Descrição de chapéu dólar

Bolsa fecha em alta discreta e dólar recua 0,1%; perdas da Petrobras somam R$ 47 bilhões

Papéis da Vale e de empresas ligadas ao setor frigorífico contiveram impacto das perdas da petroleira

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São Paulo

A Bolsa fechou em alta de 0,20% nesta quinta-feira (16), a 128.283 pontos, com a troca de comando da Petrobras e os números da inflação nos Estados Unidos ainda pesando sobre o sentimento do investidor. Já o dólar recuou 0,10%, cotado a R$ 5,130.

Os investidores ainda digeriam a demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras, que derreteu os papéis da estatal na sessão de quarta-feira (15) e levou à perda de R$ 34,7 bilhões em valor de mercado.

Nesta quinta, as quedas se estenderam: os preferenciais caíram 2,81% e os ordinários, 1,82%. A estatal, com isso, perdeu mais R$ 12,25 bilhões em valor de mercado no pregão, ou R$ 47 bilhões desde a saída de Prates.

O impacto no Ibovespa, porém, foi contido por ações de empresas do setor de frigoríficos e pela Vale, companhia que, ao lado da Petrobras, representa uma das maiores fatias do índice.

A troca de comando foi vista com preocupação por economistas, que temem interferência política na estatal.

"O mercado nunca gosta de ingerência política sobre empresas com negócios em Bolsa. Não será diferente desta vez, até porque Prates vinha se mostrando um conciliador entre mercado e política. O grande problema da empresa é refino: entra governo, sai governo, é sempre uma dor de cabeça", avalia Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos.

Para o posto de Prates, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou a engenheira Magda Chambriard, que comandou a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) no governo Dilma Rousseff (PT).

REUTERS

Com ela, a Petrobras terá o sexto presidente em três anos —um mau sinal para a petroleira. "Gera incerteza, e os investidores estrangeiros ficam ressabiados e vendem as ações."

A agenda esvaziada desta quinta ainda permitia que o mercado digerisse os dados de inflação ao consumidor dos Estados Unidos, ofuscados na véspera pelos imbróglios da Petrobras.

O índice de preços subiu 0,3% no mês passado, depois de avançar 0,4% em março e fevereiro, informou o Departamento do Trabalho. Nos 12 meses até abril, o índice teve alta de 3,4%, ante 3,5% em março.

Economistas consultados pela Bloomberg previam alta de 0,4% na base mensal e 3,4% na anual. O Fed trabalha com a meta de levar a inflação a 2% em 2024.

O resultado sugere que a inflação norte-americana retomou sua tendência de queda no início do segundo trimestre.

O dado é um importante indicador para calibrar as expectativas do mercado quanto à proximidade do primeiro corte na taxa de juros norte-americana, atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%, pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

"A tônica do mercado tem sido a dinâmica da inflação americana e como que o mercado de lá responde em termos de precificação de taxa de juros", avalia Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.

As apostas em dois cortes de 0,25 ponto percentual na taxa de juros pelo Fed este ano voltaram a crescer, com os investidores vendo uma chance de 72,4% de que o primeiro ocorra em setembro, mostrava mais cedo a ferramenta FedWatch da CME.

O presidente do Fed de Nova York, John Williams, porém, disse à Reuters que comemorou os dados mais fracos sobre a inflação ao consumidor, mas acrescentou que as notícias positivas não são suficientes para o banco central dos EUA cortar o juro em breve.

Em geral, quanto mais o Federal Reserve cortar os juros e quanto menos o BC afrouxar a política monetária local, melhor para o real. Isso porque, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e EUA, mais interessante fica a moeda doméstica para uso em estratégias de "carry trade", em que investidores tomam empréstimo em país de taxas baixas e aplicam esse dinheiro em mercado mais rentável.

Em relação à política monetária doméstica, os últimos dias têm sido de alívio, ainda que parcial, de temores em relação a possível mudança de perfil no Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, depois de uma decisão dividida na semana passada pela redução do ritmo de cortes da Selic. Todos os diretores indicados pelo governo votaram contra o corte aprovado de 0,25 ponto, pedindo a manutenção do ritmo anterior de 0,50.

Desde então, a ata do Copom e comentários de diretores nos últimos dias colocaram panos quentes nos temores do mercado, com os membros do colegiado indicados pelo atual governo reforçando o compromisso com o controle da inflação e justificando seu voto num corte de juros mais acentuado com o temor de desrespeitar a orientação futura do BC.

Em encontro anterior, a autarquia havia indicado que reduziria a Selic em 0,5 ponto percentual em maio.

"Apesar da ata ter vindo com um discurso melhor do que se esperava, em razão da votação acirrada, ainda existe muita incerteza com relação ao que será o novo Banco Central a partir de dezembro", diz Luives.

Na cena corporativa, o setor de frigoríficos subiu em bloco. Minerva liderou a coluna positiva, com alta de 9,38%, seguida por JBS, que estendeu ganhos da véspera a 4,63%. Marfrig avançou 4,44% e BRF, 3,29%.

"As ações seguiram o ânimo dos agentes com os bons resultados da BRF, se refletindo também sobre a Marfrig, que tem mais de 50% de participação na BRF. No caso da JBS, o destaque foi o resultado nos EUA, mesmo no topo do ciclo de alta do boi no país", diz Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Vale subiu 0,73%, em resposta aos futuros do minério de ferro da China. Por lá, o governo está considerando comprar imóveis não vendidos para estimular o mercado imobiliário, o que melhorou o sentimento dos investidores e as perspectivas de demanda pelo principal ingrediente da fabricação de aço.

Entre as quedas, CVC liderou com 6,98%, após renúncia do presidente do conselho de administração, Valdecyr Maciel Gomes. Azul perdia 6,27%, seguida por YDUWS (5,01%).

Na quinta, o dólar fechou com leve alta de 0,09%, cotado a R$ 5,125 na venda. Já a Bolsa recuou 0,38%, a 128.027 pontos.

Com Reuters

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