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Obra de Fanon questiona identitarismo branco, afirma pesquisador

Deivison Faustino discute pensamento do intelectual sobre racismo e colonialismo e suas críticas às identidades

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Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Geógrafo e mestre pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

O pensamento de Frantz Fanon é o tema do Ilustríssima Conversa desta semana.

Fanon, psiquiatra martinicano morto em 1961, se tornou célebre por suas análises do sofrimento psíquico causado pelo racismo e foi um dos mais importantes intelectuais das lutas de independência dos países africanos nos anos 1950.

Para discutir sua obra, que vem sendo redescoberta nos últimos anos, o podcast recebe Deivison Faustino, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em Santos e autor de "Frantz Fanon e as Encruzilhadas: Teoria, Política e Subjetividade" (Ubu).

Neste episódio, Faustino explica os fundamentos da crítica de Fanon ao racismo e à racialização. O psiquiatra defende que o branco cria o negro e, para sustentar o projeto de exploração colonial, nega a ele o reconhecimento como sujeito.

O psiquiatra e escritor Frantz Fanon
Retrato do psiquiatra e escritor Frantz Fanon - Divulgação

Ao fazer isso, escreve Fanon, o branco também constrói uma prisão para si. De toda forma, passa a projetar uma ideia de representar o que é universal, enquanto os grupos racializados são vistos como portadores de identidades inferiorizadas.

Faustino aborda a atualidade de Fanon nos debates atuais sobre branquitude e privilégio branco e discorre sobre como o autor pode ajudar a pensar a questão do identitarismo, a afirmação de grupos marginalizados que acaba resvalando para a exclusão de quem é diferente.

Deivison Faustino, professor da Unifesp e autor de 'Frantz Fanon e as Encruzilhadas' - Divulgação

Para o pesquisador, a obra de Fanon ensina que brancos também são identitários e que é preciso questionar esse identitarismo. Criticar os limites dos movimentos negros sem olhar para o racismo dos brancos, diz, significa direcionar as armas para quem está perdendo a batalha.

Antes de criticar o identitarismo negro, a principal tarefa é criticar o identitarismo branco, que está presente nas ciências sociais, na filosofia, na psicologia, no jornalismo, nas religiões. Embora não se paute necessariamente por uma defesa do branco —o branco não aparece nomeado—, todas as vezes que se fala de humano, é do branco que está se falando

Deivison Faustino

professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Fernando Morais, biógrafo de Lula, Sergio Miceli, sociólogo que tratou de Drummond e do modernismo, Daniela Arbex, jornalista que investigou a tragédia de Brumadinho, Tatiana Roque, pesquisadora que discute as relações entre mudanças climáticas e política, Margareth Dalcolmo, que falou sobre a variante ômicron e a perspectiva de tratamento precoce real da Covid-19, Marcelo Semer, autor de livro sobre o Judiciário e a política no Brasil, Eliane Brum, que alertou sobre a necessidade de preservar a Amazônia no contexto atual de crise climática, Renan Quinalha, para quem a LGBTfobia de Bolsonaro atualiza moralismo da ditadura "hétero-militar", Simone Duarte, que defendeu que o 11 de Setembro nunca terminou no Afeganistão, Natalia Viana, que discutiu a politização das Forças Armadas, Camila Rocha, pesquisadora da nova direita brasileira, Antonio Sérgio Guimarães, que recuperou a história do antirracismo no Brasil, entre outros convidados.

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