Discussão sobre família não pode ficar na mão de Bolsonaro, diz Esther Solano

Socióloga fala da força de Michelle Bolsonaro na campanha e defende aproximação com eleitoras moderadas do presidente

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Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Geógrafo e mestre pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

A socióloga Esther Solano, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), vem há anos pesquisando o universo do bolsonarismo popular moderado para entender o que move as pessoas de menor renda que votaram no presidente sem se identificar com suas posições mais radicais.

Solano é uma das autoras de "Feminismo em Disputa" (Boitempo), livro que reúne os resultados de um novo estudo sobre as concepções políticas de eleitoras de Bolsonaro.

A obra, também assinada por Beatriz Della Costa e Camila Rocha, mostra que mulheres, mesmo as conservadoras, incorporaram princípios da agenda do feminismo, como o combate à violência de gênero e o apoio à autonomia material e emocional das mulheres.

Isso não significa que elas tenham grande apreço pelo movimento feminista. Na verdade, elas reclamam que o feminismo é elitista e radical e fechado a questões do seu cotidiano, como família e maternidade.

A socióloga Esther Solano durante debate sobre conservadorismo no auditório da Folha - Reinaldo Canato - 10.jun.19/Folhapress

Neste episódio, a pesquisadora defende que os setores progressistas devem ouvir essas preocupações e construir pontes com essas eleitoras, disputando os significados do próprio conceito de família —apesar de hoje capturada pelo bolsonarismo, afirma, a ideia de família pode se tornar base de várias políticas públicas.

A esquerda faz bem em lutar, por exemplo, pelas famílias LGBT e monoparentais. Elas [eleitoras moderadas de Bolsonaro] entendem e reconhecem a importância disso, mas dizem: "Parece que a esquerda só luta por esse tipo de família. A gente também queria a esquerda lutando e visibilizando a nossa família tradicional. No final das contas, nós também temos direito a ter uma dignidade familiar"

Esther Solano

socióloga e professora da Unifesp

Solano discutiu o avanço de Bolsonaro entre os evangélicos e por que a primeira-dama, Michelle, desempenha um papel simbólico de redentora do machismo do presidente.

A socióloga também tratou de uma narrativa messiânica que ela vê se disseminar, colocando Bolsonaro como o escolhido de Deus e associando Lula ao demônio. Para ela, essa retórica é uma das armas que podem ser usadas em uma eventual contestação das eleições de outubro.

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Vagner Gonçalves da Silva, antropólogo que pesquisa as mitologias de Exu, Marcos Nobre, que denunciou o projeto golpista de Bolsonaro, Jean Marcel Carvalho França, pesquisador da história da maconha no Brasil, Vincent Bevins, autor de livro sobre massacres da esquerda durante a Guerra Fria, Rodrigo Nunes, que discutiu as raízes do bolsonarismo, André Lara Resende, crítico da teoria econômica mainstream, James Green, brasilianista autor de um clássico sobre a história da homossexualidade no Brasil, Sidarta Ribeiro, neurocientista que desenvolve pesquisas sobre a importância de sonhar, Heloisa Starling e Miguel Lago, autores de ensaios sobre a lógica de destruição do bolsonarismo, Fábio Ulhoa Coelho, professor de direito que ponderou sobre as relações entre liberdade e igualdade, Debora Diniz, acadêmica que se dedica às áreas de gênero e direitos reprodutivos, entre outros convidados.

A lista completa de episódios está disponível no índice do podcast. O feed RSS é https://folha.libsyn.com/rss.

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