Não há modernidade sem violência racial, diz Denise Ferreira da Silva

Intelectual aponta raízes coloniais de capitalismo e ciências sociais, centrados em modelo de homem branco europeu

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Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Doutor em geografia pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

Por que as mortes de pessoas pretas, autorizadas ou cometidas pelo Estado, não causam uma crise ética?

Denise Ferreira da Silva conta que essa é a pergunta fundamental que ela buscou elaborar em sua pesquisa de doutorado, que originou o livro "Homo Modernus: para uma Ideia Global de Raça" (Cobogó). A obra, publicada em 2007 nos Estados Unidos, ganhou recentemente uma edição brasileira.

Hoje professora do Instituto de Gênero, Raça, Sexualidade e Justiça Social da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, a autora escava no livro o pensamento filosófico pós-iluminista que talhou uma concepção de sujeito moderno —branco, europeu, considerado portador de uma razão universal— e, ao lado da ciência do século 19, produziu uma representação dos "outros raciais" —asiáticos, negros e indígenas—, vistos como dotados de mentes inferiores e presas à natureza.

Os brancos são o padrão da normalidade do social. Isso porque, na descrição do contexto social apropriado, ótimo, a imagem que se tem é a imagem da Europa e do europeu do começo do século 19. Ela está entranhada nas ciências sociais. É uma situação meio perversa, porque, quando a gente começa a fazer essa escavação, você acaba encontrando a mesma figura —como Foucault falou— como ponto de partida, como sujeito fundamental e como objeto fundamental, mas com implicações para além daquelas que ele identificou

Denise Ferreira da Silva

professora do Instituto de Gênero, Raça, Sexualidade e Justiça Social da Universidade da Colúmbia Britânica

Mulher negra com blusa branca segura microfone
Denise Ferreira da Silva, autora de 'Homo Modernus', durante lançamento do livro no MAR (Museu de Arte do Rio) - Editora Cobogó no YouTube/Reprodução

Para Ferreira da Silva, a violência racial nunca foi um desvio da modernidade, mas sua pedra angular. Por essa razão, o capitalismo, as instituições do Estado e o pensamento social têm uma raiz colonial que se expressa na letalidade de negros e povos originários.

Neste episódio, ela defende que a brutalidade que esses grupos sofreram no passado nunca desapareceu e que isso justifica políticas de reparação. Questionar os sentidos da história, aliás, é um dos temas recorrentes da sua produção artística: além de pesquisadora, Ferreira da Silva tem em seu currículo filmes e práticas artísticas coletivas. Veja abaixo imagens de alguns de seus trabalhos.

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Letícia Cesarino, antropóloga que expõe como algoritmos favorecem o populismo, Roberto Moura, que relançou clássico sobre a história negra do Rio, Celso Rocha de Barros, que falou sobre a história e os desafios futuros do PT, Christian Lynch, autor de livro sobre Bolsonaro e o populismo, Juliana Dal Piva, repórter que vem investigando suspeitas de corrupção da família Bolsonaro, Viviane Gouvêa, que discutiu a história da violência estatal contra grupos marginalizados, Esther Solano, socióloga que discutiu o que pensam as mulheres bolsonaristas moderadas, Vagner Gonçalves da Silva, antropólogo que pesquisa as mitologias de Exu, Marcos Nobre, que denunciou o projeto golpista de Bolsonaro, Jean Marcel Carvalho França, pesquisador da história da maconha no Brasil, Vincent Bevins, autor de livro sobre massacres da esquerda durante a Guerra Fria, entre outros convidados.

A lista completa de episódios está disponível no índice do podcast. O feed RSS é https://folha.libsyn.com/rss.

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