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China revida crítica de Trump e tensão de guerra comercial cresce entre os países

Em resposta a acusação de que não negocia com boa fé, Pequim diz que EUA precisam de integridade

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Christian Shepherd Tom Hancock
China | Financial Times

Pequim reagiu nesta quarta-feira (31) às críticas do presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Afirmou ser "irrelevante" que Washington tente pressionar Pequim nas negociações comerciais. O posicionamento do governo chinês veio um dia depois de Trump acusar a China de não negociar com boa fé.

Uma porta-voz do Ministério do Exterior chinês fez o comentário após uma rodada de negociações entre Robert Lighthizer, representante do governo americano para assuntos de comércio internacional, e o secretário do Tesouro Steve Mnuchin e seu interlocutor chinês, o primeiro-ministro assistente Liu He.
 

Robert Lighthizer, representante do governo americano para assuntos de comércio internacional, o secretário do Tesouro Steve Mnuchin e seu interlocutor chinês, o primeiro-ministro assistente Liu He - Ng Han Guan /AFP

Eles se reuniram ao longo de metade do dia em Xangai, já nesta quarta-feira (31), segundo um representante dos Estados Unidos.

Foram as primeiras negociações diretas entre as partes desde que Trump e o presidente chinês Xi Jinping chegaram a um acordo para uma trégua, na reunião do G20, em Osaka, um mês atrás.

A agência oficial de notícias chinesa Xinhua disse que a próxima rodada de negociações aconteceria em setembro, nos Estados Unidos, e descreveu a rodada desta semana como "franca, efetiva e construtiva".

Os dois lados discutiram a elevação das importações de produtos agrícolas pela China, em linha com a demanda interna do país e quando os Estados Unidos criarem boas condições para isso, disse a Xinhua.

A despeito do sumário positivo emitido pela agência oficial sobre o encontro, as expectativas de um desfecho positivo foram rebaixadas por uma sequência constante de críticas mútuas, nos dias que antecederam a reunião desta semana.

Na véspera das conversações, terça-feira (30), Trump disse "não haver sinais" de que a China estivesse levando adiante as compras prometidas de bens agrícolas americanos. Deu a entender que a economia do país "ia muito mal". Também insinuou que Pequim não está negociando com boa fé.

Hua Chunying, porta-voz do Ministério do Exterior chinês, disse a repórteres, na quarta-feira (31), que essa declaração lhe causava "risos sarcásticos". Os Estados Unidos deveriam fazer mais para demonstrar "sinceridade" e "integridade", disse Hua.

"À esta altura, os Estados Unidos demonstrem a intenção de pressionar ao máximo é irrelevante, é como pedir que outra pessoa tome um remédio quando você está doente", acrescentou.

As compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos por empresas chinesas caíram em maio, depois da suspensão das negociações comerciais.

Mas este mês surgiu a esperança de um desenlace favorável, quando os Estados Unidos suspenderam as tarifas adicionais impostas a 110 tipos de bens industriais chineses.

A agência Xinhua disse que empresas chinesas haviam retomado a compra de soja, algodão, carne de porco e sorgo americanos, acrescentando que continuariam a fazê-lo, a depender dos preços.

Mas as divergências entre as duas partes parecem ter retornado esta semana.

O Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista chinês, afirmou na quarta-feira que os Estados Unidos não deveriam "causar problemas por nada", se desejavam sucesso nas negociações. O editorial afirmava que "algumas pessoas" nos Estados Unidos estavam determinadas a criar distúrbios a fim de ganhar vantagem nas negociações.

"Agora eles parecem ter amnésia, e ter esquecido sua promessa de negociações comerciais iguais e mutuamente respeitosas, e estão usando o medo para tentar extrair concessões", o jornal afirmou.

"Creio que os proprietários de empresas e banqueiros na China não tenham muita esperança nas negociações comerciais, e que eles deixaram de contar as rodadas de negociações", disse Kerstin Braun, presidente-executiva da Stenn International, uma empresa britânica que financia exportadores chineses de bens de consumo.

No entanto, ela disse que algumas empresas chinesas estavam encontrando maneiras de contornar as tarifas. "A mentalidade chinesa é muito criativa, e o que vejo na verdade são empresas que encontram novas portas para realizar embarques; elas não desistem, e encontram outras maneiras de fazer negócios", acrescentou, mencionando o embarque de produtos para os Estados Unidos via outros mercados, como o Brasil e o México.

Os mercados asiáticos caíram na quarta-feira, e as ações com foco na China estiveram entre as mais atingidas. O índice CSI 300 das bolsas chinesas caiu em 0,9%, e o Hang Seng, da bolsa de Hong Kong, mostrava queda de 1,3% quando as transações foram suspensas por conta de uma tempestade tropical.

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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