilly pinta o corpo de twink de Troye Sivan –isto é, magro, liso, essencialmente jovem–, enquanto homens musculosos o beijam e ele canta sobre querer morar naquele momento para sempre, por ter medo que a vida não possa ser melhor do que quando ele está com o seu anjo.

Lutar pelo que acredita, se apaixonar e fazer sexo, porém, são experiências universais, mesmo que embaladas pela bandeira do arco-íris. E é por isso que Troye Sivan diz acreditar que sua discografia tem passaporte para transitar por qualquer tipo de ouvinte.

"Isso é algo que eu aprendi ouvindo Amy Winehouse quando era criança. Você pode pensar que escrever sobre coisas muito pessoais e específicas vai alienar o público, mas, na verdade, faz o oposto. Então minha filosofia é sempre escrever do coração, ficar vulnerável diante da música", diz.

Sua lista de referências é quase inteiramente formada por divas. Ele já declarou sua admiração por Lady Gaga e Madonna e fez covers de "Somebody to Love", icônica na voz de Freddie Mercury, e de Britney Spears, ainda nos primórdios de seu canal no YouTube.

Foi lá que ele começou a ganhar projeção, como parte da primeira leva de youtubers profissionais dos anos 2000. Muitos dos vídeos ainda estão lá, com o rosto adolescente de Troye Sivan fazendo bobagens e respondendo perguntas de fãs. Num dos mais vistos, que completa uma década em agosto, ele sai do armário, o que só o impulsionou.

Dos menos de 1 milhão de visualizações que antes conseguia por postagem, hoje ele acumula 15 milhões, 30 milhões, 60 milhões a cada canção. Chegou a 210 milhões com "Dance to This", parceria com Ariana Grande, amiga bastante próxima do cantor.

Muito antes de trilhar carreira nas telinhas da internet, no entanto, Troye Sivan já atuava em filmes e participava de apresentações musicais na TV australiana. Nos palcos, protagonizou uma montagem de "Oliver!", em Perth, que abriu o caminho para ele vestir as garras de uma versão infantil de Logan, em "X-Men Origens: Wolverine".

O cantor Troye Sivan viveu o jovem Wolverine em "X-Men Origens: Wolverine", de 2009
O cantor Troye Sivan viveu o jovem Wolverine em 'X-Men Origens: Wolverine', de 2009 - Divulgação

Na sequência, estrelou a série de filmes do gênero "coming of age" "Spud", até embarcar de vez na vida de cantor, em 2015. De tempos em tempos, ela dá a ele um intervalo para voltar às raízes de ator, como acontece agora com "The Idol" e como foi o caso nos filmes "Boy Erased: Uma Verdade Anulada" e "Três Meses", ambos com temática queer.

"Atuar veio antes, profissionalmente, mas eu canto a minha vida inteira. A música para mim é tudo, é a minha vida. O resto são desafios divertidos."

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