Dólar tem nova corrida na Argentina às vésperas de eleição, e governo reforça controles

Moeda estrangeira subiu 18% em apenas duas semanas, arrastando os preços no país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Buenos Aires

A faxineira Rosana López, 42, cobrava 1.400 pesos a cada hora de trabalho há duas semanas, mas agora está cobrando 1.800. "Os preços subiram muito", diz a diarista, que está tentando repor o dinheiro que lhe roubaram há poucos dias na periferia de Buenos Aires, onde os furtos estão cada vez mais comuns, ela alerta.

A duas semanas das eleições presidenciais, a Argentina vive uma nova corrida do dólar "blue", que lastreia os preços no país e subiu 18% em apenas 14 dias. Se um argentino fosse a uma casa de câmbio paralela no último dia 22 (o que é proibido, mas frequente), pagaria cerca de 745 pesos por dólar. Nesta sexta (6), já estaria pagando 880.

Açougue exibe preços em Buenos Aires em setembro, quando foi divulgada uma inflação de 12,4% para agosto - Luis Robayo - 11.set.2023/AFP

Enquanto isso, o governo de Alberto Fernández e do ministro da Economia Sergio Massa, candidato à Presidência, continuam segurando o valor da moeda estrangeira usado em transações oficiais a 367 pesos para tentar conter a inflação e, agora, reforçam mais uma vez o controle sobre a compra de divisas.

Para o economista argentino Ignacio Galará, do Centro de Estudos Monetários e Financeiros de Madri, o principal motivo para a subida recente do câmbio é a aproximação das eleições e o favoritismo do ultraliberal Javier Milei, que promete dolarizar a economia e fechar o Banco Central.

"Hoje, sem ser a moeda oficial, o dólar já tem uma demanda enorme e uma oferta muito contraída na Argentina. Se passar a ser a moeda legal, seu valor vai disparar ainda mais, portanto te convém comprar dólares hoje, o que faz o preço subir", explica ele, lembrando que Milei deixou uma imagem de "candidato sólido" no debate no último domingo (1º).

O pesquisador cita também outros dois fatores que podem estar contribuindo para a alta da moeda: primeiro, uma flexibilização do governo a alguns tipos de câmbio para fomentar certos setores, como as micro e pequenas empresas. Segundo, a ação do mercado financeiro que, num contexto de alta inflação, a todo tempo usa seus pesos para comprar dólares na bolsa ou outros mercados.

Para minimizar esses efeitos, a Comissão Nacional de Valores, órgão federal que regula o mercado de capitais, divulgou nesta sexta uma série de novas regras para a venda de títulos regidos por leis estrangeiras. Quem opera nesse segmento só poderá obter dólares cinco dias após a conclusão das operações.

O objetivo é desacelerar a compra da moeda e, consequentemente, os preços. Além disso, as autoridades intensificaram as operações policiais nas ruas contra o mercado paralelo, o que paralisou a venda de dólares nesta quinta (5) e também pressionou o valor da moeda no momento da reabertura nesta sexta.

Naquele dia, a Alfândega, a Receita e a Polícia Federal, por exemplo, realizaram 51 operações de busca e apreensão em bancos, escritórios de contabilidade e companhias de várias regiões da Argentina. A suspeita é que 176 empresas tenham falsificado informações para simular importações fictícias e retirar US$ 400 milhões do país.

O economista Galará, porém, afirma que as medidas são paliativas e simbólicas: "É como querer parar o narcotráfico detendo um consumidor recreativo ou um pequeno vendedor", diz. "Mas atende à necessidade de acalmar um pouco o mercado considerando que as eleições são em duas semanas."

As perspectivas são de que o dólar, e portanto a inflação, subam ainda mais depois do primeiro turno de 22 de outubro. Foi o que ocorreu em agosto, depois do triunfo inesperado de Javier Milei e de uma desvalorização parcial do peso promovida por Massa, atendendo a uma exigência do FMI para liberar empréstimos. Parte das vendas chegaram a ser paralisadas, já que não havia referência para os preços.

Finalizado o mês, contou-se uma alta de 12,4% no índice geral de preços —somando 124% em um ano—, o que é considerado altíssimo até para os padrões argentinos. As expectativas são de que o número de setembro, que será divulgado na próxima quinta (12), também não fique muito atrás, gerando mais notícias negativas para o ministro da Economia.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.