Lula põe ministros de sobreaviso no fim de semana e pode discutir crise na Petrobras

Chefes das pastas ficarão de sobreaviso para reuniões neste sábado e domingo

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Brasília e Rio de Janeiro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá reunir ministros neste fim de semana para discutir a organização da equipe e a disputa na Petrobras. A sucessão na estatal poderá estar na pauta dos encontros.

Enquanto a tensão escala em Brasília, a cúpula da empresa, no Rio de Janeiro, vê o episódio como uma crise fabricada por uma ala do governo para minar a confiança de Lula no presidente da companhia, Jean Paul Prates.

Segundo um integrante do governo, os ministros ficarão de sobreaviso para encontros neste sábado (6) e domingo (7). As conversas no Palácio da Alvorada ainda não foram agendadas.

Lula durante reunião com ministros e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, no Planalto - Ricardo Stuckert - 3.nov.2023 / Presidência da República

Nesta sexta-feira (5), à noite, o ministro Paulo Pimenta (Secom) afirmou a jornalistas que não haverá reunião para tratará especificamente de Petrobras, tampouco negou que Lula tenha colocado auxiliares de sobreaviso.

Prates tem acumulado embates com o governo. O mais recente foi em março quando defendeu a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários e saiu derrotado após o conselho optar por reter os recursos.

Uma eventual saída de Prates voltou a ser mencionada após entrevista à Folha do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Ele reconheceu haver conflito entre seu papel e o do presidente da Petrobras.

Segundo aliados de Lula, o mandatário chegou a sondar, superficialmente, o presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, para a comandar a companhia.

No entanto, até a quinta-feira (4) um convite não havia sido formalizado. Entre interlocutores de Lula, há ainda quem defenda a permanência de Prates, embora sua saída seja apontada como "quase irreversível".

Neste sábado, Lula deve se encontrar com representantes de movimentos sociais. Na lista dos presentes, estarão, inclusive, sindicalistas da FUP (Federação Única dos Petroleiros).

Prates não está disposto a entregar o cargo. Em sua defesa, assessores destacam mudanças promovidas pelo executivo na política de preços dos combustíveis e na política de dividendos, que atenderam a anseios do governo sem grandes impactos nas ações.

Agora, após a mais nova crise envolvendo os recursos devidos aos acionistas, Lula, que participou das discussões na época para retê-los, deve voltar a analisar um possível pagamento dos valores.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates - Adriano Machado/Reuters

A avaliação na Petrobras é que o recuo na retenção dos dividendos em meio à queda das ações após rumores da saída de Prates comprova a tese da fabricação deliberada de uma crise.

Segundo essa tese, ao defender a retenção do dinheiro, em março, os ministérios de Minas e Energia e da Casa Civil, sob comando de Silveira e Rui Costa, ofuscaram a divulgação do balanço de 2023 da Petrobras, no qual a empresa registrou o segundo maior lucro da sua história.

O lucro líquido no ano passado foi de R$ 124,6 bilhões. Foram retidos R$ 43,9 bilhões dos dividendos extraordinários.

Agora, argumentam as pessoas próximas a Prates, o recuo, com a liberação do pagamento, suaviza os impactos no mercado da crise de imagem provocada pelas discussões sobre a troca no comando.

Prates vai se encontrar com Lula para debater seu futuro em reunião, ainda não agendada. De acordo com a coluna Mônica Bergamo, o presidente da Petrobras pediu audiência para conversar sobre o bombardeio disparado contra ele.

Há a possibilidade de o encontro ocorrer nesta segunda-feira (8). A interlocutores Prates negou que tenha dado um ultimato ao presidente da República, mas reclamou das frequentes críticas públicas de Silveira.

Assessores de Prates defendem que o saldo de sua gestão, até agora, é positivo, uma vez que a empresa não enfrentou grandes percalços quando decidiu "abrasileirar" os preços dos combustíveis nem quando cortou os dividendos pagos a acionistas, duas promessas de campanha de Lula.

No entanto, há questionamentos sobre a velocidade das obras da estatal. A Petrobras ainda não conseguiu deslanchar programa de apoio à indústria naval e não deve entregar grandes projetos de refino neste mandato petista.

Ainda assim, a cúpula da empresa vê nas frequentes crises uma disputa pelo comando da companhia.

Os atritos entre Prates e Silveira vêm desde o início da gestão, quando o ministro venceu a primeira batalha ao nomear três aliados ao conselho de administração.

Passaram por críticas públicas de Silveira a dificuldades para ampliar a oferta de gás natural, que depende da conclusão de novo gasoduto do pré-sal, e divergências em relação ao volume de investimentos direcionado à nova área de energias renováveis da empresa.

Ganharam tração no início deste ano, com esforço de Prates para retirar da presidência do conselho o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME, Pietro Mendes, nomeado ao ministério ainda no governo Jair Bolsonaro (PL) —a quem a cúpula da empresa acusa de segurar pautas relevantes.

Mais uma vez, o presidente da Petrobras perdeu a batalha: a lista de indicados do governo para renovação do conselho, que será avaliada em assembleia no fim deste mês, traz Mendes como candidato à presidência.

Nesses embates, segundo aliados de Lula, o presidente já teria demonstrado incômodo com Prates em ao menos um episódio anterior e mencionado em conversas no mês passado uma potencial troca de Prates por Mercadante.

O presidente teria ficado contrariado com tuítes disparados por Prates na rede social X (antigo Twitter), em meados de março, declarando que a orientação para reter os dividendos partiu do governo Lula.

A postagem na internet aumentou a polêmica em torno dos dividendos. Nesta quinta, Prates voltou ao X para ironizar sua possível saída do comando da companhia.

Contra o nome de Mercadante, pesa uma possível reação negativa do mercado —já que ele é visto por investidores como um quadro histórico do petismo e que pode, portanto, ter uma gestão mais intervencionista.

Os frequentes conflitos vêm atropelando a governança da empresa, ao criar "grave ruído" na sua comunicação com o mercado, nas palavras do presidente do presidente da Amec (Associação de Investidores no Mercado de Capitais), Fabio Coelho.

Nesta quinta, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu um processo administrativo para investigar a comunicação da companhia, diante dos vazamentos de informações relevantes por Brasília, e não em comunicados ao mercado, como exige a legislação.

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