Aumento do ritmo de corte da Selic volta ao radar do mercado

Economistas esperam que Copom reduza Selic em 0,5 ponto, a 11,75%, na última reunião do ano

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Brasília

A possibilidade de o Banco Central acelerar o ritmo de corte de juros em 2024 voltou ao radar dos economistas com a redução dos riscos externos, o câmbio mais favorável e a perspectiva de queda das projeções de inflação para os anos seguintes.

Para o último encontro do ano, na quarta-feira (13), há consenso de que o Copom (Comitê de Política Monetária) fará um novo corte de juros de 0,5 ponto porcentual, levando a taxa básica (a Selic) para 11,75% ao ano.

A expectativa é que a decisão venha acompanhada de uma mensagem branda no comunicado.

Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil.
Membros do Copom (Comitê de Política Monetária) reunidos na sede do Banco Central - Raphael Ribeiro - 2.ago.23/Divulgação/BCB

Economistas ouvidos pela Folha estimam que o alívio registrado no ambiente internacional desde a última reunião, em novembro, dê mais conforto para o BC seguir sua estratégia pela quarta reunião consecutiva.

Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, destaca que os juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, os chamados Treasuries, cederam significativamente e que se consolidou uma visão do comportamento mais benigno da inflação global.

Esse cenário colaborou para a apreciação cambial —o dólar encerrou as negociações na sexta-feira (8) cotado a R$ 4,929, ante R$ 5 no cenário de referência do Copom na última reunião.

Como a taxa de câmbio impacta diretamente o modelo usado pelo BC, as projeções de inflação para 2024 e 2025 devem vir mais baixas. Nos cálculos de Damico, o índice deve recuar em torno de 0,1 e 0,2 ponto porcentual. Na última reunião, as estimativas do Copom situavam-se em 3,6% em 2024 e 3,2% em 2025.

Apesar das projeções mais baixas, o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman espera que o Copom ressalte que as estimativas ainda estão acima do centro da meta de inflação (3%), justificando a posição de segurar os juros em terreno contracionista —acima do neutro (que não estimula nem desestimula a economia).

Na visão dele, a melhora no câmbio "ajuda, mas não é a salvação da lavoura".

Entre os "ventos favoráveis", os economistas citam a continuidade do processo de desinflação e a materialização da desaceleração da atividade econômica —ainda que o último dado do PIB (Produto Interno Bruto) tenha surpreendido, com crescimento de 0,1%.

Para Daniel Karp, economista sênior do Santander, houve "um conservadorismo um pouco exacerbado por parte do BC na questão do risco global" no encontro passado e um receio prematuro com a situação.

Embora espere que o Copom reconheça a melhora no ambiente externo, ele diz acreditar que o tema ainda será tratado com cautela.

Karp também ressalta que o colegiado do BC poderia ser mais enfático quanto à melhora da inflação corrente e classifica como "conservadora" a afirmação de que o processo tem ocorrido conforme o esperado, uma vez que a autoridade monetária vem sendo surpreendida em suas projeções.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) registrou desaceleração a 0,24% em outubro.

Com isso, ficou em 4,82% no acumulado de 12 meses —próxima do teto da meta (4,75%). O dado de novembro será divulgado nesta terça (12), dia da primeira sessão do Copom.

Na próxima reunião, a atenção do mercado estará voltada, sobretudo, à sinalização dos próximos passos.

Desde agosto, quando o colegiado do BC iniciou o ciclo de afrouxamento da política monetária, o Copom tem dito que "os membros do comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões".

Essa indicação corresponde a dois encontros subsequentes. Enquanto uma fatia do mercado financeiro espera a repetição da mensagem, outra parcela prevê um ajuste na comunicação com o objetivo de antecipar mudanças no plano de voo.

"Uma forma de deixar a porta aberta para aceleração do pace [ritmo], sem criar muitos ruídos, é trocar o plural de ‘próximas reuniões’ pelo singular. Assim, o mercado entende que [o indicativo] é só para janeiro", diz Damico, que vê possibilidade de um corte de 0,75 ponto porcentual na segunda reunião de 2024, em março.

Já para o economista do Santander, há uma probabilidade pequena de o BC aumentar o ritmo de corte de juros no ano que vem.

"Cada vez que ele [Copom] vai avançando no passo de 0,5 ponto porcentual, mais difícil fica de acelerar [o ritmo de cortes], porque já está mais próximo da taxa [terminal]", diz Karp.

Para mudar seu cenário-base, ele diz que é preciso que se consolide de maneira mais significativa a melhora do ambiente global, que a atividade econômica perca ainda mais força e que as expectativas de inflação caminhem em direção às metas perseguidas pelo BC.

Entre os fatores de risco para alta da inflação, alguns economistas citam a resiliência do mercado de trabalho. No trimestre até outubro, a taxa de desemprego do Brasil recuou a 7,6% e o contingente da população ocupada com algum tipo de trabalho foi estimado em 100,2 milhões, de acordo com o IBGE.

O professor associado da UnB (Universidade de Brasília) José Luis Oreiro considera que os dados não refletem a realidade do país e fala em "desemprego disfarçado", com trabalhadores subutilizados.

Ele também diz que o último resultado do PIB coloca "um pouco de água morna na banheira", mostrando que a economia está perdendo tração.

Para Oreiro, o fraco investimento das empresas em capacidade produtiva e a queda do vigor da indústria de transformação são sinais claros de fraca demanda.

Na visão dele, isso seria suficiente para o colegiado do BC fazer um corte de 0,75 ponto porcentual já no próximo encontro do Copom —cenário que não espera que se concretize.

"Eu gostaria que o Copom acelerasse [o ritmo de corte], não creio que vá. É uma discussão que vai ganhar força no primeiro semestre de 2024, quando vierem os dados do primeiro trimestre, que podem ser de crescimento negativo", diz.

"Até porque não vamos ter a contribuição extremamente positiva do agronegócio no PIB por conta do El Niño [fenômeno climático]", afirma.

Outra divergência entre os economistas se refere ao cenário fiscal. Damico vê avanço na questão, com a tramitação no Congresso da Reforma Tributária e aprovação de medidas com potencial de aumentar a arrecadação do país.

Já Schwartsman diz que a incerteza fiscal continua, diante da possibilidade de o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alterar no ano que vem a meta de déficit zero, mas que o BC "vai se fazer de sonso" para a questão.

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