Descrição de chapéu dólar câmbio

Dólar sobe 1,8% em semana turbulenta e fecha a R$ 3,52; Bolsa cai 3,85%

Moeda refletiu cautela com alta adicional de juros nos EUA, mas passou a recuar após ação do BC

Dólar sobe 1,8% na semana em meio a turbulências nos EUA e após atuação do BC
Dólar sobe 1,8% na semana em meio a turbulências nos EUA e após atuação do BC - Dado Ruvic/Reuters
Danielle Brant
São Paulo

A trajetória do dólar na semana pode ser contada a partir de duas narrativas: a preocupação com aumento adicional de juros nos Estados Unidos que levou a moeda ao patamar de R$ 3,55, e os dois dias de queda subsequentes após o recado do Banco Central brasileiro de que vai atuar para conter altas da divisa.

Ainda assim, o dólar acumulou valorização de 1,8% em relação ao real. Nesta sexta (4), o dólar comercial recuou 0,19%, para R$ 3,524. O dólar à vista, que fecha mais cedo, caiu 0,48%, para R$ 3,518.

A Bolsa brasileira também foi impactada pelas perspectivas de mais altas de juros nos Estados Unidos, o que enxuga dinheiro aplicado hoje em renda variável.

O Ibovespa, índice das ações mais negociadas, recuou 3,85% na semana —a pior desde a encerrada em 19 de maio de 2017, quando a notícia da delação do empresário Joesley Batista, do grupo JBS, provocou turbulências no mercado. Nesta sexta, a Bolsa caiu 0,2%, para 83.118 pontos.

Até quarta-feira (2), quando atingiu a máxima de R$ 3,55, o dólar reagia à expectativa de mais um aumento de juros nos Estados Unidos, na reunião de dezembro do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central americano).

Apesar de manter os juros na faixa entre 1,5% e 1,75%, o Fed sinalizou que a inflação nos EUA pode se aproximar da meta de 2% ao ano. Alguns analistas viram nessa indicação a possibilidade de uma quarta alta no ano, em vez das três esperadas.

A avaliação impactou o rendimento dos títulos de dívida americana com vencimento em dez anos, considerados livres de risco. Os papéis passaram a render mais, atraindo investidores com dinheiro em Bolsa e em países emergentes como o Brasil.

Na semana, 29 das 31 principais moedas do mundo se desvalorizaram em relação ao dólar. 

Como resposta à velocidade da alta do dólar —a moeda ganhou R$ 0,12 em dez sessões—, o Banco Central anunciou, na noite da mesma quarta, que poderia oferecer mais contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) para suavizar os aumentos do dólar. Foi a deixa para a cotação da moeda passar a cair nos dois dias seguintes. 

Nesta sexta, o BC vendeu, pelo segundo dia, a oferta integral de até 8.900 contratos em swaps cambiais tradicionais, rolando US$ 890 milhões dos US$ 5,650 bilhões que vencem em junho.

Se mantiver e vender esse volume diário até o final do mês, o BC terá colocado US$ 8,455 bilhões em swaps.

Nesta sexta, a queda ainda contou com o reforço de dados mais fracos que o esperado do mercado de trabalho americano. Os Estados Unidos criaram 164 mil vagas de trabalho em abril, ante expectativa de 192 mil. 

A taxa de desemprego recuou de 4,1% para 3,9%, menor nível em quase 17 anos e meio. A renda média por hora subiu 0,1% no mês passado, depois de aumentar 0,2% em março. Com isso, o aumento anual do salário médio por hora ficou em 2,6%.

Para Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais, a próxima semana vai depender da evolução das negociações entre chineses e americanos sobre a imposição de tarifas que ameaçam provocar uma guerra comercial entre ambos.

Outro fator a ser considerado é a normalização das políticas monetárias dos bancos centrais de países desenvolvidos, que começam a preocupar investidores.
 
"Basta ver o que está acontecendo com a emergente e desequilibrada Argentina, perdendo reservas e jogando a taxa de juros aos píncaros de 40%, e ainda assim com a maior valorização do dólar frente ao peso argentino", afirmou, em relatório.

Bandeira lembra que as eleições, no Brasil, seguem no radar. Em meio às incertezas sobre a diretriz econômica a ser adotada pelos pré-candidatos que lideram a disputa —Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede)—, os investidores que entram na Bolsa buscam proteção contra as variações cambiais, o que acaba também contribuindo para a valorização do dólar em relação ao real.

Nesta sexta, o CDS (credit default swap), espécie de seguro contra calote do país, teve queda de 2,59%, para 185,2 pontos.

Os contratos mais negociados de juros futuros tiveram sinais mistos. Os DIs para julho de 2018 caíram de 6,254% para 6,234%. Os DIs para janeiro de 2019 tiveram alta de 6,275% para 6,280%.

AÇÕES

Dos 64 papéis do Ibovespa, 36 caíram e 28 subiram.

A Raia Drogasil teve a maior queda, com recuo de 3,64%. A Cielo perdeu 3,22% e a MRV se desvalorizou 2,85%.

Na ponta positiva, as ações da Lojas Renner subiram 5,43%. A Marfrig ganhou 4,87% e a Smiles teve avanço de 4,41%.

As ações da Petrobras fecharam em baixa, apesar da alta dos preços do petróleo no exterior. O aumento ocorreu conforme a oferta global se manteve limitada e o mercado aguarda notícias de Washington sobre possíveis novas sanções americanas contra o Irã.

As ações preferenciais da Petrobras tiveram queda de 0,80%, para R$ 22,27. Os papéis ordinários recuaram 1,73%, para R$ 23,89.

A mineradora Vale viu suas ações subirem 1,24%, para R$ 49,70. 

No setor financeiro, o Itaú Unibanco teve baixa de 1,17%. As ações preferenciais do Bradesco subiram 0,09%, e as ordinárias perderam 0,35%. O Banco do Brasil se desvalorizou 0,20%, e as units —conjunto de ações— do Santander Brasil se valorizaram 0,41%.

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