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Bolsa salta 3% e dólar tomba 4,7% na semana após eleição de Lula

Expectativa sobre redução de restrições na China também ajudou a atrair investidores estrangeiros

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São Paulo

A primeira semana do mercado financeiro brasileiro após o desfecho do 2º turno das eleições terminou com ganhos consistentes na Bolsa de Valores e um tombo do dólar frente ao real.

Analistas relatam que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que conta com boa avaliação fora do país, e o início do processo de transição afastaram incertezas sobre a solidez da democracia no país. Isso resultou em aumento do fluxo de investimentos de estrangeiros no mercado local.

Os ventos se tornaram ainda mais favoráveis para a atração dos dólares de investidores internacionais nesta sexta-feira (4), quando ganhou força o rumor de que a China poderá relaxar medidas de combate à Covid. Essa expectativa beneficiou não apenas o Brasil, mas também outros países emergentes que são exportadores de matérias-primas.

O dólar comercial à vista fechou o dia em queda de 1,42%, cotado R$ 5,0510 na venda. No resultado desta semana, a moeda americana tombou 4,73% frente ao real. É o maior recuo semanal desde o final de junho.

No mercado de ações, o Ibovespa subiu 1,08%, aos 118.155 pontos, sendo que, ao longo do dia, o índice referência da Bolsa de Valores chegou a tocar a máxima de 120.039 pontos. No acumulado desta semana, a Bolsa escalou 3,16%.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa em São Paulo após o resultado do segundo turno das eleições, no domingo (30)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa em São Paulo após o resultado do segundo turno das eleições, no domingo (30) - Nelson Almeida/AFP

Ações ligadas à exportação de minério de ferro, aço e outras mercadorias que têm a China como principal destino dispararam nesta sexta. A Vale saltou 7,59%. As siderúrgicas Usiminas e CSN avançavam 7,65% e 6,34%, respectivamente.

Principal parceiro comercial do Brasil, a China deverá diminuir as restrições aos voos internacionais, que ainda enfrentam um rígido controle devido à política de combate à Covid, disseram fontes próximas a autoridades chinesas, segundo a agência de notícias Bloomberg.

Atualmente, companhias aéreas que transportam passageiros contaminados ficam suspensas de rotas no interior do país por cerca de duas semanas. A intenção de Pequim é acabar com essa punição.

Gargalos provocados pela tentativa de zerar casos de Covid na China estão entre as principais causas do desabastecimento que vem provocando uma alta mundial nos preços ao consumidor.

O avanço da Bolsa do Brasil só não foi maior devido ao tombo de 5,51% das ações da Petrobras nesta sexta, após analistas do Goldman Sachs cortarem a recomendação dos papéis da petrolífera de "compra" para "neutro", argumentando um aumento da incerteza em torno das políticas a serem adotadas nos próximos anos.

A Petrobras havia reportado na véspera lucro líquido de R$ 46,09 bilhões entre julho e setembro, alta de 48% ante o mesmo período do ano passado, com a disparada dos preços do petróleo.

Para piorar o humor dos investidores quanto às ações da companhia, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União pediu a suspensão do pagamento de dividendos pela Petrobras, informou a agência Reuters.

Em situação oposta à da petroleira controlada pelo governo, o mercado de ativos ligados à produção e exportação de petróleo obteve forte valorização também devido à possibilidade de maior abertura na China, país que mais consome a matéria-prima.

Entre as empresas com maior ganho do Ibovespa, a petroleira privada 3R Petroleum registrou elevação de 7,16% das suas ações.

Esse segmento do mercado de ações avançou a reboque da alta de 4,07% do petróleo Brent, cujo barril estava cotado a US$ 98,52 (R$ 496) no final desta tarde. É o maior preço da mercadoria desde agosto.

Paralelamente à esperança de aumento das exportações para a China, investidores estrangeiros aportaram no mercado de ações do Brasil durante toda a semana após a eleição de Lula, segundo analistas de mercado.

"A verdade é que dois gatilhos importantes foram ativados para a entrada de capital estrangeiro. Um deles foi a consolidação de uma transição democrática. O segundo foi a eleição de um presidente que transmite uma imagem de menos caos político e mais uma relação republicana com as demais instituições", comentou João Beck, economista e sócio da BRA.

"Dito isso, desde segunda-feira (31), a nossa Bolsa tem recebido um fluxo relevante de dinheiro estrangeiro que derruba o dólar e impulsiona o Ibovespa", afirmou Beck.

"O mercado foi enxugando o prêmio de risco conforme passou a ficar claro que não haveria aquele cenário que todos temiam de terceiro turno", analisou Felipe Moura, sócio da Finacap Investimentos.

Investidores também consideraram nesta sexta o relatório de empregos nos Estados Unidos, que mostrou criação de vagas ainda acima do esperado, mas deu sinais de que a economia americana está esfriando aos poucos.

A taxa de desemprego aumentou para 3,7% em outubro, em relação aos 3,5% de setembro. Essa é uma reação esperada devido à política americana de elevação de juros para frear a inflação histórica no país.

"Há sinais ainda muito fracos de arrefecimento do mercado de trabalho e, olhando para isso, a autoridade monetária dos Estados Unidos não está muito confortável para reduzir o ritmo do aperto ao crédito", disse Raone Costa, economista-chefe da Alphatree.

O mercado americano de ações aprofundou a sua queda nesta semana. No dia, o S&P 500, parâmetro da Bolsa de Nova York, subiu 1,36%, mas isso não impediu uma queda semanal de 3,35%. A queda acumulada no ano é de 21%.

Na quarta-feira (2), o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) elevou a sua taxa de juros pela sexta vez em 2022, sendo que este é o quarto aumento seguido de 0,75 ponto percentual. Agora, a taxa de juros dos Estados Unidos avança para um patamar entre 3,75% e 4% ao ano.

O ritmo de aceleração dos juros é o mais rápido no país em mais de quatro décadas e, além disso, antes de junho deste ano, a última vez que a taxa tinha subido em 0,75 ponto foi em 1994.

Essa sequência de aumentos, considerada muito agressiva para o padrão americano, acontece devido à necessidade de frear a maior inflação no país em mais de 40 anos.

O índice de preços ao consumidor americano acumula alta de 8,2% em 12 meses até setembro, depois de ter subido 8,3% em agosto e ter atingido um pico de 9,1% em junho, que foi o maior avanço do custo de vida desde novembro de 1981. São patamares muito superiores à meta de 2% para a inflação anual do país para 2022.

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