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Brasil caçou seus próprios cidadãos no Chile de Pinochet, diz Roberto Simon

Analista narra como a ditadura brasileira patrocinou golpe contra Allende e apoiou novo regime militar

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Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Geógrafo e mestre pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

Em outubro de 1973, um mês depois do golpe militar que derrubou o presidente socialista Salvador Allende, agentes da ditadura brasileira foram despachados em um bimotor da FAB para Santiago, capital do Chile.

Os oficiais tinham uma missão especial: trabalhar com militares do regime comandado pelo general Augusto Pinochet no Estádio Nacional, que tinha sido transformado em um campo de prisioneiros.

Os vestiários foram convertidos em celas superlotadas, o velódromo virou um complexo de tortura, e pilhas de cadáveres começaram a se acumular nos corredores por onde as torcidas caminhavam.

Entre os milhares de chilenos e estrangeiros que passaram pelo estádio, pelo menos 52 eram brasileiros —abandonados à própria sorte pelo Itamaraty, muitos foram torturados pelos seus concidadãos, de acordo com relatos de presos.

Retrato de Roberto Simon
Retrato de Roberto Simon, autor de 'O Brasil Contra a Democracia: a Ditadura, o Golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul' - Luciana Golcman/Divulgação

O episódio, que por pouco não deixou rastros em registros oficiais, é uma das muitas cenas que Roberto Simon recompõe em detalhes no livro "O Brasil contra a Democracia: a Ditadura, o Golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul" (Companhia das Letras).

Na obra, o jornalista, mestre em políticas públicas pela Universidade Harvard e ex-colunista da Folha revela, com base em uma extensa pesquisa em documentos oficiais e entrevistas, que a ditadura brasileira tentou minar o governo de Allende, patrocinou sua derrubada e apoiou o novo regime militar em várias frentes.

Salvador Allende (1908-1973) em foto sem data - AFP

No episódio desta semana, Simon explica como o Brasil serviu de modelo para os conspiradores chilenos e por que as ações da ditadura na destruição da democracia chilena devem ser vistas como uma política de Estado, não como desvios ocasionais de alguns burocratas.

O autor também aborda as relações entre o Brasil e os Estados Unidos no contexto da derrubada de Allende. Para Simon, ainda que os dois países tivessem interesses comuns no golpe no Chile, não existiu uma operação coordenada entre Brasília e Washington e, portanto, a interpretação de que o Brasil se subordinava à Casa Branca é um mito, que esconde mais que revela.

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Heloisa Buarque de Hollanda, que situou as principais tendências do pensamento feminista contemporâneo, Ilona Szabó, que discutiu as ameaças à democracia no Brasil, Luiz Simas, que apontou os conflitos do Brasil institucional e da brasilidade, Malu Gaspar, que descreveu os escândalos de corrupção e a derrocada da Odebrecht, Flavia Rios, coorganizadora de coletânea da intelectual Lélia Gonzalez, Karla Monteiro, biógrafa do jornalista Samuel Wainer, Vinicius Torres Freire, que tratou de medidas econômicas durante a crise do coronavírus, Muryatan Barbosa, pesquisador da história do pensamento africano, e Júlio Delmanto, autor de livro sobre a história social do LSD no Brasil, entre outros convidados.

A lista completa de episódios está disponível no índice do podcast. O feed RSS é https://folha.libsyn.com/rss.

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