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Respirando por aparelhos, Intel precisa de ações drásticas para retornar ao topo da fabricação de chips

Apenas medidas extremas podem reviver a campeã americana, que viu seu império encolher nos últimos anos

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The Economist

Desde sua fundação em 1968, a Intel tem sido sinônimo de encolhimento. Em seus primeiros 40 anos, isso era um grande elogio. Aproximadamente a cada dois anos a pioneira americana de chips lançava novos transistores com metade do tamanho dos anteriores, uma regularidade que ficou conhecida como a lei de Moore, em homenagem a um dos fundadores da empresa.

Assim, o dobro de chips cabia em uma pastilha de silício de tamanho semelhante —e podia ser vendido lucrativamente por um preço semelhante. Isso permitiu à Intel dominar o mercado de chips de memória e, depois, quando as "memórias" se tornaram commodities na década de 1980, os microprocessadores que impulsionaram a subsequente revolução dos PCs.

Hoje em dia, quando "Intel" e "encolhimento" são mencionados na mesma frase, já não é um elogio. Após uma sequência de dois resultados trimestrais desastrosos, o valor de mercado da empresa encolheu para US$ 84 bilhões (R$ 472,7 bi, na cotação atual), menos do que o valor de suas plantas e equipamentos, de mais de US$ 210 bilhões (R$ 1,1 tri) em janeiro.

A imagem mostra a fachada de um edifício da Intel, com um grande bloco azul exibindo o nome 'intel' em letras brancas. Um homem está caminhando em frente ao bloco, e ao fundo, há janelas reflexivas do edifício. A vegetação está presente ao lado direito da imagem.
Este ano, empresa já cessou dividendos e anunciou demissão de 15 mil funcionários em resposta à crise - Li Jianguo - 2.ago.2024/Xinhua

O apetite voraz do boom da IA (inteligência artificial) por silício impulsionou outras empresas de chips, mas as ações da Intel raramente estiveram tão baratas desde o final dos anos 1990. Ela pode estar prestes a ser expulsa do Dow Jones Industrial Average, possivelmente em favor da Nvidia, a campeã dos chips de IA.

No início de agosto, Pat Gelsinger, CEO da Intel, anunciou que sua força de trabalho de 125 mil funcionários também encolheria em mais de 15 mil postos. Assim como seus gastos anuais de capital, de mais de US$ 25 bilhões (R$ 140,6 bi) para apenas US$ 20 bilhões (R$ 112,5 bi), e seu dividendo anual, de US$ 3 bilhões (R$ 16,8 bi) para nada.

"Nossos custos são muito altos, nossas margens são muito baixas", escreveu Gelsinger em uma carta aos funcionários. O preço das ações contraiu-se em um terço nos dias seguintes. Os fãs de política industrial na administração Biden, ansiosos para reviver a fabricação de chips doméstica, teriam motivos para se preocupar com seu campeão nacional.

O futuro da Intel agora depende de um novo plano de reviravolta, que Gelsinger deve apresentar ao conselho nos próximos dias. Observadores da Intel esperam alguma combinação de mais demissões, a venda de um ou dois negócios periféricos e talvez o adiamento dos planos para uma fábrica de US$ 32 bilhões (R$ 180 bi) na Alemanha. Isso seria muito cauteloso. Para salvar a Intel, são necessárias mudanças mais radicais.

Gelsinger, que foi chefe de tecnologia da Intel antes de dirigir uma empresa de software em nuvem, não é totalmente culpado. Ele foi trazido de volta em 2021 para colocar a empresa nos trilhos após uma série de chefes não conseguirem perceber grandes mudanças que estavam remodelando a indústria.

No final dos anos 2000, os lucros gordos do negócio de PCs cegaram a Intel para a crescente demanda por chips de telefones móveis. Ela continuou a fabricar seus próprios processadores, mesmo quando os rivais se tornaram "fabless" —modelo de gestão que terceiriza a produção— e migraram para foundries —fábricas que desenvolvem chips para outras empresas— como a TSMC de Taiwan.

Repetidos erros de fabricação atrasaram o lançamento de novas CPUs (unidades centrais de processamento) e permitiram que a AMD, rival fabless que trabalha com a TSMC, roubasse participação de mercado. Ultimamente, a Intel perdeu completamente a ascensão dos chips especializados em IA que, antes de uma recente oscilação no mercado de ações, transformaram brevemente a Nvidia em um gigante de US$ 3 trilhões (R$ 16,8 tri).

A ideia original de reviravolta de Gelsinger centrava-se em segmentar a Intel em um estúdio de design fabless e a Intel Foundry Services (IFS). Desvinculada da produção interna, a unidade de design poderia escolher a melhor fábrica para seus propósitos. Desprovida de um cliente cativo, a IFS ganharia negócios por seus próprios méritos.

Tudo muito sensato, exceto que isso pressupunha a capacidade da Intel de continuar ganhando dinheiro com CPUs e recuperar a liderança da lei de Moore, que perdeu para a TSMC devido a esses erros de produção. Isso se mostrou, nas palavras de um analista exasperado, "delirante".

As receitas da Intel caíram de US$ 79 bilhões (R$ 444,5 bi) em 2021 para US$ 55 bilhões (R$ 309,5 bi) nos 12 meses até junho, à medida que a demanda cíclica por CPUs esfriou. Na IFS, avanços promissores não impediram os clientes de duvidarem de suas habilidades de fabricação.

A Reuters relatou recentemente que a Broadcom, designer de chips estimada em US$ 700 bilhões (R$ 3,9 tri), testou o processo da Intel e concluiu que ainda não está pronto para produção em larga escala. O único grande contrato da IFS é com sua unidade irmã —que, em um show de crueldade fraterna, encarrega a TSMC de seus produtos de ponta.

Gelsinger insiste que o novo processo de produção estará pronto no próximo ano. Os chips de ponta da Intel, então, segundo ele, voltariam para casa e clientes externos honrariam compromissos de compra no valor de US$ 15 bilhões (R$ 84,4 bi) que a IFS afirma ter garantido. Essas receitas, mais as economias de custos, vendas de ativos, US$ 8,5 bilhões (R$ 47,8 bi) em subsídios e até US$ 11 bilhões (R$ 61,9 bi) em empréstimos do governo americano, trariam o dinheiro necessário para a IFS saltar para a vanguarda e atrair pedidos. Um dia, quando puder se sustentar, a IFS pode ser desmembrada.

Uma resposta 'menos Pat'

Isso tudo subestima o estado terrível da Intel. O fluxo de caixa livre (restante após qualquer gasto de capital), que antes era saudável em mais de US$ 10 bilhões (R$ 56,2 bi) por ano, tornou-se profundamente negativo em 2022 e piorou desde então.

Acordos com um par de gestores de ativos privados para co-investir de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões cada em duas fábricas de chips ajudaram, mas apenas um pouco. Um líder mais decisivo poderia desistir de perseguir chips de IA, onde a Intel está desesperadamente atrasada, e vender toda a unidade de design para um rival fabless como a Broadcom ou Qualcomm. Isso recapitalizaria a fábrica sem a necessidade de vender ativos aos poucos ou irritar os alemães.

Os fabricantes de chips fabless têm interesse em ver a fábrica da Intel ter sucesso. Sem ela, eles dependeriam ainda mais da TSMC para os chips mais avançados. Deixar a Intel falhar seria tanto comercialmente tolo quanto arriscado, dada a possibilidade de a China invadir Taiwan. Há um precedente para contribuir.

Em 2012, a ASML arrecadou dinheiro de três grandes clientes —Intel, TSMC e Samsung— para uma nova geração de suas ferramentas de fabricação de chips. A Intel pagou US$ 3,1 bilhões (R$ 17,4 bi) por uma participação de 15%, a maior parte da qual vendeu até 2018. Hoje isso valeria cerca de US$ 50 bilhões (R$ 281,3 bi), equivalente a três quintos da Intel.

Potenciais apoiadores, notadamente gigantes da tecnologia como Amazon, Google e Microsoft, têm bolsos fundos e querem projetar mais de seus próprios chips de IA. A Intel tem expertise e engenheiros talentosos. Mesmo que não ofereça um retorno sobre o investimento semelhante ao da ASML, pode não ser uma má aposta.

Texto de The Economist, traduzido por Helena Schuster, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com

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