União pela democracia mostra que saída é pela política, dizem autores

Gabriela Lotta e Pedro Abramovay discutem papéis de burocratas e propõem concertação para enfrentar radicais

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Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Geógrafo e mestre pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

Só a política, afirmam Gabriela Lotta e Pedro Abramovay, pode construir soluções para as questões estruturais e para as crises do presente do país.

Autores de "A Democracia Equilibrista: Políticos e Burocratas no Brasil" (Companhia das Letras), Lotta e Abramovay se contrapõem à ideia de que as políticas públicas devem ser desenhadas por técnicos do Estado o mais longe possível dos políticos eleitos.

Eles argumentam que servidores públicos não são politicamente neutros e não têm legitimidade para tentar governar o país —e, se seguirem por esse caminho, podem impor suas visões de mundo sem promover um debate qualificado com a sociedade, fragilizando a democracia.

Os pesquisadores criticam o corporativismo de carreiras de elite do funcionalismo e apontam os danos produzidos por governantes que agem ignorando os fatos e os subsídios dos burocratas.

Lula, governadores, ministros do STF e presidentes da Câmara e do Senado descem a rampa do Palácio do Planalto depois de reunião no dia seguinte ao ataque golpista em Brasília - Mauro Pimentel - 9.jan.23/AFP

O livro reúne exemplos de desequilíbrio, segundo os autores, entre as duas esferas —como a concessão de refúgio a Cesare Battisti no segundo mandato Lula— e casos bem-sucedidos de articulação entre trabalho técnico e deliberação política, como a formulação e a aprovação do Marco Civil da internet.

Abramovay, doutor em ciência política pela Uerj, ocupou cargos de secretário no Ministério da Justiça durante o governo Lula e o início do governo Dilma e narra no livro parte de sua experiencia no governo federal. Hoje, é diretor para a América Latina da Open Society Foundations.

A fragmentação da sociedade com a radicalização extremista, principalmente da extrema direita, traz uma dificuldade maior de fazer consensos políticos. Existe uma parcela da sociedade que não parece disposta a se engajar no debate público para a construção de um consenso mais amplo. Esse, para mim, é o grande desafio [do governo Lula], muito maior que o desafio de ter bons técnicos

Pedro Abramovay

diretor da Open Society Foundations

Retrato de Pedro Abramovay - Lucas Seixas - 9.set.21/Folhapress

Lotta, doutora em ciência política pela USP, é professora de administração publica e governo da Fundação Getúlio Vargas.

A saída para o fortalecimento da democracia tem que ser de concertação com a sociedade e com os atores políticos. Nesse sentido, a força da imagem da descida da rampa [com Lula, governadores e membros do Legislativo e do STF no Palácio do Planalto em 9.jan] mostra como existem muitos atores no Brasil que estão dispostos a abrir mão de suas diferenças programáticas para defender a democracia

Gabriela Lotta

professora da Fundação Getulio Vargas

Mulher branca, cabelos castanhos, curtos, blusa estampada e fundo branco
Retrato de Gabriela Lotta - Divulgação

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Felipe Loureiro, que analisou as relações entre EUA e Rússia depois do início da Guerra da Ucrânia, Denise Ferreira da Silva, para quem a violência racial é um pilar da modernidade, Letícia Cesarino, antropóloga que expõe como algoritmos favorecem o populismo, Roberto Moura, que relançou clássico sobre a história negra do Rio, Celso Rocha de Barros, que falou sobre a história e os desafios futuros do PT, Christian Lynch, autor de livro sobre Bolsonaro e o populismo, Juliana Dal Piva, repórter que vem investigando suspeitas de corrupção da família Bolsonaro, Viviane Gouvêa, que discutiu a história da violência estatal contra grupos marginalizados, Esther Solano, socióloga que discutiu o que pensam as mulheres bolsonaristas moderadas, Vagner Gonçalves da Silva, antropólogo que pesquisa as mitologias de Exu, entre outros convidados.

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