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Empresas de maconha nos EUA lucram mais vendendo cerveja do que a erva

Classificação da substância nos EUA limita negócios, e mercado se obriga a diversificar produtos para sobreviver

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Redd Brown
Bloomberg

A Tilray, que prometia abalar o mercado de álcool ao apostar no segmento de cannabis legal, agora depende cada vez mais da venda de cervejas. Uma esperada flexibilização nas leis dos Estados Unidos, conhecida como reclassificação, ainda está distante, deixando em vigor restrições nas vendas devido à classificação da maconha ao lado de drogas como LSD e heroína.

Isso levou as empresas de cannabis a buscarem outros negócios, incluindo álcool e cânhamo, contrariando promessas, como a da Tilray, de que o mercado capturaria gastos de cervejeiros, destiladores e vinícolas.

A imagem mostra várias garrafas de cerveja dispostas em uma prateleira. As garrafas têm rótulos azuis com um símbolo de folha de cânhamo em amarelo e a palavra 'turn.' em destaque. Abaixo, está escrito 'the hemp beer - original since 1996'. Algumas garrafas estão parcialmente visíveis, com a parte superior verde e tampas azuis.
Garrafas de cerveja de cânhamo, substância derivada da maconha, em uma loja na Alemanha - Michaela Stache - 22.fev.2024/AFP

"Os operadores de cannabis nos EUA estão fazendo tudo o que podem para gerar fluxo de caixa e se manter até conseguirmos a reclassificação," disse Scott Fortune, diretor-gerente da Roth MKM. "Se não conseguirmos a reclassificação, veremos mais eliminação e consolidação de muitos varejistas, marcas e operadores dentro da indústria."

No trimestre fiscal que terminou em maio, a Tilray mais que dobrou as vendas de álcool em relação ao ano anterior.

A empresa arrecadou US$ 76,7 milhões (R$ 434,4 mi), o maior valor de qualquer linha de produtos e cerca de US$ 5 milhões (R$ 28,3 mi) a mais do que arrecadou com a venda de cannabis. Esse foi o primeiro trimestre em que a Tilray gerou mais receita com bebidas alcoólicas do que com cannabis.

O otimismo de que os EUA mudarão sua posição sobre a maconha aumentou neste ano, quando a DEA (Administração de Controle de Drogas, na sigla em inglês) disse que estava revisando o status da droga no país. Joe Biden se manifestou a favor da mudança em maio.

As ações ligadas a cannabis subiram na segunda-feira (9) depois que o ex-presidente Donald Trump disse que apoia a mudança da classificação da droga de substância para uma categoria de baixo risco. A DEA ouvirá opiniões de especialistas sobre a classificação proposta em dezembro.

"Estou quase 100% confiante de que obteremos uma decisão positiva," disse Darren Weiss, presidente da Verano Holdings, em entrevista.

Para as empresas, a mudança significaria o fim de impostos onerosos cobrados por lidar com substâncias restritas —a Verano estima um fluxo de caixa adicional de cerca de US$ 80 milhões (cerca de R$ 453 mi) anualmente apenas com essa mudança. Isso potencialmente abriria caminho para legitimar a indústria, facilitando a operação como um negócio regular e melhorando o acesso a serviços financeiros.

Preparação para o futuro

Ainda assim, veteranos da indústria são cautelosos em depositar sua fé no governo dos EUA mudando de postura sobre a cannabis. Os atuais esforços de diversificação são uma tentativa de proteger os negócios independentemente do resultado.

"Eu nunca quero estar aqui esperando e dependendo da legalização pelo governo," disse o CEO da Tilray, Irwin Simon, em entrevista.

A Tilray foi além de seus pares para diversificar, adquirindo pelo menos 12 cervejarias nos EUA. No mês passado, adquiriu quatro cervejarias artesanais da Molson Coors.

O movimento carrega o risco de entrar em um mercado em declínio, já que cada geração está sucessivamente menos interessada em beber álcool do que a anterior. Cerca de metade dos jovens de 18 a 25 anos que responderam a uma pesquisa nacional disseram em 2023 que beberam no mês passado, em comparação com cerca de 60% em 2014.

"A cerveja não vai desaparecer," disse Simon, que também vê oportunidades de aproveitar as redes de distribuição das marcas de bebidas alcoólicas. "Meu objetivo é descobrir como tornar a cerveja legal de beber."

Alguns investidores, no entanto, são céticos. "Não acho que as marcas tenham peso suficiente para contradizer o perfil de receita decrescente desses produtos," disse Emily Paxhia, sócia-gerente da Poseidon Investment Management, que investe exclusivamente em cannabis.

Da mesma forma, a Verano não vê pastos mais verdes na venda de bebidas alcoólicas. "Álcool não está no nosso radar," disse Weiss. "É meio que o oposto do que fazemos em certos aspectos."

Mas tempos desesperados exigem medidas desesperadas. Até a Green Thumb, segunda maior empresa de cannabis em valor de mercado, considerou entrar no mercado de bebidas alcoólicas. Seu CEO e cofundador Ben Kovler cortejou abertamente a Boston Beer em uma carta postada no X (antigo twitter). A Green Thumb não respondeu aos pedidos de comentário.

As empresas de cannabis também começaram a vender produtos à base de cânhamo, algo que era evitado anteriormente.

A Canopy Growth, através de sua subsidiária Wana, anunciou seu primeiro produto intoxicante de cânhamo no mês passado para ser vendido através de um novo mercado direto ao consumidor. O cânhamo, primo da maconha usado para fazer bebidas e comestíveis intoxicantes, pode ser legalmente vendido e enviado nacionalmente devido a uma brecha na lei agrícola. Essa legislação será revisada ainda este ano.

"O risco de não fazer algo é muito maior do que o risco de se envolver," disse Joe Hodas, presidente da Wana, em entrevista. A empresa dona da Wana viu suas vendas encolherem por três anos consecutivos e seu valor de mercado diminuir para 562 milhões de dólares canadenses (R$ 2,3 bi) ontem, frente a 25,6 bilhões de dólares canadenses (R$ 106,4 bi) em fevereiro de 2021.

"A categoria de bebidas e a categoria de produtos formulados provavelmente serão a maior categoria no espaço da cannabis," disse o CEO da Curaleaf Holdings, Boris Jordan, em uma entrevista. Ele espera que seu negócio de bebidas, lançado em junho, gere US$ 100 milhões anualmente até o final de 2025.

Além dos benefícios fiscais de vender cânhamo, a fabricação pode ser centralizada e enviada entre estados, disse Jordan, enquanto a cannabis requer cadeias de suprimento estado por estado. Uma presença mais nacional significa mais exposição ao consumidor, mesmo em lugares sem mercados regulados de cannabis.

"Não houve grande valor de marca na cannabis, mas agora eles podem começar a construir sua marca nacionalmente e ainda lucrar com isso vendendo produtos de THC derivados do cânhamo," afirmou Fortune, da Roth MKM.

Ações castigadas, juntamente com os esforços de diversificação e expectativas de uma mudança nas regras, fizeram Wall Street apostar em uma recuperação da indústria.

Analistas têm apenas uma recomendação de venda entre 68 análises para cinco das maiores empresas de cannabis, enquanto seus preços-alvo implicam um retorno médio de 96%, após o grupo ter perdido cerca de 69% em valor de mercado nos últimos três anos.

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