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EUA construíram poder global com massacres da esquerda, diz Vincent Bevins

Jornalista discute assassinato em massa na Indonésia em 1965 e heranças da cruzada anticomunista da Guerra Fria

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Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Geógrafo e mestre pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

Nos primeiros anos da Guerra Fria, a capital da Indonésia, Jacarta, dava nome à política de relativa tolerância dos Estados Unidos com a neutralidade dos países do chamado Terceiro Mundo, que buscavam sua emancipação dos antigos colonizadores e um caminho próprio de desenvolvimento.

Em pouco tempo, isso mudou: a Casa Branca passou a considerar que governos neutros eram inimigos, e a CIA começou a patrocinar golpes e rebeliões por todo o mundo para instaurar regimes alinhados.

Jacarta, então, virou sinônimo do método de extermínio de pessoas vistas como comunistas – em 1965, depois da derrubada de Sukarno, o líder da independência do país, de 500 mil a mais de 1 milhão de civis foram assassinados na Indonésia, dizimando seu Partido Comunista.

Nos anos seguintes, a eliminação de opositores de esquerda se tornou uma tática de terror empregada em mais de 20 países.

O ditador Suharto (à dir.) em 1966, que assumiu o poder depois de um golpe cuja responsabilidade recaiu sobre os comunistas; de 500 mil a mais de 1 milhão de civis foram assassinados em seguida - The New York Times

O jornalista americano Vincent Bevins, ex-correspondente do Los Angeles Times no Brasil e do Washington Post no Sudeste Asiático, reconstrói a história global dessa cruzada anticomunista no livro "O Método Jacarta" (Autonomia Literária).

No episódio desta semana, ele explica como um evento dessa proporção ainda é tão pouco conhecido dentro e fora da Indonésia e diz que os massacres durante a Guerra Fria indicam que a formação da ordem capitalista de hoje, liderada pelos Estados Unidos, teve muito mais violência que as pessoas estão acostumadas a pressupor.

Homem com camiseta branca e jaqueta azul em rua
Retrato do jornalista Vincent Bevins, autor de 'O Método Jacarta' - Martinus Rimo/Divulgação

Espalhou-se uma história fantasiosa, que dizia que o movimento de mulheres da Indonésia tinha castrado os generais do Exército em algum tipo de missa comunista satânica que também foi orgia. Ou seja, todos os elementos que iam ativar as emoções de um país conservador. Essa história foi espalhada com apoio dos EUA e do governo britânico e usada para exterminar a esquerda e, até agora, é a única versão que se pode contar no país

Vincent Bevins

jornalista

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O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Rodrigo Nunes, que discutiu as raízes do bolsonarismo, André Lara Resende, crítico da teoria econômica mainstream, James Green, brasilianista autor de um clássico sobre a história da homossexualidade no Brasil, Sidarta Ribeiro, neurocientista que desenvolve pesquisas sobre a importância de sonhar, Heloisa Starling e Miguel Lago, autores de ensaios sobre a lógica de destruição do bolsonarismo, Fábio Ulhoa Coelho, professor de direito que ponderou sobre as relações entre liberdade e igualdade, Debora Diniz, acadêmica que se dedica às áreas de gênero e direitos reprodutivos, Deivison Faustino, que desenvolve pesquisas sobre a obra de Frantz Fanon, Fernando Morais, biógrafo de Lula, Sergio Miceli, sociólogo que tratou de Drummond e do modernismo, entre outros convidados.

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