Descrição de chapéu América Latina

Vinho tem menor produção mundial em 60 anos; Brasil registra queda de 30%

Estimativa de organização internacional aponta que Chile e Argentina tiveram redução de mais de 20%

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Paris | AFP e Reuters

A produção mundial de vinho caiu este ano para o seu nível mais baixo em seis décadas devido a uma sucessão de geadas, secas e chuvas torrenciais, com quedas significativas na América do Sul e na Espanha, de acordo com estimativa da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho) publicada nesta terça-feira (7).

O volume global caiu 7% em 2023 em relação ao ano passado, de acordo com as primeiras estimativas da OIV para o ano. No Brasil, a queda foi de 30%, segundo os dados preliminares.

Copos com vinho branco
Produção mundial de vinho cai 7% em relação ao ano passado - Susannah Ireland - 16.out.2023 / Reuters

Nas projeções iniciais, a OIV fixou a produção mundial de vinho, excluindo sucos e mostos, entre 241,7 milhões e 246,6 milhões de hectolitros (mhl), com uma estimativa intermediária de 244,1 mhl.

O número esperado é o menor desde 1961, quando caiu para 214 mhl, informou a OIV. Um hectolitro é o equivalente a 133 garrafas de vinho padrão.

A França manteve sua produção estável e voltou a ser o maior produtor mundial em volume, à frente da Itália, onde a produção caiu 12%, e da Espanha (redução de 14%).

Todos os grandes países sul-americanos produtores de vinho registraram uma queda significativa na produção em relação a 2022.

No Chile, o maior produtor do hemisfério sul, o volume de vinho é 20% menor do que o pico do ano passado e 18% menor do que a média registrada por um período de cinco meses. A colheita foi gravemente afetada por incêndios florestais e secas.

Nos vales do centro do Chile, terra do Carmenere, Cabernet Sauvignon ou Merlot, os produtores de vinho colhem à noite, recorrem ao esterco de cavalo e resgatam antigas técnicas para enfrentar a falta de água e as mudanças climáticas.

Após mais de uma década de seca, os viticultores dos vales de Colchagua e Cachapoal, uma das regiões com maior produção de vinho no Chile, a cerca de 200 km de Santiago, aprenderam a conviver com menos água.

"Estamos voltando a práticas que provavelmente tínhamos antes, mas em uma escala maior e de forma sistemática", disse Soledad Meneses, chefe de comunicações da vinícola Conosur, subsidiária da Concha y Toro, o maior produtor da América Latina, à AFP em agosto.

Também afetada por geadas na primavera e granizo, a produção de vinho da Argentina atingiu apenas 8,8 milhões de hectolitros (-23%). Isso representa um dos volumes mais baixos registrados em sua história.

A produção também caiu fortemente no Brasil (-30%) e no Uruguai (-34%), de acordo com as primeiras estimativas da OIV.

Entre os outros grandes produtores de vinho do hemisfério sul, a Austrália teve uma queda de 24% na produção e a África do Sul de 10%.

A Espanha continua sendo o terceiro maior produtor mundial, com um volume estimado de 30,7 milhões de hectolitros, o mais baixo dos últimos 20 anos, devido a uma grave seca e temperaturas extremas que afetaram fortemente as vinhas.

Fenômenos diversos

Os fenômenos que afetaram as videiras este ano são diversos e ainda não foi comprovado que estão diretamente relacionados às mudanças climáticas, afirmou Iñaki García de Cortazar-Atauri, do instituto de pesquisa agrícola Inrae.

As consequências das fortes chuvas na Itália, por exemplo, também estão relacionadas à artificialização das terras, disse Cortazar-Atauri.

O especialista alerta que foi constatado que "cada vez mais há fenômenos extremos recorrentes", como ondas de calor ou chuvas torrenciais em determinadas áreas, além de pragas conhecidas há muito tempo, como o míldio.

Espera-se que a produção total de vinho alcance entre 241,7 e 246 milhões de hectolitros, de acordo com as informações coletadas pela OIV em 29 países que representam 94% da produção mundial.

Se houve redução drástica na América do Sul e parte da Europa, outros países registraram aumento na produção, começando pelos Estados Unidos (alta de 12%), que manteve sua posição como o quarto maior produtor mundial, beneficiado por a temperaturas frescas e chuvas abundantes no inverno nas regiões das vinícolas de Napa e Sonoma.

No entanto, a queda na produção não é necessariamente uma má notícia, segundo a OIV. "Com um consumo mundial em declínio e estoques elevados em muitas regiões do mundo, a baixa produção prevista pode reequilibrar o mercado mundial", afirma a organização.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.