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Restaurantes cobram R$ 26 mil para reservar mesa na francesa Saint Tropez

Em Ibiza, na Espanha, só deita na praia quem pode pagar consumação mínima de R$ 5.300

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Madri

Uma mesa para jantar por € 5 mil (R$ 26,5 mil), uma gorjeta de € 500 (R$ 2.600) rejeitada por ser muito baixa, escolha de cliente baseada no quanto ele gastou da última vez, lista de frequentadores que não dão gorjetas.

Após uma série de notícias escandalosas a respeito de práticas abusivas nos restaurantes de Saint Tropez, a prefeita Sylvie Siri resolveu, no mês passado, espalhar pela cidade litorânea francesa adesivos conclamando a população a denunciar quando se sentirem extorquidos.

Questionada pela Folha a respeito dos adesivos e de sua eficiência, a prefeitura de Saint Tropez não respondeu. Mas o jornal local Nice Matin tem publicado denúncias desde o início do ano.

Imagem mostra mesas e cadeiras dispostas em um restaurante à beira da praia. Ao fundo é possível ver o mar. O piso e o teto do restaurante são feitos de madeira.
Restaurante de praia Les Graniers, em Saint-Tropez - Divulgaçao/ Les Graniers

Saint Tropez, como se sabe, não é uma cidadezinha de praia qualquer. Durante a segunda metade do século passado, foi um dos refúgios de verão favorito de estrelas do jet-set europeu.

Agora, a nova onda na praia de Pampelonne, coalhada de clubes para ricaços, são esses restaurantes inacessíveis —o que não apenas irrita os visitantes de verão, mas torna impossível a frequência dos moradores locais.

Segundo o Nice Matin, o exemplo "mais cataclísmico" de 2023 foi dado por um comerciante local revoltado. Segundo contou, ele recebeu um folheto que especificava que em 21 de julho haveria comemorações devido ao Dia Nacional da Bélgica.

O preço de uma mesa considerada premium era de € 100 mil. Esse folheto, no entanto, não foi mostrado pelo jornal nem o comerciante foi identificado.

Uma segunda testemunha, também não identificada, falou em valores bem mais baixos, mas igualmente absurdos. De acordo com ela, uma reserva custava € 5.000. Se o cliente não fica satisfeito com o preço, não tem mesa. Outra tática é a consumação mínima de € 1.500 (R$ 8.000) por pessoa.

Mais complicada é a denúncia de que os restaurantes estão fazendo listas de clientes com dados de quanto gastaram nas últimas vezes. Uma fonte que trabalha num desses restaurantes de celebridades explicou que se requisita nome e sobrenome, verifica-se se o cliente é cadastrado, quanto já gastou, se pediu bebidas e até se pagou gorjetas.

A gorjeta, que na França não é obrigatória, mas costuma ser de 15%, é outro ponto de atrito. Há relatos de que uma gorjeta de € 500 foi considerada insuficiente. Um cliente, que vê assédio nas condutas, disse que pedem até 20%.

Não é só na França que os turistas têm sido achacados por comerciantes locais. As ilhas Baleares, na Espanha, dão um exemplo claro do descompasso. Se em Palma de Mallorca alugar um guarda-sol com duas cadeiras costuma sair por € 25 (R$ 133), em Ibiza os preços chegam a € 200 (R$ 1.000).

Mas isso não é tudo. Para conseguir um lugar, é preciso pagar uma consumação mínima de € 1.000 (R$ 5.300), o que vai contra as leis do local. O governo da ilha, inclusive, estabelece um limite de € 10 (R$ 53) para a cobrança de cada cadeira ou de um guarda-sol.

Também regula que parte da praia deve estar livre para que banhistas levem seu próprio equipamento. Nenhuma dessas obrigações são cumpridas, no entanto. Neste ano, só o distrito de San Josep, em Ibiza, aplicou 130 multas, arrecadando um valor superior a € 360 mil (R$ 1,9 milhão).

"Não tinha avaliado a extensão do fenômeno", admitiu a prefeita de Saint Tropez, ciente da má publicidade que essas histórias acarretam, acrescentado que elas se resumem a "alguns restaurantes chiques".

Mesmo assim, as reclamações aumentaram para três ou até quatro por dia no alto da temporada. "Devemos mostrar aos nossos visitantes que não somos solidários com essas práticas. De qualquer forma, encontraremos os donos de restaurantes no final da temporada", comentou, lembrando que há formas de pressão controladas pela prefeitura, como a permissão de mesas nas calçadas ou a autorização para encerramento tardio.

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