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BC endurece tom, apesar de pressão
Confirmando a expectativa unânime do mercado, o Copom do Banco Central manteve a Selic em 13,75% ao ano, apesar da pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para redução dos juros. O Brasil segue na liderança do ranking de juros real.
Apesar de a decisão não surpreender, o que chamou a atenção foi o tom duro do comunicado da autoridade monetária, que não abriu a porta para uma queda na Selic na próxima reunião e disse que pode até voltar a subir a taxa.
- O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), considerou o comunicado como "muito preocupante".
- Entre empresários, o sinal de que a Selic se manterá no atual patamar na próxima reunião elevou o clima de alerta.
"O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos"
- O BC se refere às expectativas de inflação do mercado, que vêm se distanciando das metas definidas. Nas últimas projeções divulgadas, a estimativa para 2024 –o alvo principal da atual decisão do BC– subiu de 4,02% para 4,11%, distante da meta (3%).
- Para 2025 e 2026, os prazos mais longos, a expectativa saiu de 3,80% para 3,90% e de 3,79% para 4%, respectivamente.
No texto, a autoridade monetária ainda chama a atenção para a incerteza sobre a nova regra fiscal e seu impacto na dívida pública, mas afirma que a reoneração dos combustíveis reduziu a incerteza no resultado das contas públicas no curto prazo.
O BC também menciona como fatores que podem contar a favor de um alívio nos juros as "condições adversas no sistema financeiro global", referindo-se à crise bancária lá fora, e uma desaceleração na concessão de crédito por aqui.
Veja aqui quanto rendem R$ 1.000 na poupança, CDB e Tesouro com a Selic mantida em 13,75%.
Opinião:
- Brasil vai para arrocho exagerado de juros por causa de tretas tolas, escreve Vinicius Torres Freire.
- Navegar nas águas da alta inflação e do risco de instabilidade financeira requer um delicado equilíbrio das autoridades monetárias, afirma Solange Srour.
Fed abre porta para fim do ciclo
Nos EUA, o Federal Reserve (BC americano) também estava pressionado, principalmente pela turbulência bancária que levou duas instituições à falência. A autoridade subiu os juros em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 4,75% a 5%, como previa a maior parte do mercado.
Lá, porém, o comunicado abriu a porta para os juros pararem de subir na próxima reunião. O comitê do Fed excluiu do texto o trecho que dizia que "aumentos contínuos" nos juros provavelmente serão apropriados, frase que tinha aparecido nas oito decisões anteriores.
- Explicamos aqui como a decisão sobre juros nos EUA afeta o Brasil.
O presidente do Fed, Jerome Powell, disse que a crise dos bancos fez a autoridade considerar deixar a taxa de juros parada, mas decidiu por uma nova alta por avaliar que ainda não é possível precisar os efeitos da turbulência na economia.
"O sistema bancário é seguro e resiliente. Os acontecimentos recentes provavelmente resultarão em condições de crédito mais apertadas para as famílias e negócios e terá peso na atividade econômica, emprego e inflação. A extensão desses efeitos é incerta", disse o comunicado do Fed.
Nos mercados, a indicação do fim do ciclo de alta animou no princípio, mas os índices passaram a recuar depois que Powell disse em entrevista que uma queda de juros ainda neste ano não está no cenário projetado pelo Fed.
- A aversão chegou ao Brasil, derrubando a Bolsa em 0,77%, a 100.220 pontos, enquanto o dólar caiu 0,20%, a 5,23. O pregão foi encerrado antes da decisão de juros anunciada pelo Copom.
Plano da Americanas também envolve fornecedores
A Americanas não poupou os fornecedores no seu plano de RJ (recuperação judicial).
Especialmente aqueles a quem chama de "credores fornecedores colaboradores", que continuam abastecendo a varejista após o escândalo contábil. É o caso de empresas como Nestlé, Mondelez, Samsung, Positivo e L'Oréal.
Assim como fez para os bancos credores (mostramos aqui), a varejista apresentou condições aos fornecedores em seu plano:
- Os "fornecedores colaboradores" devem retornar às operações em 30 dias, a contar de 31 de março, "nos mesmos volumes, sortimento, prazo de entrega e condições" acordados entre as partes.
- Extensão de prazo de pagamento para a varejista da forma como acontecia em 2022. A condição valeria a partir do pagamento do crédito do fornecedor, que seria feito em uma vez, sem desconto e logo após a injeção de capital de R$ 10 bilhões ou um ano depois da homologação do plano de RJ.
- "Compromisso de não litigar". Para ser um fornecedor colaborador, a empresa se compromete a não processar a Americanas, seus acionistas ou administradores no futuro. A mesma cláusula aparece para os credores financeiros.
A Americanas pode pagar a dívida com desconto se o fornecedor descumprir com uma das cláusulas ou em caso de atraso nas entregas. A redução começa em 5% em caso de atraso por 30 dias e vai até a metade do crédito a receber se chegar a 150 dias.
Questionada sobre a cláusula de proibir o litígio, a Americanas disse que "processos litigiosos demandam tempo, além de onerarem e desgastarem a situação para todos os envolvidos o plano de recuperação judicial".
Mais sobre o caso Americanas
Defesa do Bradesco endurece com varejista, fala em lavagem de dinheiro e quer acesso a investigação.
App público rival de Uber e 99 começa a operar em SP
A estreia do MobizapSP, aplicativo público que deve concorrer com empresas como Uber e 99 no transporte de passageiros na cidade de São Paulo, está marcada para hoje (23).
- A prefeitura afirma que as corridas estarão disponíveis a partir das 13h e que 23.224 passageiros e 25.866 motoristas se cadastraram desde o lançamento do app, no dia 9 deste mês.
Como vai funcionar: a tarifa por quilômetro rodado e tempo de viagem deve ser semelhante ao que é praticado pelas empresas na maior parte do dia – não foram divulgados valores.
Há duas diferenças principais, segundo a prefeitura, uma para passageiros e outra para motoristas:
- Sem tarifa dinâmica: quando a demanda por viagens aumenta em maior proporção que a oferta de motoristas, os apps privados sobem os preços das corridas, algo que o MobizapSP diz que não irá fazer.
- Taxa de administração: a plataforma cobrará 10,95% por corrida. Nas outras empresas, ela varia –a Uber diz que a maior parte do valor fica com os motoristas, as taxas da 99 variam entre 15% e 35%.
O valor arrecadado com as taxas irá para um consórcio formado por quatro empresas de tecnologia que ficaram responsáveis pelo desenvolvimento da plataforma.
- A Folha mostrou que as empresas são alvo de investigações por suspeita de desvio de verbas públicas e de pagamento de propina em contratos de gestão de trânsito. As suspeitas negam as acusações, e a gestão Nunes (MDB) afirma que licitação respeitou a lei.
A Amobitec, associação que engloba as empresas de transporte por app, disse que considera saudável o aumento da concorrência, mas ressalta que qualquer empresa deve pagar os mesmos impostos e taxas que seus concorrentes.
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