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Fiscal ainda é o maior risco do Brasil, diz vice-presidente da Moody's

Para Samar Maziad, reformas podem ajudar a devolver selo de bom pagador ao país

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São Paulo

A vice-presidente e analista-sênior de riscos soberanos da Moody’s, Samar Maziad, afirmou que o maior risco na avaliação de crédito do Brasil ainda é o fiscal.

Para ela, por mais que as perspectivas macroeconômicas tenham melhorado, o fato de o país ainda ter um dos maiores déficits fiscais em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) da América Latina impede uma melhora em sua nota de crédito.

Segundo dados do Banco Central, em agosto deste ano o déficit fiscal brasileiro era de 74,4% do PIB (Produto Interno Bruto). México e Colômbia têm uma defasagem menor, de 53% e 56%, respectivamente, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional). Já o Chile está com 38%.

Porém, se o Brasil seguir com as reformas fiscais, como o novo arcabouço, e com projetos para aumentar a arrecadação, a percepção da agência de classificação de risco pode mudar, diz a economista. "Para nós, é importante ver que o ritmo da consolidação fiscal e da melhoria do resultado fiscal é algo contínuo", disse nesta terça-feira (17), em evento da Moody's em São Paulo.

A analista da agência Moody's Samar Maziad, com roupa preta
Samar Maziad, vice-presidente e analista-sênior de riscos soberanos da Moody’s. Em evento no Brasil, a economista falou sobre a perspectiva de elevar a nota de crédito do Brasil. - Divulgação

Por enquanto, agência estima que a dívida do Brasil fique em 74% do PIB em 2023 e suba para 76% em 2024, estabilizando ao redor de 78% até 2026.

Samar também detalhou o processo que levaria a agência a elevar a nota brasileira. "Verificado o compromisso com a consolidação fiscal, construiríamos uma nova base [de análise] com uma perspectiva positiva. Então, viria o período de espera e de monitoramento para que essas novas expectativas desenhadas sejam atendidas. Em caso positivo, isso pode desencadear uma elevação de classificação."

Desde 2016, a nota atribuída ao Brasil pela Moody's é Ba2, a mesma que África do Sul e duas casas abaixo do grau de investimento, assim como as avaliações das agências Fitch e S&P. Mas, diferentemente das concorrentes, a Moody's não alterou a perspectiva para o país.

"Nunca tivemos uma perspectiva negativa [para o Brasil] durante os choques econômicos, como pandemia e guerra da Ucrânia. Agora, estamos tentando olhar para além do momento, para o que pode realmente levar o rating a um resultado positivo", disse Samar.

Entre 2015 e 2016, o Brasil perdeu o selo de bom pagador ante as três agências, piorando a crise econômica que assolou o país à época.

Com relação ao crescimento econômico, o país se destaca diante os pares, mesmo em um cenário de juros maiores em nações desenvolvidas, disse a analista. "O crescimento do Brasil não depende de exportação porque o que impulsiona a atividade é a economia doméstica. Por mais que o preço das commodities caia, o volume das exportações brasileiras pode aumentar."

Um menor fluxo de capital estrangeiro também não deve ter grande impacto, diz a economista. "O Brasil não depende fortemente de fluxos de capital para financiar um déficit em conta corrente ou um superávit em conta corrente. Então, os riscos externos são muito limitados no Brasil. Outros países estarão muito mais expostos a isso."

Selo de bom pagador

Em junho deste ano, a agência de classificação de risco S&P Global Ratings melhorou a perspectiva de longo prazo do Brasil de "estável" para "positiva", mas manteve a nota de crédito soberano de longo e curto prazo para o país em B, também a dois passos do grau de investimento.

Em julho, a Fitch elevou a nota do Brasil de BB- para BB, deixando o país a dois degraus do selo de bom pagador.

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