Renault anuncia investimento de R$ 2 bi para produzir SUV médio no Paraná

Empresa busca recuperar rentabilidade após anos focada em modelos populares; aporte está vinculado à igualdade de condições competitivas

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São José dos Pinhais (PR)

A Renault anunciou nesta segunda-feira (4) um investimento de R$ 2 bilhões para produzir um novo SUV de porte médio no Paraná. O carro terá versões "flex hybrid", cuja motorização irá conciliar etanol, gasolina e eletricidade.

A divulgação do aporte foi feita na fábrica da montadora, em São José dos Pinhais (PR), durante cerimônia que celebrou os 25 anos da unidade. Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, esteve presente no evento.

O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin durante visita a fábrica da Renault em São José dos Pinhais (PR) - Cadu Gomes/VPR

Luiz Fernando Pedrucci, CEO da Renault na América Latina, disse que toda aprovação de investimento equivale a vencer uma batalha. Contudo, o executivo ressaltou que espera a manutenção de um cenário competitivo saudável, sem regulamentações que ajudem apenas a alguns fabricantes.

"O que anunciamos até agora tem por base as regras vigentes. Não podemos ter no mercado empresas beneficiadas por regras diferentes", disse o executivo.

Em entrevista concedida pouco antes da cerimônia com Alckmin, Pedrucci afirmou que Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil, tem a missão de lutar pela manutenção da igualdade de condições no mercado nacional. Sem isso, os planos de investimento poderiam ser revistos.

A fala do CEO na América Latina remete à recente prorrogação dos incentivos fiscais para empresas que produzem nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Os principais beneficiados são o grupo Stellantis, que tem fábrica em Pernambuco, e a chinesa BYD, que vai montar seus veículos híbridos e elétricos na Bahia.

Já o presidente da Renault do Brasil afirmou que o total de aportes entre 2021 e 2025 chegam a R$ 5,1 bilhões no país. O valor inclui o compacto Kardian, que chegará ao mercado em março de 2024. O preço deve partir de, aproximadamente, R$ 100 mil.

O modelo terá motor 1.0 turbo flex e câmbio automático. Sua base é a plataforma modular da geração atual do Sandero, vendido em mercados europeus.

Localizado em São José dos Pinhais (PR), o Complexo Industrial Ayrton Senna tem quatro fábricas distribuídas em 2,5 milhões de metros quadrados. Há capacidade para produzir 320 mil automóveis por ano, com 5.300 funcionários diretos da Renault.

Hoje, as linhas de montagem trabalham em dois turnos incompletos, segundo Gondo, sendo possível produzir em até três turnos. O executivo acredita que os futuros lançamentos irão reduzir a ociosidade.

A planta completa 25 anos de atividades neste ano, e o novo SUV médio será o carro nacional mais caro da marca francesa. Os valores iniciais devem ficar acima de R$ 150 mil.

Os investimentos em novos produtos buscam recuperar a rentabilidade e o prestígio conquistado no início da produção nacional. O primeiro modelo feito no Paraná foi a minivan Scénic, lançada em março de 1999 —a produção teve início no fim de 1998.

O modelo conquistou muitos clientes que, até então, compravam sedãs e peruas de porte médio. No primeiro ano de mercado, foram vendidas 33 mil unidades.

Logo em seguida veio o Renault Clio nacional, que, inicialmente, trazia airbags frontais em todas as versões. As opções mais caras vinham com forração aveludada nos bancos e sistema de som com comandos junto ao volante, algo raro entre os compactos da época.

Mas a marca francesa passou por maus momentos ao nacionalizar a linha Mégane, que chegou em 2006 como segunda geração.

Os modelos médios estrearam com motorização 1.6 flex e câmbio manual, mas o mercado já havia se voltado para sedãs médios com caixa automática. Honda Civic e a Toyota Corolla já estavam consolidados e o novo Renault, embora mais equipado, não fez o sucesso esperado.

A virada da marca teve início no ano seguinte, quando o sedã popular Logan entrou em produção. Simples e espaçoso, adotava soluções como retrovisores externos que poderiam ser instalados em qualquer lado da carroceria, o que reduzia custos de produção.

O hatch compacto Sandero estreou seis meses depois, em dezembro de 2007, com a mesma proposta de cabine ampla por preço mais acessível. Fez sucesso por anos, mas a retração do mercado registrada a partir de 2013 fez a rentabilidade cair.

Agora a marca pretende recuperar as perdas com uma estratégia focada em menor volume de vendas, mas concentrada em produtos de maior valor agregado.

Apenas o Kwid vai permanecer como modelo de apelo popular na montadora, com vendas cada vez mais voltadas para frotas, principalmente de locadoras.

Luiz Fernando Pedrucci, CEO da Renault na América Latina, disse que os investimentos também estão mantidos na Argentina, independentemente dos caminhos que serão tomados pelo presidente eleito, Javier Milei, que toma posse neste domingo (10).

Pedrucci afirmou que a empresa enxerga a região como uma terra de oportunidades, estando acostumada às turbulências políticas e econômicas.

"Comemos turbulência no café da manhã desde criança", disse o executivo.

O jornalista viajou a convite da Renault do Brasil

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