Descrição de chapéu Congresso Nacional

Loterias da Saúde e do Turismo ficam no papel por falta de regulamentação da Fazenda

Ministério diz avaliar implicações do texto das apostas esportivas, aprovado nos últimos dias

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Brasília

A aprovação pelo Congresso do projeto de lei que regulamenta as apostas de quota fixa, como as bets, ampliou a indefinição do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre novas modalidades de loterias que estão previstas em lei desde 2022 e que nunca saíram do papel por falta de regulamentação.

São as chamadas Loterias da Saúde e do Turismo, que foram aprovadas no Legislativo a partir de uma proposta do então deputado Capitão Wagner (União Brasil-CE) e sancionadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A previsão era de que os recursos arrecadados com as apostas, com dedução de impostos e do valor do prêmio, fossem destinados para o FNS (Fundo Nacional de Saúde) e para a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo). Prêmios não reivindicados pelos vencedores também iriam para os órgãos.

Fila de apostas em loteria de São Paulo
Fila de apostas em loteria de São Paulo - Rubens Cavallari - 21.out.2020/Folhapress

A medida foi aprovada ainda com o objetivo de financiar políticas pública aos setores impactados pela pandemia da Covid-19.

O responsável pela regulamentação dessas loterias é o Ministério da Fazenda, que foi procurado pela Folha antes e depois de a Câmara aprovar na madrugada desta sexta-feira (22) o projeto relativo às bets —que já havia passado pelo Senado e, agora, aguarda sanção de Lula.

Em sua primeira resposta, a Fazenda disse que após a aprovação da lei relativa às bets definiria se faria a regulamentação das Loterias da Saúde e do Turismo ou se apresentaria uma proposta de alteração no texto da lei de 2022.

Após a votação do Congresso, informou que "a área técnica do Ministério da Fazenda está avaliando as implicações do texto aprovado". "Essa avaliação será concluída somente após a liberação, pela Câmara dos Deputados, do texto consolidado", afirmou, em nota.

Além da falta de regulamentação, a lei que cria as novas loterias acabou questionada no STF (Supremo Tribunal Federal) pelo PV, partido que integra federação com o PT.

O caso ficou sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, que ainda não apresentou decisão sobre o tema.

O partido pediu em setembro que a lei sancionada por Bolsonaro fosse suspensa, argumentando que o texto poderia abrir caminho para a gestão de loterias por empresas privadas sem procedimento licitatório.

Haveria, na contabilidade do partido, 95% de lucro para a empresa operadora da loteria, e somente 5% destinado à Embratur ou à FNS.

"Questiona-se a necessidade de existência de loteria se 95% de todo o lucro aferido terá fim particular e não público. Qual o fim público, qual o interesse coletivo que estará a ser atendido se somente 5% do lucro aferido seria destinado à sociedade?", questionou o partido, em ação assinada pela advogada Vera Lúcia da Motta.

Instadas por Moraes a se manifestarem sobre o processo, a AGU (Advocacia-Geral da União) e a PGR (Procuradoria-Geral da República) discordaram do PV.

A AGU, em manifestação assinada pelo ministro Jorge Messias, afirmou que o percentual apontado pelo PV corresponde ao montante final líquido, que é destinado ao custeio e manutenção do operador das loterias e que "tal forma de cálculo busca balancear os interesses que recaem sobre as operações de loterias".

Isso permitiria "que os jogos arrecadem valores que atendam às finalidades específicas com turismo e saúde e, simultaneamente, assegurem a viabilidade financeira para os operadores das loterias".

Também disse que a ausência de previsão impressa de procedimento licitatório não implica em dispensa do certame para sua concessão ou para a permissão dos particulares.

No dia 13 de dezembro, a então procuradora-geral interina Elizeta Ramos também se manifestou contra o pedido do PV.

Segundo ela, a "complexa estrutura de cálculo e de deduções precisa ser compatibilizada com a manutenção do interesse nas operações de loteria". Ramos também cita necessidade de "uma busca pela equalização dos objetivos de obter recursos para a saúde e para o turismo e viabilidade financeira para agentes operadores".

O projeto de regulamentação das bets aprovado pelo Congresso também estabelece a destinação da arrecadação para algumas áreas do governo.

A proposta havia sido apresentada inicialmente pela Fazenda como MP (medida provisória), mas diante da disputa entre Câmara e Senado sobre a tramitação de MPs, o tema passou a ser discutido via projeto de lei. O texto passou por diversas mudanças.

As bets foram autorizadas por meio de lei criada no final de 2018, ainda sob o governo Michel Temer (MDB). Após essa etapa, o tema precisaria ter sido regulamentado pelo Executivo, o que não aconteceu durante os quatro anos de governo Bolsonaro.

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