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Quiet quitting? Segunda-feira mínima? O que levar a sério e o que ignorar no trabalho

Homem que cunhou o termo 'Grande Renúncia' diz que alguns termos populares não fazem sentido

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Pilita Clark

Editora e colunista de negócios do Financial Times

Financial Times

Houve um tempo em que ninguém falava em quiet quitting, terrores de domingo, segunda-feira mínima e todos os outros jargões –ou "buzzwords"– que infestaram o modo como as pessoas falam sobre trabalho.

Lembro-me bem dessa época porque foi há apenas três anos. Essas novas frases de efeito descrevem uma mudança na forma como vemos nossos empregos que supostamente foi desencadeada pela Covid.

Pesquisadores relataram no ano passado que 65% dos funcionários globais disseram que a pandemia os fez repensar o lugar que o trabalho deveria ocupar em suas vidas. Os empregadores foram aconselhados a reconhecer que seus funcionários queriam um "trabalho com propósito" e uma sensação de serem valorizados, não apenas um cheque de pagamento.

Vista de cima mostra uma pessoa sentada no chão, acariciando um gato enquanto trabalha com o computador no colo. No chão também estão jogados papéis, um calendário, uma caneca de café e um pedaço de pizza
Apesar do que o termo sugere, adeptos não buscam demissão, mas limites saudáveis no trabalho - Catarina Pignato

Há claramente uma verdade nisso, mesmo após o recente surto de demissões em massa e melancolia econômica. Mas os chefes realmente precisam levar a sério cada novo jargão do local de trabalho? A maioria desses termos não pode ser descartada com segurança como tagarelice atraente de jovens de vinte e poucos anos experientes em redes sociais e TikTok?

Eu sempre pensei assim. Mas na semana passada conversei com Anthony Klotz, o acadêmico americano que cunhou a maior expressão da moda de todas –a Grande Renúncia. Ele me convenceu de que os dados mostram uma imagem mais matizada.

A Grande Renúncia em si foi, claro, bastante real. As taxas de demissão subiam gradualmente antes da Covid, mas em 2022 mais de 50 milhões de trabalhadores americanos deixaram seus empregos, o maior número anual em mais de 20 anos, e outros países tiveram saltos semelhantes.

Klotz, que renunciou e se mudou dos Estados Unidos para a escola de administração da University College London no ano passado, previu a tendência antes que os números oficiais a confirmassem.

O número de desistentes diminuiu. Como diz Klotz, a grande maioria deles nunca deixou a força de trabalho de vez, mas mudou para empregos semelhantes e agora permanece onde está. Além disso, os empregadores começaram a oferecer trabalho melhor remunerado, com mais flexibilidade e melhores benefícios, e a economia piorou, de modo que a troca de empregos é menos atraente.

Mas e a ideia relacionada ao quiet quitting, termo que surgiu de uma postagem do TikTok no ano passado sobre fazer seu trabalho e nada mais, e geralmente colocar a vida à frente do trabalho. É remotamente real?

Os especialistas descartaram amplamente a frase como apenas mais um termo para o desengajamento dos funcionários. Mas Klotz diz que um funcionário desengajado é alguém que começa a fazer um trabalho ruim ou a recuar em todas as suas tarefas, o que não era o que os desistentes silenciosos queriam dizer. "Eles estão falando sobre se desligar do extra, não ir além da definição do trabalho, o que é diferente", diz ele.

Isso tem implicações para empregadores e empregados. A pesquisa de Klotz mostrou que, embora possa ser gratificante ir além do dever, também pode ser desgastante.

"Aplicação de raiva" é outra frase que surgiu de uma postagem no TikTok, mas não deve ser totalmente descartada pelos empregadores. Significa se candidatar em massa a empregos depois de se cansar do trabalho.

Essa estratégia de busca de emprego "spray-and-pray" não é nova e descreve um tipo de comportamento retaliatório dos funcionários que vem sendo estudado há anos.

Mas a proliferação de plataformas de trabalho online torna muito mais fácil de fazer, e alguns trabalhadores podem ser mais sensíveis às desconsiderações e frustrações do escritório, que evitaram enquanto trabalhavam remotamente.

Portanto, Klotz aconselha os empregadores a manter um local de trabalho justo –e garantir que sua organização esteja listada em todas as plataformas que os aplicadores de raiva de empresas rivais possam estar usando.

Então, quais são os termos que os chefes podem ignorar com maior facilidade?

Primeiro: "ressenteísmo", o suposto gêmeo maligno da desistência silenciosa. Significa permanecer num emprego que você odeia porque não tem escolha e começar a se ressentir ativamente, o que, como diz Klotz, é o "descompromisso clássico".

Ele diz que também não há evidências empíricas mostrando um aumento nos chamados terrores de domingo, ou medo da semana de trabalho que se aproxima, nem "segundas-feiras mínimas", outro hit do TikTok, cunhado por uma jovem que descrevia como lidar com esses medos.

"Não é algo que está acontecendo, é algo que está sendo recomendado", diz Klotz. Ele não acha que os empregadores precisem insistir nisso, exceto para perguntar se há alguma evidência de que seus funcionários chegam nas segundas-feiras parecendo esgotados e longe de reabastecidos.

A conclusão? Faz sentido ficar de olho em todos esses desenvolvimentos. Alguns são apoiados por evidências. Mas nunca se esqueça de que ser tendência online não significa ser tendência na vida.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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