Transportadoras acumulam cargas em aeroportos de SP com greve de fiscais e temem danos

Associação do setor estima que 280 toneladas de cargas estejam paradas em Guarulhos e Viracopos

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São Paulo

Empresas de remessas expressas que utilizam os principais aeroportos de São Paulo afirmam que suas cargas estão acumuladas nos terminais por causa da paralisação dos fiscais da Receita que interrompeu a liberação das encomendas na semana passada.

A estimativa da Abraec (associação do setor) é que mais de 280 toneladas de cargas estejam paradas nos armazéns da Receita nos aeroportos de Guarulhos, Grande São Paulo, e Viracopos, em Campinas (SP).

Gigantes do setor, como DHL e UPS, dizem temer danos nas mercadorias em decorrência de chuva, por exemplo.

"Nossos galpões ficam abarrotados, e os contêineres passam a ser armazenados do lado de fora. Se der uma grande chuva e bater na carga que não podia molhar, a gente perde um contêiner inteiro", afirma Alan Falbo, responsável pelos processos formais de importação, exportação e aduanas na DHL Express.

Movimento no terminal de cargas do aeroporto de Viracopos em Campinas (SP)
Movimento no terminal de cargas do aeroporto de Viracopos em Campinas (SP) - Pedro Amatuzzi - 4.mar.16/Folhapress

As empresas afirmam também que, com o armazém cheio, não será mais possível acomodar novas cargas que chegam aos aeroportos. Procurada pela Folha, a Receita Federal disse que não comentaria o assunto.

Segundo Carlos Murilo Silva, do FedEx, a atual situação nos terminais de carga em São Paulo pode, futuramente, afetar a operação dos voos e prejudicar a exportação de pequenas e médias empresas, principalmente.

"Nós não temos mais espaço para armazenar essas cargas, esse é o nosso desespero. Eu não posso pegar um contêiner e movê-lo para outro local, tem de ficar lá. Vai inflar tanto o espaço com carga que vai ter de começar a cortar voo", diz.

Em resposta à reportagem, a GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto de Guarulhos, disse que até o momento não registrou impacto na operação, e possui um protocolo predefinido para atuação em eventual necessidade.

A concessionária afirma que, no último trimestre de 2023, foram movimentadas, em média, 11 mil toneladas de cargas por mês em importação e 14,2 mil toneladas por mês em exportação.

O aeroporto de Viracopos não respondeu.

Sandra Simões, da UPS, afirma que a demora na liberação das cargas prejudica o modelo de negócio expresso, no qual o cliente paga maior taxa e tributação para que o produto chegue mais rápido.

"O nosso negócio está sendo extremamente prejudicado. A gente vende prazo. Na semana de 22 a 26 de janeiro, foram retidos 100% dos volumes. A gente está falando de transportadoras de grande porte que liberam, em média, por dia, mais de 10 mil pacotes."

Da segunda-feira à sexta-feira da semana passada, fiscais da Receita suspenderam o desembaraço de cargas em portos, aeroportos e outras unidades aduaneiras do país. O desembaraço é feito por auditores da Receita para verificar se a carga está apta para entrar ou deixar o país.

Segundo o Sindifisco (sindicato da categoria), durante o período, foram feitas liberações apenas de cargas perecíveis, vivas, perigosas, medicamentos e alimentos. Todo o restante ficou retido.

Os auditores cobram do governo federal a garantia do pagamento do bônus acordado em 2016. Além do salário, os fiscais receberiam a gratificação, que dependeria do cumprimento de metas.

O acordo deu origem à lei 13.464, que foi regulamentada em junho pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O Sindifisco reclama, porém, que o governo destinou, na previsão orçamentária, somente R$ 700 milhões para o cumprimento da lei —recurso insuficiente para o pagamento do bônus, segundo a entidade.

De acordo com o sindicato, em uma reunião com o Ministério da Fazenda nesta quinta-feira (1º), foi apresentada uma nova proposta para a categoria que será discutida em assembleia na próxima semana.

"Uma das principais demandas contempladas é a impossibilidade de o comitê gestor determinar o não pagamento da remuneração variável, mesmo quando as metas forem atingidas. Caso a categoria vote a favor da oferta, pode terminar a greve que já ocorre há mais de dois meses, além de ações de mobilização que duram cerca de dois anos", diz o sindicato, em nota.

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