Descrição de chapéu Folhainvest

Ações de setores beneficiados por pandemia avançam no ano

Varejistas, produtoras de papelão para embalagem e frigoríficos estão entre os destaques na Bolsa de SP

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São Paulo

​A nova realidade trazida pela pandemia impulsionou o desempenho de algumas ações e setores na Bolsa de Valores brasileira ao longo deste ano. Conhecidas pelo mercado como “Stay-at-home Stocks”, esses papéis são caracterizados por terem se beneficiado com o cenário de isolamento social e de mudanças no ambiente de trabalho e doméstico.

Segundo especialistas, além dos setores formados pelas atividades essenciais –caso de supermercados e farmácias, por exemplo–, segmentos com relação direta ou indireta à nova realidade também acabaram se destacando no Brasil e no mundo, como tecnologia, frigoríficos, papel e embalagem e bancos.

Enquanto o setor de tecnologia acaba tendo mais destaque nos Estados Unidos – com gigantes como Amazon, Facebook, Alphabet e Apple tendo um forte papel no desempenho da Nasdaq, Bolsa de tecnologia de Nova York –, no Brasil os segmentos em evidência são aqueles que têm impacto das commodities, do varejo e dos mercados financeiro e imobiliário.

Setores com relao direta ou indireta  pandemia ganham fora em 2020
Setores com relação direta ou indireta à pandemia ganham força em 2020 - Michael Nagle - 18.mar.2020/Xinhua

Segundo o analista da Guide Investimentos Henrique Esteter, apesar dos estresses políticos ao longo deste ano e dos impactos nos mercados emergentes em momentos de aversão a risco, algumas companhias acabaram crescendo na esteira do desempenho de outros setores.

“Quando falamos de frigoríficos, por exemplo, tivemos um movimento interessante. Enquanto o preço do gado chegou a cair muito na parte compradora, o que diminui o gasto do frigorífico, houve uma corrida mais forte aos supermercados no primeiro semestre pela chegada do coronavírus. Esse cenário acabou trazendo benefícios”, afirmou.

Desde o dia conhecido pelo mercado como "Corona Day" –a Quarta-feira de Cinzas deste ano, marcada por um recuo de 7% do Ibovespa, que se ajustava às tensões internacionais diante do avanço do coronavírus– até 30 de dezembro, os papéis da Marfrig subiram 14,61%, enquanto as ações da JBS avançaram 0,64%. Minerva acumulou queda de 13,73% no período e BRF de 22,53%.

Especificamente sobre a Marfrig, analistas da XP comentaram, em nota, os bons resultados da companhia tanto no Brasil –beneficiado pelas exportações para a China– quanto nos Estados Unidos.

O impacto indireto da pandemia e do isolamento social também se mostrou em setores de classificados como materiais básicos da B3 (Bolsa brasileira), com base em madeira e em papel e celulose.

Segundo o analista de siderurgia e mineração da XP Investimentos, Yuri Pereira, a pandemia acelerou as mudanças que já estavam em custo no setor em termos de substituição e outros materiais por papel.

“As mudanças estruturais que vinham acontecendo, como o ecommerce, acabaram ganhando força. Nesse sentido, cresceu a compra pela internet e o delivery de alimentos, setores que demandam bastante papelão. Algumas companhias de embalagens têm conseguido margens boas. O setor tem se mostrado forte”, afirmou o analista, dando destaque para a Klabin.

De 26 de fevereiro até o fim deste ano, a Klabin subiu 32,35% na Bolsa brasilera. Suzano, também do setor de papel e celulose, teve ganhos de 51,66% no período.

O ambiente macroeconômico do país, com os juros básicos em mínimas históricas, inflação e inadimplência controladas diante das medidas emergenciais tomadas pelo governo e pelos bancos do país, deu fôlego aos papéis do setor financeiro na Bolsa de Valores brasileira.

A própria B3 se beneficiou com o cenário e ganhou força ao longo do ano, com a sofisticação do mercado de capitais e o aumento de volumes negociados na Bolsa – fruto do aumento da volatilidade dos ativos trazido pela pandemia. De 26 e fevereiro a 30 de dezembro de 2020 a companhia acumulou alta de 29,26%. Desde o início do ano, o avanço foi de 44,24%.

Segundo os analistas Marcel Campos e Matheus Odaguil, da XP, o ambiente também intensificou o movimento de sofisticação dos mercados, com novos produtos e novas formas de aplicar o capital.

“Mesmo com a pandemia, devido a menor aversão ao risco e à maior sofisticação dos mercados, houve uma busca contínua por retornos maiores aos da poupança e da renda fixa, refletindo em um crescimento sequencial do número de investidores ativos, número atualmente atinge 3,2 milhões”, afirmaram os analistas em nota.

Entre os quatro maiores bancos do país, Itaú e Santander tiveram altas de 24,28% e 16,35%, respectivamente, no preço das suas ações de 26 de fevereiro até 30 de dezembro. Os papéis do Bradesco caíram 0,82% e os do Banco do Brasil cederam 14,22%.

Segundo Esteter, é difícil prever como a Bolsa deve se comportar em 2021, mas a tendência ainda é de um ciclo favorável.

“Tudo depende muito de qual setor estamos falando mas, de modo geral, existem muitas oportunidades na Bolsa. A expectativa é que se mantenha um número alto de IPOs [ofertas públicas iniciais de ações], mas ainda há uma grande preocupação em relação às questões fiscais do país”, disse.

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