Dia do Trabalho em SP tem protesto contra fome e inflação

Ato foi organizado por centrais sindicais em frente ao estádio do Pacaembu

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São Paulo

Após duas edições realizadas virtualmente devido à pandemia, o Dia do Trabalho organizado pelas centrais sindicais voltou às ruas de São Paulo neste ano com protestos contra a fome, a inflação e a escalada da carestia no Brasil.

Realizado na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, o ato teve público bem abaixo das 100 mil pessoas esperadas e foi marcado por ataques ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e pedidos de voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O evento começou por volta das 10h deste domingo (1º). Reclamações contra o aumento de preços de produtos essenciais no país deram o tom dos discursos dos dirigentes sindicais.

Ato unificado das centrais sindicais para comemorar o Dia do Trabalho, na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

"A situação está muito grave, a carestia está tomando conta do supermercado. O povo não está podendo comprar comida suficiente para casa, as famílias estão indo para as ruas por causa da alta impressionante dos aluguéis. Essa situação não pode continuar" afirmou Ubiraci Dantas, vice-presidente da CTB (Central dos Trabalhadores do Brasil).

Protesto semelhante foi feito por Renê Vicente, presidente da CTB de São Paulo, que relembrou episódios recentes de pessoas disputando restos de ossos para levar para casa.

"Nosso povo está na fila para pegar osso dos frigoríficos para fazer sopa, enquanto o Brasil é o maior exportador de carne no mundo. Nós não podemos aceitar essa situação", afirmou.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB - SP) também esteve no ato e começou sua fala dizendo que a fome voltou a fazer parte da realidade brasileira.

"Onde já viu R$ 150 um botijão de gás? A turma não conseguia comprar carne, mudava para frango. [Depois] mudava de frango para ovo, e nem ovo dá mais para comprar", disse. "É contra a carestia, contra a fome e contra o desemprego que o 1º de maio se levanta em São Paulo e no Brasil inteiro", acrescentou.

Além de Orlando Silva, o ato também teve presença de Lula e de outras figuras políticas, como Fernando Haddad, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, e Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Gleisi Hoffmann, presidente do PT, o vereador Eduardo Suplicy (PT) e o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) também participaram do evento.

Em discurso em tom de campanha, que durou pouco mais de 15 minutos, Lula defendeu o aumento real do salario mínimo, criticou a escalada da inflação e se posicionou contra a privatização da Eletrobras.

"Se a Eletrobras for privatizada, nunca mais vai haver um programa como o Luz Para Todos para levar energia para a família e o povo pobre".

O ex-presidente também fez acenos aos trabalhadores de aplicativos.

"A gente vai ter que sentar numa mesa e regulamentar a vida das pessoas que trabalham com aplicativos. A gente vai ter que dizer que esses companheiros não podem ser tratados como se fossem escravos. Eles têm que ter direito a um programa de saúde, a um programa de assistência social, assistência médica, eles têm que ter seguro quando bater com seu carro, moto ou bicicleta", afirmou Lula.

O tema também foi abordado por Guilherme Boulos. Segundo ele, as manifestações do Dia do Trabalhador começaram em 1886 com uma greve que defendia a jornada de oito horas.

"Quando olhamos hoje, quase 150 anos depois, tem jovem trabalhando 12 horas por dia em cima de uma moto ou atrás de um volante sem ter um direito trabalhista", disse.

Reforma trabalhista

Durante o ato, alguns dirigentes sindicais pediram a revogação das reformas trabalhistas, da Previdência e do teto de gastos.

Entre as figuras políticas, Boulos foi um dos poucos a mencionar o tema em sua fala. "Que este seja o ultimo 1º de maio com a vigência de uma reforma trabalhista criminosa que tirou nossos direitos", afirmou.

Em seu discurso, Lula não falou sobre revogar a reforma trabalhista, mas disse que, se algum candidato melhor que Bolsonaro ganhar as eleições, os dirigentes sindicais serão convidados para discutir formas de "reestabelecer as condições de trabalho e o respeito aos direitos dos trabalhadores".

O tema marca uma polêmica na campanha do presidenciável do PT. O programa da federação partidária que reunirá PT, PC do B e PV incluiu a revogação da reforma em sua carta-programa recentemente. Um documento preliminar indicava o termo "revisão", mas foi alterado após discussões.

Em entrevista à coluna Painel S.A, o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, disse que é ilusão achar que Lula vai revogar a reforma trabalhista na canetada.

"Isso é enganação. Acredito que vá haver, sim, negociação entre as partes: trabalhadores, empresários, estado e parlamento, que vai votar a proposta que, por acaso, se chegue em um acordo", afirmou.

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